Chuvas fortes no RS ficaram 15% mais intensas que aquelas do final do século 20, diz análise

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma análise divulgada nesta sexta-feira (10) afirma que chuvas como as ocorridas no Rio Grande do Sul entre os dias 30 de abril e 2 de maio se tornaram 15% mais intensas do que as do final do século 20. O principal fator para isso é o aquecimento global provocado pelas atividades humanas, dizem os pesquisadores.

Cientistas de diferentes nacionalidades vinculados à iniciativa ClimaMeter realizaram um estudo rápido comparando como eram os sistemas de baixa pressão na região semelhantes aos que atingiram o estado na última semana no final do século 20 (de 1979 a 2001) e como estão nas últimas décadas (de 2002 a 2023).

Eles qualificam as fortes chuvas como algo “um tanto incomum” e dizem que a variabilidade climática natural e fenômenos como o El Niño têm um papel “modesto” em comparação às mudanças climáticas.

Mais de 80% dos municípios do Rio Grande do Sul foram atingidos pelas tempestades, que causaram alagamentos históricos e afetaram mais de 1,4 milhão de pessoas, deixando quase 70 mil desabrigados e mais de uma centena de mortos.

“Essas inundações impactam de forma desproporcional comunidades vulneráveis que são injustamente sobrecarregadas pelas consequências, apesar de terem pouca responsabilidade pelas mudanças climáticas”, afirma em comunicado Davide Faranda, um dos pesquisadores responsáveis pela análise.

“Ao abordar as mudanças climáticas em escalas regional e global, podemos proteger vidas humanas e limitar a frequência e a intensidade de eventos climáticos extremos. Isso envolve uma redução imediata das emissões de combustíveis fósseis e medidas proativas para proteger áreas vulneráveis de padrões de precipitação cada vez mais erráticos”, diz ele.

A análise é assinada por pesquisadores vinculados a instituições de quatro países, incluindo as brasileiras Suzana Camargo, da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, e Luiza Vargas-Heinz, do Centro Internacional Abdus Salam de Física Teórica, na Itália.

ClimaMeter é uma plataforma desenvolvida pela equipe do laboratório de ciências do clima e do ambiente na Universidade Paris-Saclay, na França. O projeto é experimental e se propõe a analisar, de forma ágil, eventos extremos logo após as ocorrências.

“As tempestades que geraram chuva extrema nos últimos sete dias decorrem de complexa situação atmosférica formada sobre o Rio Grande do Sul. Os contrastes entre a onda de calor no centro do Brasil e o ar frio de origem antártica ao sul, associado a ciclones extratropicais, favorecem eventos extremos em um planeta mais quente”, diz Francisco Eliseu Aquino, climatologista e chefe do departamento de geografia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), que não participou do estudo, mas o comentou a pedido dos autores.

PREVISÕES

Projeções elaboradas há anos preveem aumento das chuvas extremas e inundações na região Sul com o avanço do aquecimento global.

“Pelo trabalho de investigação em eventos extremos que estamos fazendo nos últimos 20, 30 anos no Rio Grande do Sul, já era previsto que a mudança climática se somasse aos fatores naturais, intensificando eventos climáticos e meteorológicos extremos no mundo e em especial no sul do Brasil”, explica Aquino.

O planeta já aqueceu quase 1,3°C em relação ao período anterior à Revolução Industrial (1850-1900) —a meta mais ambiciosa do Acordo de Paris é limitar o aquecimento global a 1,5°C. Com isso, as chuvas intensas já estão mais fortes e frequentes no Brasil, segundo relatório de 2021 do IPCC, a maior referência científica em clima do mundo.

Chuvas extremas, que aconteciam, em média, uma vez a cada dez anos em um clima sem influência humana, agora provavelmente ocorrem 1,3 vez nesse mesmo período.

Caso as emissões de gases de efeito estufa pelas atividades humanas continuem crescendo e a temperatura global aumente 4°C, o índice poderá chegar a 2,7 vezes. No patamar atual de emissões, o mundo está na rota para aquecer de 2,4°C a 2,6°C.

JÉSSICA MAES / Folhapress

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