SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A tragédia causada pelas chuvas no Rio Grande do Sul foi provocada por uma série de fatores e não pode ser atribuída exclusivamente ao ciclone extratropical que se formou no litoral do estado, segundo especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo. Até a noite desta terça (5) foram confirmadas 21 mortes no RS e uma em Santa Catarina.
O El Niño, conhecido intensificador de chuvas no Sul do país, pode ser um dos responsáveis pelos altos níveis de precipitação dos últimos dias.
O fenômeno é caracterizado pelo aumento anômalo da temperatura da superfície do mar (alta de cerca de 0,5°C) na região do oceano Pacífico equatorial. Mais perto da costa da América do Sul, o aumento de temperatura da superfície da água chega a ultrapassar os 3°C.
De fato há um ciclone em ação no oceano Atlântico no momento. Mas, segundo Olivio Bahia, meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), o ciclone se formou apenas nesta segunda (4), quando o volume de chuva já estava alto.
“Não foi por causa dele. Apesar de ele ter ajudado a dar continuidade na chuva”, afirma o especialista do Inmet.
A responsabilidade pela tragédia acabou caindo sobre o ciclone, avalia Bahia, pela lembrança recente de outro ciclone que atingiu a região, em junho deste ano.
O meteorologista afirma que os ventos associados ao ciclone provocaram impacto principalmente sobre o mar e em algumas áreas da faixa litorânea do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
A análise é compartilhada por Estael Sias, meteorologista e sócia-diretora da MetSul. De acordo com a especialista, a situação que se viu é típica dos padrões do El Niño.
Ambos os especialistas citam uma combinação de fatores para explicar o grande volume de chuvas dos últimos dias. Sias fala em uma frente fria intensa associada a um canal de umidade e a um centro de baixa pressão atmosférica. Bahia lembra que estamos em um momento de transição para a primavera e que as chuvas devem se tornar mais frequentes em determinadas regiões do país.
O meteorologista do Inmet cita também a existência dos chamados jatos de baixos níveis, que são quentes e sopram de áreas do Equador em direção ao norte da Argentina, Paraguai e parte do Sul do Brasil.
Em épocas em que a Amazônia está no período seco, tais jatos carregam pouca umidade, ele explica. Porém, nesta época do ano, a umidade levada por esses jatos aumenta, e a combinação de calor e umidade pode acabar levando à formação de chuvas e temporais.
“A massa quente e úmida bastante instável gerou nuvens carregadas e favoreceu esses temporais”, diz.
Por fim, Bahia pondera que, apesar de o El Niño intensificar as chuvas no Sul do país, trata-se de um fenômeno de grande escala e por isso análises mais aprofundadas são importantes para avaliar sua possível associação com o grande volume de água recente.
Redação / Folhapress