Chuva registrada no litoral de SP nos últimos dias é esperada a cada 10 anos, diz especialista

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A concentração de chuva registrada em cidades do litoral paulista nos últimos dias é um evento esperado a cada década.

Segundo o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), municípios da Baixada Santista —Bertioga, Guarujá, Santos, Cubatão e Praia Grande— e do litoral norte —Caraguatatuba e Ubatuba— registraram mais de 150 mm de precipitação dentro de 24 horas, entre a noite de quarta (24) e desta quinta-feira (25).

O meteorologista do Cemaden Diego Souza afirmou que, conforme estimativas de precipitação feitas com base em dados de pluviômetros e satélites, só são esperados volumes superiores a 137 mm em Caraguatatuba e 145 mm em Bertioga, considerando o acumulado de 24 horas, a cada dez anos.

Levando em conta 48 horas, da noite de terça (23) até a noite desta quinta (25), em Ubatuba, Caraguatatuba e Guarujá o acumulado de chuva passou dos 200 mm e chegou a 296 mm em Bertioga.

“Esta época do ano é a estação chuvosa da região Sudeste, então esperamos observar volumes bem elevados. Mas, num curto período de tempo, como as últimas 24 ou 48 horas, pode ser considerado um volume excepcional”, explica Souza.

As chuvas dos últimos dias causaram deslizamentos em estradas, geraram alertas em regiões de morros e o acionamento das sirenes de emergência na Vila Sahy, em São Sebastião, onde 64 pessoas morreram devido às chuvas no ano passado.

“São Sebastião e Ilhabela tiveram bastante chuva nos últimos dias, mas o maior volume foi em Ubatuba e Caraguatatuba”, diz o especialista. Ele aponta que as chuvas do Carnaval de 2023 na região foram muito excepcionais, “totalmente fora de qualquer volume esperado e já observado em todo país”.

Em Santos, por exemplo, segundo a prefeitura, entre a noite de segunda (22) e quinta-feira (25) o volume de precipitação atingiu 293,8 mm, o que representa quase 90% da média histórica para todo o mês. Até agora, este é o janeiro mais chuvoso desde 2010, com o acumulado chegando a 511,6 mm.

O pesquisador do Cemaden diz que ao longo desta semana a passagem de uma frente fria pelo oceano Atlântico não atuou sobre o continente, mas organizou a faixa de nebulosidade e chuva sobre a região sudeste.

Ventos vindos do mar estão transportando a umidade em direção ao continente, que, ao chegar ao litoral, é bloqueada pela serra do Mar, fazendo com que as nuvens se formem e chova localmente.

Souza pondera, no entanto, que o observado nos últimos dias ainda pode ser considerado algo normal se considerada a média esperada para esta época do ano. “Mesmo com volumes elevados nas últimas 24h, estes ainda estão dentro do esperado para o mês ou para a estação chuvosa”, afirma, explicando que dezembro foi mais seco do que o esperado e, assim, janeiro pode ser mais úmido do que o previsto.

“De qualquer forma, se considerarmos os valores pontuais, temos observado uma maior recorrência de eventos de grande volume em curto espaço de tempo. Este tipo de comportamento é um indicativo dos efeitos da mudança no clima, apontados pelo último relatório do IPCC”, ressalta, referindo-se ao Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas, vinculado à ONU.

“Neste último relatório foi constatado que haverá e já estão ocorrendo uma maior frequência de extremos climáticos, principalmente eventos extremos de excesso de chuva e de falta de chuva”.

Para os próximos dias, o tempo deve continuar chuvoso no litoral ao menos até sábado (27), com mudança nos ventos que estão provocando volumes elevados entre a noite de sábado e o domingo.

Assim, o cenário tanto no litoral quanto na capital e no interior do estado de São Paulo, assim como no Rio de Janeiro e no sul de Minas Gerais, deve voltar a ser das características pancadas de chuva de verão no final da tarde.

JÉSSICA MAES / Folhapress

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