SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A cobertura de mamografias de rastreamento exame para prevenir e identificar o câncer de mama em fase inicial no SUS (Sistema Único de Saúde) em todas as unidades federativas foi inferior a 35% no biênio de 2022 e 2023, aponta relatório do Inca (Instituto Nacional de Câncer) lançado no dia 1º de outubro.
A grande variação entre os estados aponta para uma desigualdade no acesso ao exame: a menor cobertura foi em Roraima, de 6,7%, e a maior no Paraná, 33,6%.
O número de mulheres rastreadas foi identificado com a implantação do Siscan (Sistema de Informação do Câncer), e, portanto, nas unidades da federação que apresentam menos de 90% da implementação do sistema nos serviços de mamografia não foi possível calcular a cobertura de rastreamento são elas: Amapá, Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.
O Siscan é restrito ao SUS e, portanto, considerou-se apenas o percentual da população feminina usuária exclusivamente do sistema.
Nos SUS, a mamografia de rastreamento é indicada para mulheres de 50 a 69 anos sem sinais e sintomas de câncer de mama, a cada dois anos. Já o procedimento nomeado apenas como “mamografia” tem finalidade diagnóstica e pode ser feito por pessoas de qualquer idade. Em 2023, foram realizadas 4,4 milhões mamografias em mulheres no SUS, sendo 395,4 mil mamografias e 4,02 mamografias de rastreamento.
Os resultados apontaram ainda que as regiões Norte e Centro-Oeste apresentam a maior parte das suas unidades federativas com menores coberturas (menos de 20%).
Para redução dessas desigualdades, é necessário acompanhar de perto a cobertura desse exame na população em cada território de responsabilidade das UBSs (Unidades Básicas de Saúde), diz Mônica de Assis, sanitarista da Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede, da Coordenação de Prevenção e Vigilância do Inca.
“Isso inclui a busca ativa de mulheres da comunidade que estão na faixa etária alvo. Ao mesmo tempo, é preciso ampliar ações educativas com as comunidades para que compreendam o que é o rastreamento e possam participar desse processo exercendo a sua autonomia. O medo do câncer e o estigma relacionado historicamente à doença, bem como receio e vergonha de fazer os exames, podem ser fatores culturais que dificultam a ampliação da cobertura”, acrescenta.
Portanto, é importante que os municípios possam aderir e otimizar os recursos destinados ao procedimento. O relatório divulga materiais de apoio que devem orientar as práticas nos municípios e estados.
A publicação aponta ainda que o Brasil teve uma melhora discreta na quantidade de mamografias de rastreamento feitas em 2023, superando o patamar pré-pandemia de 2019 na maioria dos estados. Apenas Amazonas, Alagoas, Pernambuco, Espírito Santo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul ficaram pouco abaixo da produção de 2019.
A pandemia foi responsável por uma queda de 41% na produção de mamografias de rastreamento em 2020 comparado à 2019. Já as mamografias com finalidade diagnóstica tiveram uma produção mais estável no período.
A publicação mostra avanços na adesão às diretrizes para a detecção precoce do câncer de mama ao concentrar a produção de mamografias na faixa etária que tem o balanço mais favorável entre benefício e riscos (mulheres de 50 a 69 anos), diz Assis.
Além disso, houve um aumento da oferta de punção e biópsia, recursos necessários para a investigação diagnóstica. Os números caíram em 2020 e voltaram a subir em 2021, alcançando 94% de aumento em 2023.
“Também foi observada uma redução do número de casos de câncer de mama tratados com tempo superior a 60 dias entre o diagnóstico e o início do tratamento. O tempo médio para o início do tratamento é, porém ainda elevado, assim como o percentual de casos de doença avançada”, afirma.
A legislação garante que pacientes tenham direito ao tratamento em, no máximo, 60 dias após terem o diagnóstico confirmado por biópsia.
Quanto mais inicial é a doença ao diagnóstico, mais efetivo pode ser o tratamento. O relatório destaca que, quando a mamografia tem finalidade diagnóstica, o resultado tem que ser mais ágil, pois ela tem mais chance de confirmar câncer do que as mulheres que são assintomáticas e estão fazendo mamografia de rastreamento.
Além disso, é crucial o controle da qualidade da mamografia. Uma forma de monitoramento dessa qualidade é a implementação de programas de qualidade da mamografia. O relatório aponta uma baixa adesão dos serviços radiológicos ao programa.
“Além disso, muitos serviços abandonam seus processos de avaliação em curso. É preciso ampliar a adesão para que possa haver o monitoramento tanto da segurança radiológica utilizada na aquisição das imagens, quanto da precisão dos laudos de mamografia ofertados à população”, diz Assis.
Esse projeto é uma parceria com a Umane, associação que apoia iniciativas no âmbito da saúde pública
LUANA LISBOA / Folhapress