Citando lei que censurou Al Jazeera, Israel confisca câmeras da Associated Press

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo de Israel confiscou nesta terça-feira (21) câmeras e outros equipamentos da agência de notícias americana Associated Press (AP). Tel Aviv justificou a ação dizendo que os jornalistas da AP violaram a lei que proibiu a Al Jazeera de funcionar no país ao fornecer uma transmissão ao vivo do norte de Gaza ao canal qatari.

Entretanto, Israel recuou da decisão horas depois após pressão dos Estados Unidos, seu principal aliado internacional. O ministro das Comunicações, Shlomo Karhi, disse em nota que tinha ordenado a devolução do equipamento e que aguardaria uma decisão do Ministério da Defesa sobre o assunto.

A Associated Press afirmou que recebeu uma ordem do governo israelense para interromper sua transmissão do norte da Faixa de Gaza que estava sendo feita a partir da cidade israelense de Sderot. A agência disse que a decisão foi “um uso abusivo pelo governo de Israel da nova lei sobre transmissões estrangeiras”.

“Repudiamos veementemente as ações do governo israelense de derrubar nossa transmissão permanente que mostrava a Faixa de Gaza e confiscar equipamento da AP”, disse uma porta-voz da agência.

O ministro Karhi disse que a agência americana ignorou avisos de que sua transmissão estava sendo usada pela Al Jazeera, e que confiscou as câmeras porque as imagens revelavam posições de tropas israelenses no norte de Gaza, colocando os soldados em perigo.

A AP, contudo, afirma que obedece às leis de censura vigentes em Israel, que proíbem a transmissão da movimentação de tropas, e alega que a transmissão mostrava apenas fumaça dos bombardeios israelenses em Gaza.

O governo Joe Biden, que tem apoiado Israel militar e diplomaticamente desde o início do conflito atual, disse por meio de um porta-voz que o caso é preocupante e que “jornalistas têm o direito de fazer seu trabalho”. A Casa Branca afirmou ainda que tinha pedido a Tel Aviv que recuasse da decisão. A ONG Repórteres sem Fronteiras chamou o confisco de “censura ultrajante”.

Aprovada no dia 1º de abril, a nova lei de mídia israelense permite que o ministro das Comunicações proíba a transmissão de conteúdos de canais estrangeiros e mande fechar seus escritórios em Israel se o gabinete do premiê avaliar que a emissora ameaça a segurança nacional.

A legislação tem como principal alvo o canal qatari Al Jazeera, chamado pelo premiê Binyamin Netanyahu de terrorista. Na época, a emissora chamou a acusação de “uma mentira perigosa e ridícula” e afirmou que Tel Aviv ataca seus jornalistas na Faixa de Gaza sistematicamente.

O chefe da Al Jazeera em Gaza, Wael Dahdouh, por exemplo, foi ferido em um bombardeio israelense em dezembro. Ele perdeu o filho, que também era repórter da emissora, em outro ataque, além de perder outros dois filhos, a esposa e um neto em um bombardeio nas primeiras semanas da guerra.

Em 2022, a repórter da Al Jazeera Shireen Abu Akleh, 51, morreu após ser atingida com um tiro na cabeça disparado por tropas israelenses na cidade de Jenin. Ela usava um colete que a identificava como profissional de imprensa quando foi baleada.

A Al Jazeera, criada em 1996 pelo então emir do Qatar, é uma das principais emissoras de TV do mundo árabe e se popularizou no Ocidente por meio do seu canal em língua inglesa e por conta da cobertura, contrastante com a maioria dos veículos ocidentais, da Guerra do Iraque e da invasão americana do Afeganistão.

De acordo com o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ), 105 profissionais da imprensa já foram mortos desde o início do conflito atual, dos quais cem eram palestinos, três eram libaneses e dois, israelenses. O número é quatro vezes maior do que a quantidade de jornalistas mortos na região em 30 anos, de 1992 a 2022.

Redação / Folhapress

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