BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – As Forças Armadas da China iniciaram exercícios militares que simulam um cerco à ilha de Taiwan, neste domingo (13, manhã de segunda-feira no horário local), dias após o presidente do território, Lai Ching-te, falar em discurso anual que não há relação de subordinação entre Pequim e Taipé.
Foram mobilizadas a Marinha, a Força Aérea e a Força de Foguetes, além de outros setores do Exército de Libertação Popular, para movimentos no Norte, Sul e Leste da ilha, além do estreito de Taiwan, com simulações de bloqueio de portos e ataques ao território.
Navios e aeronaves chinesas aproximam-se de Taiwan em “de diferentes direções”, com foco em patrulhas para combate no mar e e bloqueios de portos e áreas chave , disse o comando do Leste das forças chinesas.
Não foram anunciados, no entanto, exercícios de fogo real ou áreas de exclusão aérea. Em 2022, pouco depois da visita da então presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan, a China disparou mísseis sobre a ilha.
O discurso de Lai, seu primeiro do chamado “duplo dez”, o dia nacional de Taiwan e referência à data, 10 de outubro, é um dos mais importantes de um presidente da ilha além de seu discurso de posse esta ocorrida em maio deste ano.
Um mapa foi divulgado pela imprensa estatal chinesa mostrando área de ação no entorno da ilha e dentro do território neste domingo. A operação é chamada de Joint Sword 2024B a de maio tinha mesmo nome, mas com a letra A no fim, e mapa com zonas semelhantes delimitadas.
Naquela ocasião, Pequim promoveu exercícios semelhantes em torno da ilha e usou linguagem semelhante à deste ano para se referir a Taipé. Lai e seu partido são vistos como uma força política anti-China, em comparação com outras colorações partidárias da ilha mais abertas ao diálogo com Pequim.
Segundo um porta-voz do Exército chinês, os exercícios naquela ocasião, que duraram dois dias, eram “uma forte punição pelos atos separatistas das forças de ‘independência de Taiwan’ e um severo aviso contra interferências e provocações de forças externas”.
Desta vez, declaração divulgada fala que “o exercício serve como um severo aviso aos atos separatistas das forças de independência de Taiwan. É uma operação legítima e necessária para salvaguardar a soberania do Estado e a unidade nacional”. Não foi informada previsão de fim dos exercícios.
O administração de Taiwan condenou o que chamou de “ato irracional e claramente provocativo” da de Pequim acrescentando que deixou suas forças de segurança em prontidão.
De acordo com a guarda costeira chinesa, quatro frotas de suas embarcações estavam realizando inspeções e patrulhas nas águas ao redor de Taiwan.
Pequim considera a China continental e Taiwan duas partes de uma única China, motivo pelo qual declarações públicas dos presidentes da ilha são analisadas em cada vírgula e nas entrelinhas pela comunidade internacional.
Análises contam, inclusive, o número de vezes que a declaração menciona o nome República da China, expressão usada pela ilha para se referir a si mesma. (Lai usou o termo 11 vezes, acima das 10 ditas durante sua posse e acima das 7 usadas por Tsai Ing-wen, a ex-presidente, em seu último discurso “duplo dez”.)
Análise do think tank americano Council on Foreign Relations (CFR) indica que o discurso não trouxe qualquer inovação retórica, mantendo a linha discursiva do discurso de posse de Lai e pouco avançando no que o partido do presidente Partido Democrático Progressista (PDP) tem dito sobre a questão.
O ponto mais agudo sobre o tema, a negação da subordinação entre Pequim e Taipé, foi repetido por Lai, que já havia usado conceito semelhante em seu discurso de posse; Tsai, a ex-presidente, também já havia mencionado os termos.
GUILHERME BOTACINI / Folhapress