RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – A escassez de chuvas nos últimos meses fez com que a previsão de safra de laranja 2023/24 no cinturão citrícola formado pelo interior de São Paulo e Triângulo Mineiro sofresse uma redução de 2,12 milhões de caixas da fruta.
Os dados, do Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura), mostram que variedades de laranja como pera rio e valência não estão atingindo os tamanhos esperados pelo fato de chover menos que a média histórica nas áreas produtoras.
Embora percentualmente a reestimativa represente somente 0,7% do total de uma safra agora projetada em 307,22 milhões de caixas de 40,8 quilos cada, o cenário preocupa porque a produção de laranja no mundo está em queda e o Brasil é o maior produtor global. A previsão já era inferior à da safra 2022/23, que foi estimada em 316,95 milhões de caixas.
Entre maio e novembro, a precipitação média nas principais regiões produtoras foi de 427 milímetros, 13% abaixo da média histórica de 1991 a 2020, mas há locais em que o total foi bem abaixo disso.
É o caso do Triângulo Mineiro, que registrou somente 307 milímetros de chuvas, e da região de Bebedouro, com 372 milímetros. Também ficaram abaixo da média as regiões de Matão, Duartina, Brotas, Porto Ferreira, Limeira e Avaré. Só Altinópolis, Votuporanga, São José do Rio Preto e Itapetininga ficaram acima da média.
“As chuvas observadas no acumulado de maio a novembro contradizem as previsões climáticas, que apontavam para volumes com anomalias positivas nesta temporada devido ao fenômeno El Niño. Essas previsões de chuva, que não se confirmaram, foram utilizadas em maio de 2023 como base para projetar o tamanho dos frutos”, diz o Fundecitrus em seu relatório.
O citricultor Paulo Duarte, de Limeira, disse que, além de chover menos que o previsto, a irregularidade das precipitações também atrapalha. “Teve dia de chover muito, uma pancada, de uma vez só, e isso também não é bom. O ideal é ter uma chuva regular, constante, mas não é isso que ocorre”, disse. Na região, choveu 11% menos que a média.
O que acontece com a laranja preocupa produtores de outras culturas, como o café. O aquecimento global e o regime irregular de chuvas foram temas de debates e preocupações durante a SIC (Semana Internacional do Café), em novembro, em Belo Horizonte. Cafeicultores dizem que é preciso resiliência e buscar alternativas que permitam manter os altos níveis de produção em meio ao aumento das temperaturas.
O cenário só não é pior para a citricultura porque, coincidentemente, as chuvas no início de 2023 resultaram numa produção maior de laranjas de variedades precoces ou seja, colhidas antes das demais. A produção delas superou a estimativa em 2,27 milhões de caixas.
Já as variedades como pera rio e valência tiveram redução de 4,39 milhões de caixas. Isso ocorreu porque os frutos estão menores do que o esperado devido à ausência de chuvas. Com a fruta menor, são necessárias mais unidades para compor uma caixa de 40,8 quilos.
A previsão inicial do Fundecitrus indicava a necessidade de ter 247 frutas para formar uma caixa, total que hoje está em 255 unidades de 160 gramas cada.
Além da escassez de chuvas, as altas temperaturas registradas no cinturão citrícola nos últimos três meses causaram aumento da taxa de evapotranspiração e o avanço do greening também provocou variação no tamanho das laranjas.
Principal praga da citricultura, o greening cresceu de forma acelerada nos pomares de São Paulo, com aumento de 56% na incidência em apenas um ano no cinturão citrícola.
A doença avançou tanto porque o psilídeo transmissor das bactérias do greening o inseto Diaphorina citri, que mede de 2 mm a 3 mm tem apresentado resistência a alguns grupos de inseticidas utilizados no dia a dia da citricultura.
QUEDA GLOBAL
O Brasil é o principal fornecedor de suco de laranja no planeta, com cerca de 75% do comércio internacional, e qualquer abalo na produção interna gera reflexos em outros países.
Os estoques de suco de laranja no país atingiram em 1º de julho o mais baixo patamar já registrado, com queda de 40,7% em relação à safra anterior, graças à restrição de oferta interna e a problemas enfrentados em outros países, principalmente Estados Unidos, segundo dados da CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos).
Na França, a Unijus (associação dos fabricantes de sucos de frutas) relatou como inédita a escassez de concentrados de laranja “observada no mercado mundial” e citou que a pressão aumentou sobre o Brasil e que o resultado era a impossibilidade de o país honrar encomendas feitas.
Já na Flórida (EUA), são duas as dificuldades vividas: o greening e os reflexos do furacão Ian, que atingiu o estado norte-americano em setembro de 2022.
Outros países produtores, como México e Espanha, também tiveram problemas com estiagem e falta dágua, respectivamente.
MARCELO TOLEDO / Folhapress