SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – O senador Cid Gomes (PSB-CE) anunciou a seus aliados o rompimento com o governador Elmano de Freitas (PT), encerrando uma parceira política entre os dois grupos políticos que vem desde 2006.
A decisão foi revelada por Cid a aliados mais próximos no último sábado (16). Na ocasião, ele alegou incômodo com o fato de ter sido alijado de decisões estratégicas para o grupo governista e criticou uma suposta postura de hegemonia a do PT do Ceará.
Em reunião da executiva estadual do PSB nesta terça-feira (19), em Fortaleza, Cid afirmou à imprensa que ainda não havia uma decisão final. “Não tem nada decidido, a gente tem que aguardar o final das etapas. Em política a gente tem que ter ritos, eu faço questão de obedecer a todos os ritos.”
Ele afirmou que a decisão não deve demorar e será anunciada em uma nota oficial. Aliados, contudo, tratam o rompimento com como uma decisão tomada e com poucas chances de reversão.
“Cid é muito resiliente, para ter chegado ao ponto de romper é porque a situação estava insustentável. Ele vinha mostrando descontentamento com o excesso de decisões que eram feitas exclusivamente pelo PT e para o PT”, disse à reportagem a deputada estadual Lia Gomes (PDT), irmã do senador.
Com a decisão, Cid segue na mesma direção do irmão e também ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), que rompeu com o PT nas eleições de 2022. Desde então, os irmãos se afastaram politicamente.
As insatisfações de Cid vinham sendo compartilhadas com o senador licenciado e ministro da Educação, Camilo Santana (PT), que despontou como principal líder do grupo político após duas gestões frente ao governo cearense.
O estopim para a ruptura foi a decisão de Elmano de apoiar a candidatura do deputado estadual Fernando Santana (PT) para a Presidência da Assembleia Legislativa do Ceará.
Cid Vinha se movimentando para emplacar um aliado no cargo. Eram cogitados nomes como o deputado estadual licenciado Salmito Filho (PDT), atualmente secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, além dos deputados Osmar Aqui e Guilherme Landim, também do PDT.
No ano passado, Cid também tinha se movimentando para atrair para o PSB o deputado estadual Evandro Leitão, que naquela época já vinha sendo cotado para concorrer à Prefeitura de Fortaleza.
Foi o próprio Cid, enquanto presidente estadual do PDT, que assinou a autorização para que Leitão se desfilasse do partido sem sofrer punições.
Evandro Leitão se filiou ao PT em uma articulação liderada por Camilo Santana. Em outubro, foi eleito prefeito após uma disputa acirrada no segundo turno contra o bolsonarista André Fernandes (PL).
Na avaliação de aliados de Cid Gomes, Elmano de Freitas tem tomado decisões estratégicas sem consultar os aliados, em uma postura considerada centralizadora.
O grupo de Cid saiu fortalecido das eleições municipais. O PSB, partido ao qual se filiou em fevereiro de 2024, foi o partido com melhor desempenho no Ceará, elegendo 64 prefeitos dentre os 184 municípios do estado.
O partido, contudo, vive uma espécie de duplo comando, já que é presidido pelo ex-deputado Eudoro Santana, pai de Camilo Santana. A permanência do irmão de Ciro e seu grupo político no partido tornou-se uma incógnita.
A princípio, o grupo não migrará para a oposição a Elmano de Freitas, mas deve adotar uma postura de independência em relação ao governador na Assembleia Legislativa.
A decisão pelo rompimento implode uma aliança que já durava 18 anos. Depois de se enfrentarem em eleições anteriores o PT e o grupo liderado pelos irmãos Cid e Ciro Gomes se uniram em 2006.
Cid foi eleito governador naquele ano, reeleito em 2010 e quatro anos depois indicou o então deputado estadual Camilo Santana (PT) para concorrer ao governo do Ceará. Camilo foi eleito em 2014 e reeleito em 2018, se consolidando como o mais influente líder do grupo político.
Em 2022, a aliança sofreu a sua primeira fissura com a decisão do PDT de escolher o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) para concorrer ao governo do estado em detrimento da então governadora Izolda Cela (PDT).
Com a decisão o PT rompeu com os pedetistas e lançou Elmano de Freitas como candidato a governador. Ele sairia vitorioso no primeiro turno em 2022, quanto Roberto Claudio amargaria um terceiro lugar.
Desde então, Ciro e Cid romperam relações em uma briga marcada por acusações de traições e arbitrariedades. Cid manteve a aliança com o PT e se manteve afastado da sucessão estadual em 2022. Em fevereiro deste ano, migrou para o PSB, levando com ele 40 prefeitos.
Ciro Gomes segue no PDT e mantém uma postura crítica ao presidente Lula, a Camilo Santana e a Elmano de Freitas.
JOÃO PEDRO PITOMBO / Folhapress