BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A EBC (Empresa Brasileira de Comunicação) contratou Marcos Vinícius de Andrade, cinegrafista que relatou ter sido pressionado a apagar imagens do tiroteio que terminou com um suspeito morto e interrompeu agenda do então candidato ao Governo de São Paulo Tarcísio de Freitas, em Paraisópolis, na zona oeste de São Paulo.
Desde setembro, Andrade é coordenador de Cinegrafia 3 da empresa pública, ligada ao governo Lula (PT). A contratação foi revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo e confirmada pela reportagem.
De acordo com a EBC, o salário líquido é de R$ 9.471,61. “O profissional tem 30 anos de experiência como operador de câmera de unidade portátil externa e jornalista e repórter cinematográfico”, disse a empresa, em nota.
Em outubro do ano passado, no segundo turno da eleição, o profissional filmou troca de tiros envolvendo a polícia, que acabou com um homem morto enquanto Tarcísio fazia campanha na favela.
Áudio obtido pela Folha de S.Paulo mostrou que um integrante da campanha mandou o então cinegrafista da Jovem Pan apagar imagens do tiroteio. Após o ocorrido, Andrade disse que se desligaria da emissora.
Na ocasião, o cinegrafista e outros profissionais de imprensa foram levados em uma van da campanha a um prédio na zona sul usado pela equipe de Tarcísio. No local, houve perguntas ao profissional sobre o que ele havia filmado e a ordem para que ele apagasse as imagens.
“Você filmou os policiais atirando?”, questiona um integrante da campanha. “Não, trocando tiro efetivamente, não. Tenho tiro da PM pra cima dos caras”, responde o cinegrafista.
O integrante da campanha pergunta ainda se ele havia filmado as pessoas que estavam no local onde o evento com Tarcísio foi realizado. “Você tem que apagar”, diz o segurança. A reportagem apurou que as imagens já tinham sido enviadas à Jovem Pan.
À época, a equipe de Tarcísio afirmou que as cenas poderiam ‘expor quem estava lá’.
O episódio levou a Polícia Federal a investigar se Tarcísio se beneficiou eleitoralmente, durante a campanha, da versão de que o tiroteio em Paraisópolis foi um atentado contra ele.
O objetivo dos investigadores é apurar se Tarcísio infringiu o código eleitoral, que veda a divulgação, na propaganda eleitoral ou durante período de campanha, de “fatos que sabe inverídicos em relação a partidos ou a candidatos e capazes de exercer influência perante o eleitorado”. O governador afirma que não há fato novo sobre o episódio e que, portanto, não há o que se averiguar no inquérito da PF.
Em janeiro deste ano, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou o arquivamento do inquérito sobre a morte no tiroteio, a pedido do Ministério Público.
MARIANNA HOLANDA / Folhapress