SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A coalizão atualmente no poder do Japão, liderada pelo conservador PLD (Partido Liberal Democrático), deve perder sua maioria nas eleições legislativas deste domingo (27), dizem projeções de diferentes empresas, confirmando pesquisas de intenção de voto.
Caso as projeções se confirmem, será a primeira vez que a coalizão não consegue a maioria desde as eleições de 2009 resultado de um escândalo de contas secretas que compromete a permanência do primeiro-ministro Shigeru Ishiba no cargo, no qual ainda não completou nem um mês.
O levantamento da emissora pública NHK, por exemplo, mostrou que o PLD, no poder durante quase toda a história pós-guerra do Japão, e seu parceiro de coalizão, o partido de centro-direita Komeito, estavam prestes a ganhar entre 174 e 254 dos 465 assentos na Câmara dos Deputados. Já o principal partido de oposição, o PDCJ (Partido Democrático Constitucional do Japão), pode ganhar entre 128 e 191 assentos.
Para obter maioria, é necessário alcançar 233 cadeiras número que o PLD tinha sozinho quando o Parlamento foi dissolvido, no dia 8. Na ocasião, o partido somava 256 cadeiras, e o Komeito, 32.
Outra pesquisa, da Nippon TV, mostrou que a coalizão governante ganharia 198 assentos, contra 157 do PDCJ, ambos bem abaixo do necessário para alcançar a maioria. O resultado pode forçar ambos a acordos de compartilhamento de poder com outras siglas para formar um governo.
Às 18h do domingo, duas horas antes do fechamento das urnas, a participação era de 29%, ligeiramente inferior aos 31,6% registrados no mesmo horário nas últimas eleições legislativas de 2021, segundo o Ministério do Interior.
“Acho que esses números são resultado de um veredicto implacável sobre o PLD (…) que vem de vários fatores, incluindo como não conseguimos resolver a questão do dinheiro político”, disse Shinjiro Koizumi, chefe de eleições da sigla, à NHK. “Foi uma luta difícil para o PLD.”
Em entrevista à TV Tokyo, Ishiba deu uma declaração no mesmo tom. “Esta eleição foi muito difícil para nós”, disse ele. O premiê ainda afirmou que aguardará os resultados finais, provavelmente previstos para as primeiras horas desta segunda (28), antes de considerar possíveis coalizões ou outros acordos de compartilhamento de poder.
Já o líder do PDCJ, Yoshihiko Noda, afirmou em uma entrevista coletiva que seu partido trabalhará com outras legendas de oposição para buscar uma mudança de governo. “Isso não é o fim, mas o começo”, disse ele. Agora, partidos menores, como o Partido Democrático para o Povo e o Partido de Inovação do Japão, podem ser essenciais para formar um governo.
Ishiba é da ala considerada moderada do PLD, mas fracassou em se distanciar de um escândalo segundo o qual fundos de campanha de 600 milhões de ienes (R$ 22,5 milhões) não teriam sido declarados. Embora tenha se comprometido a reformar o partido, o político manteve candidatos vinculados aos fundos secretos.
Durante a campanha, ele prometeu construir “um novo Japão”, revitalizar as regiões rurais e resolver a “emergência silenciosa” do declínio populacional do país por meio de medidas voltadas para as famílias, como promover o trabalho flexível. O político, porém, recuou em seu compromisso de permitir que casais tenham dois sobrenomes diferentes e nomeou apenas duas mulheres em seu gabinete.
O premiê convocou a eleição antecipada logo após ser eleito para liderar o partido no mês passado, esperando ganhar um mandato para seu cargo de primeiro-ministro. Seu antecessor, Fumio Kishida, renunciou após o apoio ao governo despencar devido ao escândalo.
O PLD detém maioria absoluta desde que voltou ao poder, em 2012, após um breve período de governo de oposição. Também perdeu o poder brevemente em 1993, quando uma coalizão de sete partidos de oposição formou um governo que durou menos de um ano.
Redação / Folhapress