CURITIBA, PR E MIMOSO DO SUL, ES (FOLHAPRESS) – Quase uma semana depois das chuvas que atingiram fortemente o extremo sul do Espírito Santo, os moradores da cidade de Mimoso do Sul (a 173 km de Vitória) ainda vivem em um cenário de terra arrasada.
Há lama em casas, comércios e ruas. Algumas construções foram completamente destruídas. E entulhos seguem nas calçadas -desde documentos e estantes retirados do Fórum de Mimoso até uma boneca coberta de lama, encontrada perto de uma loja de brinquedos inaugurada há apenas cinco meses.
“A gente já viu algumas enchentes que castigaram um bairro e outro não. Mas agora arrasou a cidade inteira, de ponta a ponta, lugares que nunca havia chegado água. Uma coisa que não se consegue explicar. A gente está em estado de choque”, diz o comerciante e militar da reserva Márcio Batista, 53, cuja família possui quatro lojas na cidade.
O comerciante relata prejuízo total. “Acabou tudo, todo o estoque, não sobrou nada. O jeito é tentar começar do zero, seguir em frente”, afirma ele.
Cortada por rios, a cidade de pouco mais de 24 mil habitantes ainda registra 5.000 pessoas desalojadas e 100 desabrigadas nesta quinta-feira (28), conforme boletim divulgado pela Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil.
“Foi uma catástrofe total. Perdi carro, moto, móveis, roupa, comida, tudo. Só não perdemos a vida. Porque o resto a gente perdeu tudo”, conta o médico veterinário Francis Pereira Gimenes, 46, morador do Centro. “Nunca presenciei algo assim”, continua ele.
Elivanda de Souza Brandão, 18, ainda sente um mau cheiro nas ruas tomadas por lama e suspeita de animais mortos. Ela, que está grávida de oito meses, e o marido, Rulian Dias Amaral, 20, viveram momentos de pânico na sexta-feira (22).
O casal, que mora no bairro Recanto Verde, usou uma geladeira para sair do imóvel. Dentro da geladeira, eles conseguiram boiar na água barrenta por alguns minutos. “Com o tempo, a geladeira começou a afundar e ficamos segurando em uma pilastra até os vizinhos, com botes, chegarem para nos salvar”, diz ela.
Elivanda conta que eles moram no segundo andar de um imóvel e, mesmo assim, em 40 minutos a água já tinha atingido o teto da residência.
O momento mais forte da chuva ocorreu entre a noite de sexta e a madrugada de sábado (23).
O Corpo de Bombeiros Militar do estado relata que dez idosos precisaram ser retirados de um asilo por conta do avanço da água.
Em outro local, que abrigava pessoas com deficiências, cinco foram resgatadas com ajuda de aeronave, mas outras cinco morreram.
Mimoso do Sul registrou 18 mortes no total em decorrência das chuvas e uma pessoa segue desaparecida. No restante do estado, outras duas mortes ocorreram em Apiacá.
Ainda no dia 23, o governador do ES, Renato Casagrande, decretou situação de emergência em 13 cidades: além de Mimoso do Sul e Apiacá, Alegre, Alfredo Chaves, Atílio Viavacqua, Bom Jesus do Norte, Guaçuí, Jerônimo Monteiro, Muniz Freire, Muqui, Rio Novo do Sul, São José do Calçado e Vargem Alta.
No total, há 20.019 desalojados, 364 desabrigados e 2 desaparecidos, segundo boletim desta quinta.
CATARINA SCORTECCI E ROBERTO BARBOSA / Folhapress