Cidade de São Paulo bateu recorde de dengue em 2024; sorotipo 3 é preocupação de 2025

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em 2024, a cidade de São Paulo registrou os números mais altos de casos e de mortes por dengue nos últimos dez anos. É o que mostra o boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde. Os dados são provisórios.

De 1º de janeiro de 2024 a 2 de janeiro de 2025, o município confirmou 623.437 casos e 475 mortes. De acordo com o boletim, 4.606 casos e 235 óbitos estão em investigação. Antes, o ano de 2015 havia sido o com maior número de casos e de mortes —103.186 e 25, respectivamente.

A incidência da doença chegou a 5.192,8 por 100 mil habitantes. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o Ministério da Saúde, considera-se epidemia quando a incidência ultrapassa a casa de 300 casos por 100 mil habitantes.

O coeficiente de incidência é um critério do Ministério da Saúde para a classificação da doença em relação à população. Para chegar a ele, basta multiplicar por 100 mil o número de casos novos e dividir pelo total da população na área em questão. O indicador mostra o risco de os moradores ficarem doentes e a probabilidade de novas ocorrências.

Os distritos com maior incidência de dengue em 2024 foram Jaguara (oeste) com 15.253, 2 por 100 mil habitantes. Em seguida, São Miguel (leste) com 14.534, 8 por 100 mil habitantes e Itaim Paulista (leste) com 10.112, 5 por 100 mil habitantes.

República, na região central, registrou a menor taxa —1.459,7.

Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde afirma que pratica rotineiramente atividades de combate às arboviroses. As medidas contra o mosquito Aedes aegypti seguem em 2025. A pasta monitora a situação epidemiológica e adota ações e estratégias conforme o cenário vigente. As ações educativas e atividades de rotina, como bloqueios de transmissão do vetor, continuam.

Em 2024, foram realizadas mais de 11 milhões de ações no combate à dengue na capital, entre visitas casa a casa, orientações aos moradores, nebulizações e uso de drones aplicadores de larvicidas.

Mais de 12 mil agentes de saúde, entre agentes comunitários e de combate a endemias, têm visitado residências. Eles orientam a população sobre formas de prevenção e eliminam focos do mosquito.

Em dezembro de 2024, a Covisa (Coordenadoria de Vigilância em Saúde) promoveu um evento com o foco na capacitação e no diagnóstico precoce das arboviroses.

O QUE ESPERAR DA DENGUE EM 2025

Ainda não é possível prever, mas há possibilidade de 2025 ser mais um ano com muitos casos.

“É difícil dizer o que vai acontecer neste ano, mas a gente tem que se preparar para o pior e pensar que temos que nos cuidar. Observamos que 2024 foi o ano mais quente em muitos lugares do país. O regime de chuvas vem aumentando, principalmente nas últimas semanas. Agora entramos no período mais crítico —janeiro, fevereiro, março e abril— e podemos ter aí uma escalada do número de casos”, afirma Paulo Abrão, vice-presidente da SPI (Sociedade Paulista de Infectologia) e professor de infectologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Segundo o médico, o sorotipo 3 da dengue preocupa os infectologistas. Essa variação não estava circulando majoritariamente nos outros anos. Os mais frequentes são o 1 e o 2. “A gente tem a noção de que, como muita gente teve dengue no ano passado —em muitos casos pelos tipos 1 e 2— está parcialmente imunizada, pelo menos, por alguns meses. Então, a tendência é esses sorotipos diminuírem e entrarem outros. Daí vem a preocupação de aumento de casos do 3”, explica.

O tipo 3 reapareceu no país em 2023 —na época, a Fiocruz afirmou que o país não registrava epidemias da doença provocadas por essa cepa há mais de 15 anos—, e circulou também em 2024.

O vírus da dengue possui quatro sorotipos. Quando um indivíduo é infectado por um deles adquire imunidade contra aquele vírus, mas ainda fica suscetível aos demais. Existe o perigo da dengue grave, que ocorre com mais frequência em pessoas que já tiveram a doença e são infectadas novamente, por outro sorotipo. É o que pode acontecer com a infecção pelo tipo 3.

Para o especialista, não só São Paulo, mas o país também vive o reflexo da pandemia e da desarticulação das medidas de ação nos níveis municipal, estadual e federal em anos anteriores.

“Houve muita desarticulação na saúde pública nos últimos anos e a pandemia também desviou a força de trabalho das pessoas para a Covid. Faltaram ações corpo a corpo nas áreas de maior risco. E as pessoas falam da vacina. Tem uma limitação. O Ministério da Saúde tem a vacina para 10 a 14 anos, que apresenta maior mortalidade na faixa etária em que a vacina está autorizada. Ela não está autorizada para cima de 60, que é quem mais morre. Mas isso é bastante restrito do ponto de vista de conter uma epidemia como a que aconteceu no ano passado”, comenta Abrão.

“Você teria que ter uma vacinação em massa. A questão da vacina também é que você demora um tempo para imunizar. E a cobertura deve ser ampla. A vacina é muito importante, mas ainda vai ficar para os próximos anos.”

Em dezembro, o Instituto Butantan enviou à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) um pedido de registro para uso da vacina contra a dengue no Brasil. O imunizante foi desenvolvido pelo órgão. Se aprovada, a Butantan-DV será a primeira vacina do mundo em dose única contra a doença.

Enquanto não há vacina para todos é preciso reforçar as ações de combate nas três instâncias de governo e junto à população.

“O indivíduo tem que estar consciente de olhar a casa, o quintal, as plantas dele, o terreno baldio, o vizinho e denunciar. Teve um caso de dengue na comunidade, fique atento. Se teve um caso de dengue próximo de você, é porque tem criadouro e as medidas devem ser tomadas. Se a gente for fazer isso lá em abril, já vai ter morrido muitas pessoas.”

“Os órgãos públicos precisam reforçar essa questão da campanha na conversa com a população. Não adianta ficar empurrando um para o outro. Precisamos pensar no bem comum. A imprensa e as redes sociais são importantes para mostrar os números assustadores do ano passado e dizer que a doença mata”, diz o infectologista.

Além da dengue, o Aedes aegypti também transmite chikungunya e zika vírus. Em 2024, a cidade de São Paulo confirmou 30 casos de chikungunya, com uma morte. Desde 2018 não há registro de zika vírus contraído no município —neste ano, houve um importado.

“Chikungunya também preocupa, mas a mortalidade pela doença é mais rara em relação à dengue, até pelo número de casos. A dengue espalha muito rápido. A chikungunya faz a pessoa sofrer muito por causa da dor nas articulações”, finaliza Abrão.

*

ELIMINAÇÃO DE CRIADOUROS

Não há ação melhor de combate à dengue do que prevenir a proliferação do mosquito. Em outras palavras, o melhor método de proteção é se certificar de que não há criadouros dentro de casa.

Os infectologistas dão algumas dicas de ações para revisão e proteção da casa:

– Verificar as calhas (removendo folhas, galhos e tudo que possa impedir a água de correr pelas calhas);

– Manter a caixa d’água sempre fechada com tampa adequada;

– Colocar o lixo em sacos plásticos e manter a lixeira bem fechada;

– Fechar os ralos com telas;

– Eliminar entulhos;

– Limpar sempre que possível vasos, potes, pratinhos e outros objetos que acumulam água (mesmo que secos).

PATRÍCIA PASQUINI / Folhapress

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