Christiane Torloni prepara autobiografia e um filme documental sobre sua mãe

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em cartaz em São Paulo com a peça “Dois de Nós”, ao lado de Antonio Fagundes, Christiane Torloni tem vários planos em andamento, entre eles o de escrever uma autobiografia, com histórias e imagens de sua carreira de cinco décadas na TV, no teatro e no cinema.

Na verdade, o trabalho já começou, mas a atriz lida com a falta de tempo para o livro, preparado em parceria com a escritora Lilian Fontes. “Estou vivendo”, justifica. “Já tenho algumas coisas escritas e estão lá fermentando, feito um bom vinho.”

A atriz também produz um documentário sobre a mãe, Monah Delacy, 95, atriz, diretora, escritora, artista plástica e uma das fundadoras do Teatro de Arena.

Ouvir Delacy ajuda a compreender o ativismo ambiental e a militância política da filha. Em 2019, em entrevista a Pedro Bial, a atriz veterana descreveu o momento como assustador e, emocionada, falou sobre a apatia da sociedade.

“As nossas bases, que construímos com tanto sacrifício, estão sendo corroídas. E eu não vejo, da parte da sociedade, raiva, revolta, vontade de ir para as ruas, sacudir, pegar esses corruptos e, enfim, eu sou meio melodramática”, disse.

Com o inconformismo que aprendeu em casa, Torloni produziu e dirigiu o documentário “Amazônia: O Despertar da Floresta”, lançado em 2019, em que discute a cidadania da floresta e defende a preservação ambiental e cultural.

Em conversa recente, a atriz ouviu do músico André Abujamra, responsável pela trilha sonora de “Dois de Nós”, que ela fez um filme sobre o futuro e o futuro chegou. “Queria que o meu filme fosse datado. Tudo o que dissemos está acontecendo”, afirma sobre a crise climática, com seca, inundações e queimadas pelo país.

Defensora da Amazônia e chamada de “ecochata” pela insistência no assunto, diz que a questão ambiental ocupa a vida dela de maneira insuportável. “A sensação de urgência queima a gente por dentro. Trabalho para reflorestar mentes. Ou muda o comportamento das pessoas, ou não adianta.”

Torloni critica os gases lançados na atmosfera pelas guerras e questiona o silêncio em torno da poluição produzida pela indústria armamentista.

Como Frans Krajcberg, defende o grito como forma de resistência à devastação. “Tenho simplesmente vontade de gritar. Se eu grito na rua, vão me trancar num hospital psiquiátrico. Então, é melhor criar novas obras”, declarou o escultor polonês radicado no Brasil e reconhecido por trabalhar com questões ambientais em sua arte.

A atriz também é defensora das pautas democráticas e foi uma das palestrantes do seminário sobre os 40 anos das Diretas Já, realizado pela OAB e Folha de S.Paulo em abril deste ano.

“Não vamos esquecer que a ditadura aconteceu. Você viu o 8 de janeiro? Quem viveu a ditadura sabe que não é brincadeira”, afirma sobre as ameaças de um novo golpe após a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições presidenciais.

Torloni recorda a censura e a perseguição aos artistas durante os anos de governo autoritário. “Isso não é lenda. Isso é história, é Brasil e somos nós. Temos que encarar todos os Brasis”. Ela não pretende parar de se posicionar sobre as causas em que acredita. “Fui criada assim. Não sei ser de outro jeito.”

CRISTINA CAMARGO / Folhapress

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