SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em 2024, até 7 de dezembro, o Brasil contabilizou 839.662 casos de Covid e a morte de 5.741 pessoas. O cenário é bem diferente do observado em 2023, que encerrou dezembro com mais de 1,8 milhão de casos da doença e quase o triplo de óbitos deste ano.
“Essa redução importantíssima em relação ao número de óbitos mostra a nova faceta da Covid, que é uma doença que vai coexistir junto com outros vírus de transmissão respiratória, assim como o influenza, da gripe e o [VSR] vírus sincicial respiratório, que causa bronquiolite”, diz Alexandre Naime Barbosa, coordenador científico da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e chefe do Departamento de Infectologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
O ano de 2024 é o primeiro totalmente livre da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional para a pandemia de Covid, cujos primeiros casos foram detectados no final de 2019. A OMS (organização Mundial da Saúde) declarou o seu fim em maio de 2023.
Na opinião do infectologista, o número de mortes por Covid em 2024 poderia ter sido menos expressivo, uma vez que, assim como o influenza e o VSR, o coronavírus tem uma mortalidade maior em extremos de idade e imunossuprimidos.
“São crianças, idosos e pessoas com algum problema de imunidade para os quais nós temos vacina. E existe a imunidade híbrida, que é uma mistura entre a proteção dada pelo vírus e a proteção dada pela vacinação. Quanto mais você tiver uma vacina atualizada, melhor será a proteção contra a evolução para doença grave, que leva à necessidade de internação e ao óbito”, explica Barbosa.
Além da vacina atualizada, ele aponta a importância do tratamento dos casos sintomáticos de populações vulneráveis com paxlovid. O medicamento, junção dos antivirais nirmatrelvir e ritonavir, está disponível no SUS gratuitamente para todas as pessoas com 65 anos ou mais e imunocomprometidos com idade igual ou superior 18 anos, com sintomas leves a moderados. O remédio reduz as chances de internação e morte pela Covid.
Segundo o infectologista, a não utilização se dá por falta de conhecimento de médicos e pacientes. “As pessoas deveriam ser educadas -principalmente as de grupo de risco- que sintoma gripal significa necessidade de testagem.”
Segundo o painel Coronavírus Brasil, do Ministério da Saúde, pico em 2024 de casos do ano ocorreu de 18 de fevereiro a 2 de março, dias após o Carnaval. No período, o Brasil totalizou 139.806 novas infecções. Na época, especialistas alertaram para o provável aumento de Covid durante a festa.
No estado de São Paulo, os números da plataforma de Covid da Fundação Seade também indicam crescimento após a folia, em especial na primeira quinzena de março, quando foram registrados os maiores números.
As épocas de de Natal, Ano-Novo e a folia do Carnaval são ocasiões em que pessoas de regiões diferentes se aglomeram, e a consequência é um aumento da transmissão de vírus respiratórios.
Os médicos recomendam a evitar contato com pessoas sadias se estiver com sintomas gripais, usar máscara e não colocar a mão na boa, no nariz e nos olhos se estiver em ambiente público. Se for de grupo de risco, é também importante procurar um serviço de saúde para ser testado.
“Eu chamaria a atenção para a necessidade de continuar fazendo o diagnóstico. Eu aconselho que todo mundo com síndrome gripal não parta da premissa de que não é nada, porque muitas vezes é. E, se for Covid, tem tratamento. Chamo a atenção, sobretudo, das populações mais vulneráveis para que mantenham a vacina em dia”, afirma Evaldo Stanislau de Araújo, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Na opinião dele, o cenário mais provável é que a Covid se transforme numa doença comum, com aspectos de sazonalidade e períodos de aumento. Porém, ele não descarta a possibilidade de um crescimento importante de casos e de uma nova variante.
“O vírus da Covid tem a capacidade de voar sobre o radar, ou seja, como os aviões espiões que não são detectados. Temos visto casos de Covid. Tivemos nos Estados Unidos uma grande onda de Covid e nada disso foi grande notícia nem motivo de preocupação para as pessoas”, comenta Araújo.
“[Mas] Não sabemos o que virá pela frente. Se perdermos memória imunológica e se continuarmos negligenciando a Covid, pode ser que a gente se surpreenda com um novo aumento de casos mais importante ainda e, eventualmente, uma variante que traga alguma modificação que pode tornar uma agressividade clínica”, afirma o infectologista.
PATRÍCIA PASQUINI / Folhapress