FRANKFURT, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – O Círculo de Poemas, projeto da editora Fósforo que funciona como um clube de assinatura de livros de poesia, recebeu o prêmio Aficionado na manhã desta quinta na Feira de Frankfurt.
É uma distinção oferecida por um comitê dividido entre a feira alemã e o Salão Internacional do Livro de Turim, na Itália, voltado a selecionar projetos inovadores que tenham impacto no mercado editorial.
A iniciativa brasileira, que começou como uma parceria da editora com a independente Luna Parque, foi reconhecida por sua capacidade de amplificar o alcance da poesia e construir comunidade em torno de um gênero que muitas vezes fica escanteado pelo grande mercado.
“Sentíamos que muitas pessoas queriam começar a ler poesia, mas não sabiam bem como”, disse a editora Rita Mattar durante a entrega do certificado. “Por isso a seleção dos livros e autores precisava ser a mais diversa possível, atraindo também os leitores já interessados em poesia.”
Por isso, a curadoria trouxe desde a primeira edição de clássicos como “Paterson”, de William Carlos Williams, autores estrangeiros premiados como Jon Fosse, Jericho Brown e Natalie Diaz, coletâneas de nomes brasileiros importantes como Maria Firmina dos Reis, Miriam Alves e Donizete Galvão e vozes inovadoras como Aline Motta e Jorge Augusto.
“Às vezes, bons poetas saem em casas menores e não encontram tantos leitores porque as tiragens são pequenas ou porque não chegam às livrarias. Procuramos oferecer estrutura para que isso acontecesse”, afirmou Mattar, diretora da Fósforo e uma das idealizadoras do projeto, que recebeu o prêmio na Alemanha em nome do Círculo de Poemas.
Não há remuneração em dinheiro, mas o Aficionado bancou a ida de Mattar a Frankfurt, o que não é nada desprezível dadas as oportunidades de negócio surgidas no maior evento do mercado editorial no mundo. A visibilidade, ela diz, também é uma consagração por si só.
Uma das juradas do prêmio, a italiana Camilla Cottafavi, ressaltou ser notável que o modelo de negócios do Círculo de Poemas seja “baseado em cooperação em vez de competição”. A Luna Parque não faz mais parte do projeto, mas a Fósforo não fecha as portas a novas parcerias.
Os outros finalistas do Aficionado, uma distinção criada no ano passado, foram uma livraria independente na Toscana, que atrai visitantes pela graciosidade de seu projeto estético de “conto de fadas”, e uma editora holandesa dedicada a publicar dissidentes e exilados russos. O foco nas iniciativas comunitárias, então, se faz evidente.
O Círculo de Poemas reforça esse aspecto, por exemplo, oferecendo benefícios aos assinantes fiéis e organizando clubes de leitura em três cidades brasileiras São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, em breve acrescidas de Brasília e Porto Alegre. São encontros abertos, sem necessidade de assinar ou comprar nada, e que costumam incluir livros de outras editoras.
“Para publicar livros no Brasil, você tem que lutar contra tantas forças diferentes que é melhor procurar juntos novas maneiras de atrair leitores do que competir com os outros”, aponta Mattar. “Espero que esta seja só mais uma entre muitas iniciativas de cooperação.”
WALTER PORTO / Folhapress