SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cinco policiais militares foram presos na manhã desta segunda-feira (16) suspeitos de integrarem um esquema de extorsão contra ambulantes que atuam na região do Brás, conhecida pelo comércio popular. O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) e a Corregedoria da Polícia Militar e da Polícia Civil fazem operação para desarticular o grupo criminoso. Além dos policiais, outras quatro pessoas também foram presas.
Batizada de Aurora, a operação cumpre 15 mandados de prisão preventiva, incluindo seis PMs (da ativa e da reserva), uma policial civil e 20 de busca e apreensão. Oito empresas e 21 pessoas tiveram sigilos bancário e fiscal quebrados.
A investigação começou após o Gaeco receber da Corregedoria da PM ofício informando que agentes incluindo cabos, soldados e sargentos vinham exigindo e recebendo pagamentos periódicos para permitir a atividade das vítimas na região, conhecida pelo comércio popular.
“Vários vendedores são imigrantes de países da América do Sul e não possuem acesso a linhas de crédito, se vendo obrigados a procurar agiotas para obter dinheiro e repassar aos criminosos. Esses agiotas usavam dos serviços dos mesmos policiais militares para cobrar, de forma violenta, os inadimplentes”, afirmou a Promotoria.
Segundo o corregedor da PM, coronel Fabio Sérgio do Amaral, os crimes aconteciam ao menos desde o ano passado. As áreas de comércio popular eram loteadas e o grupo “agia como donos das ruas”. Um cabo atuava de moto no local. Ele passava percorria as ruas da região fardado, conversava com os comerciantes como uma forma de amedrontar as pessoas e, nos dias em que estava de folga, voltava exigindo o pagamento.
A Corregedoria da PM apura os valores movimentados pela quadrilha com base em planilhas aprendidas na operação desta segunda. Na casa de um dos apontados como agiota da quadrilha foram encontrados R$ 140 mil escondidos em sofá, cama e outros móveis.
Uma das testemunhas protegidas ouvidas pelo Gaeco relatou que trabalha nas imediações da rua Tiers há seis anos e, recentemente, um grupo de pessoas passou a exigir o pagamento de luvas no valor de R$ 15 mil por ano e mais R$ 300 por semana para autorizar sua permanência na região. “Se a pessoa faltasse um dia, já perdia a barraca”, explica o corregedor.
Quando o ambulante não tinha os valores exigidos o que era comum os policiais o encaminhavam para os agiotas, que cobravam juros altíssimos.
Quatro vítimas aceitaram se identificar até o momento todas imigrantes, entre elas bolivianos e equatorianos. De acordo com o corregedor, há mais vítimas da quadrilha que ainda não prestaram depoimento por medo de represália.
De acordo com a Promotoria, a apuração apontou ainda que uma escrivã da Polícia Civil, que é ou já foi companheira de um sargento da PM, foi flagrada com outras pessoas extorquindo e intimidando comerciantes.
Além dos cinco PMs já presos, a operação tenta cumprir mandados de prisão contra um sexto militar e uma policial civil. Dos 15 mandados de prisão preventiva, oito são contra agiotas e outros membros da quadrilha, como pessoas relacionadas a cooperativas e associações de ambulantes. Quatro desses mandados ainda não foram cumpridos.
FRANCISCO LIMA NETO / Folhapress