China critica nova doutrina para uso de armas nucleares dos EUA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A China disse nesta quarta (21) estar “seriamente preocupada” com o relato de que os Estados Unidos colocaram o rival asiático como prioridade na revisão de sua política de emprego de armas nucleares.

A atualização quadrienal do documento com a doutrina operacional americana foi aprovada pelo presidente Joe Biden em março. A Casa Branca confirmou a medida na terça (20), após publicação de reportagem do jornal The New York Times sobre o tema, mas se recusou a comentar detalhes.

Segundo o NYT, citando falas públicas de duas autoridades ligadas à área de segurança americana, os EUA ajustaram sua estratégia para a possibilidade de um ataque nuclear conjunto de Pequim, Moscou e Pyongyang, aliadas na Guerra Fria 2.0.

Segundo os especialistas, há preocupação com o crescente arsenal chinês, que segundo o Pentágono pode chegar ao nível de ogivas prontas para uso de Rússia e EUA em 2035.

“Os EUA estão vendendo a narrativa de uma ameaça nuclear chinesa, procurando desculpas para buscar vantagens estratégicas. A China está seriamente preocupada com o relatório”, afirmou a porta-voz diplomática Mao Ning a repórteres em Pequim.

Na véspera, a Casa Branca havia dito apenas que a revisão não se destinaria a nenhum país em especial, o que, por evidente, não é verdade.

A ascensão chinesa no campo é notória. Segundo a Federação dos Cientistas Americanos, que produz relatórios que são o padrão-ouro na avaliação desse setor, a China tinha 240 ogivas em 2012, quando o líder Xi Jinping chegou ao poder. Doze anos depois, tem 500.

Pequim insiste na ideia de que seu arsenal é puramente defensivo, com objetivo dissuasório.

A Rússia, por sua vez, sempre está no topo das preocupações americanas por ser a herdeira da União Soviética, que com os EUA dividiu a corrida armamentista da Guerra Fria. Ambos os países ainda retêm 90% das mais de 12 mil ogivas nucleares do mundo.

Mas o arsenal operacional, pronto para ser lançado por mísseis ou bombas, é limitado por um tratado ora suspenso por Vladimir Putin a 1.600 ogivas —o patamar que o Pentágono afirma ser o objetivo chinês.

A Coreia do Norte entra como ator lateral, com suas estimadas 50 ogivas. Em meio às ameaças nucleares americanas contra o país, em defesa de Seul após escalada no programa de mísseis da ditadura, o ditador Kim Jong-un estabeleceu um pacto de defesa mútua com Moscou.

Ainda que sempre haja interesse da área de defesa em manter suas gordas verbas, há uma conjuntura delicada no mundo em relação ao risco de um confronto nuclear.

Putin saca a carta atômica sempre que lhe é conveniente na Guerra da Ucrânia, e países como EUA e França começaram a passa recibo, levando a uma escalada de anúncios belicosos e exercícios de lado a lado.

Aliados dos EUA na Otan, como a Polônia, pedem mais armas táticas na Europa, de olho na instalação desses armamentos na Belarus por Putin. A China, além das preocupações com a península coreana e Taiwan, denuncia movimentos americanos como o fornecimento de submarinos nucleares à Austrália. Para tanto, aprofundou a cooperação militar com a Rússia.

Há o instável Oriente Médio, onde uma potência nuclear mal disfarçada, Israel, está envolvida em uma guerra que pode se tornar regional —batendo de frente com o Irã, que não tem a bomba, mas está perto de desenvolvê-la. Completando o quadro, a disputa histórica entre os nuclearizados Paquistão e Índia, com Islamabad aliada à China, grande rival de Nova Déli na Ásia.

IGOR GIELOW / Folhapress

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