SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Ana Patrícia e Duda são sincronia no estado mais puro. A dupla campeã olímpica no vôlei de praia ostenta um entrosamento que parece durar mais de década. Elas de fato estiveram juntas na primeira grande conquista de suas vidas, há dez anos, mas só efetivaram a parceria no último ciclo olímpico, após amadurecerem e ouvirem por muito tempo um clamor generalizado no esporte e que ultrapassava fronteiras.
“Não vou dizer que o mundo inteiro clamou [por formarem dupla], mas com certeza o mundo inteiro esperou por isso porque absolutamente todo mundo falava sobre, até mesmo quando a gente não estava junto. ‘Duda e Patrícia, Duda e Patrícia'”, diz Ana Patrícia, à reportagem.
A união veio oito anos depois, mas na “hora certa”, como ressaltam, e foi coroada com o ouro em Paris. Antes disso, a dupla havia se unido pontualmente para as Olimpíadas da Juventude, em 2014, e foi campeã, mas trilhou rumos separados. Fez parte do processo até seus caminhos se encontrarem novamente.
“Todo mundo acha que a gente se separou lá na base, e a verdade é que eram momentos totalmente diferentes. Nós éramos atletas de base, a Duda já mais consolidada e com um caminho a ser seguido. Naquele momento a gente estava realmente só representando a base da seleção, então não houve a quebra de um time. A gente só se juntou para jogar e seguimos nossos caminhos”, diz Ana Patrícia.
Duas prodígios da modalidade, ambas formaram duplas com atletas mais experientes, mantendo a admiração mútua uma pela outra. Elas se credenciaram aos Jogos de Tóquio e foram juntas, embora separadas, ao Japão; Ana com Rebecca, e Duda, com Ágatha. Não tiveram os resultados esperados e, mais maduras, recalcularam a rota, atendendo à espécie de “súplica” para se reunirem que vinha de todos os lados.
“A gente sempre escutou muito que ‘tinha que ser Duda e Ana Patrícia’. A gente respeitou muito o nosso processo, tudo o que a gente viveu com todas as parceiras que a gente teve a oportunidade de jogar foi importante para o nosso amadurecimento. Acredito muito que a gente se juntou na hora certa. As pessoas pressionavam muito para a gente se juntar desde antes e acho que a melhor coisa que a gente fez foi não ter se juntado antes porque a gente precisava passar por esse processo de amadurecimento”, afirma a atleta.
A resposta que Duda deu exemplifica a harmonia da parceria: “Ela falou tudo”. Não precisava acrescentar uma linha ao que a colega havia dito porque estão na mesma página. É assim dentro e fora das quadras. Desenvolveram uma conexão que as tornou mais do que meramente as melhores do mundo e medalhistas de ouro. Certa hora uma delas levanta e a outra saca, depois invertem, e também há os momentos em que alguma toma a frente. Seja em jogo ou em entrevista, por exemplo.
“Foi na hora certa porque eu acho que se a gente ficasse pensando nisso ia criar uma ansiedade, criar uma expectativa que não seria legal. Não vou nem falar que a gente planejou, porque a gente não planejou isso. No momento que coube, houve essa junção”, afirma Ana Patrícia.
O convite para reeditarem a dupla, desta vez permanentemente, veio de Duda, em 2022. Após encerrada sua última parceria, para ela Ana Patrícia era mais do que a melhor opção, era a única que fazia sentido. A dinâmica específica do vôlei de quadra, em que elas convivem o tempo todo, foi um bônus a mais na relação. nesta quarta-feira (14), basta um olhar ou um movimento para se entenderem.
“Depois da finalização do ciclo de Tóquio, era a única pessoa que encaixava com o meu perfil, com o meu jeito, e o potencial que ela tem. Então, eu chamei ela para jogar e deu tudo certo. A gente se respeita muito, entende uma a outra, isso facilita em tudo. Tanto para ter um momento de calma, às vezes tenho que ficar no meu canto ou respeitar o espaço dela, quanto a união. A gente as conhece tanto também que já é meio que automático”, diz Duda.
“A gente vive junta 24h por dia. O jeito que a gente acorda, a gente já sabe quando uma quer falar, quando a outra não quer, quando a outra quer comer, quando a outra não quer. Então, acho que a convivência fortaleceu muito esse laço nosso e acaba que a gente se respeita muito, que a gente se conhece demais. E a gente tem uma conexão muito grande de olhar e de se trocar. Um não quer falar, a outra fala”, afirma Ana Patrícia.
Juntas, foram campeãs de tudo, e seguem ávidas por mais. Agora querem mesmo é descansar após a conquista máxima em Paris, mas já pensam em Los Angeles, logicamente que uma ao lado da outra. Duda, inclusive, faz uma declaração à parceira: quer seguir pelo resto d carreira (que ainda está muito longe de acabar) com Ana Patrícia.
Eu quero terminar minha carreira com a Ana Patrícia porque eu não me vejo com outra parceira. A gente não sabe o destino, só que a gente tem uma sintonia muito grande, uma amizade que eu acho que vai além das quadras, isso ajuda muito no nosso dia a dia, porque a gente fica bem, sempre perto, vive junto. E é assim, eu quero continuar com ela, espero que ela queira também continuar comigo. Duda
Ana Patrícia mal precisou se dar ao trabalho de reagir, correspondeu à declaração da amiga com um sincero “Dã”. Para ela, também é óbvio que seguirão juntas. E Los Angeles é logo ali. “Para mais quatro anos aí, se Deus quiser. Até a próxima Olimpíadas e mais muitos anos de parceria”, completou.
ANDRÉ MARTINS / Folhapress