FOLHAPRESS – Não é à toa o burburinho em torno da turnê de reunião dos Titãs. Depois de décadas separados, os integrantes remanescentes da banda de rock se reuniram no palco, com Arnaldo Antunes, Nando Reis e Paulo Miklos para shows esgotados em estádios, que viraram mais e mais datas conforme a demanda do público aumentou.
Os Titãs nunca pararam de fazer shows e nem de lançar álbuns de inéditas, sendo o mais recente deles, “Olho Furta-Cor”, do ano passado. Mas os últimos lançamentos não tiveram tanta repercussão para além dos mais aficionados pelo grupo, que também estava tocando para plateias menores.
A razão para tanta euforia com a reunião dos integrantes clássicos está no repertório que pautou essa turnê de reencontro. Os shows realizados neste ano são feitos com músicas de quando todos eles estavam na banda ou seja, dos discos lançados nos anos 1980 e 1990, o auge do grupo.
No primeiro dia deste mês, a Warner, uma das grandes gravadoras operando no Brasil, lançou o álbum “Arnaldo Antunes nos Titãs”. O disco, uma coletânea de 18 faixas, traz um recorte dessa fase áurea da banda paulistana e nada além disso.
Trata-se de uma tentativa de fazer render no streaming, em números de plays, o interesse renovado em torno do material mais antigo do Titãs. São sucessos cantados ou compostos por Arnaldo Antunes, lançados antes de 1992, quando ele saiu da banda, que vão de “Comida” a “Não Vou me Adaptar”, passando por “O Pulso”, “Porrada”, “Televisão” e “Lugar Nenhum”, entre outras canções.
Nada nesse material é inédito, e algumas músicas aparecem em versão de estúdio e ao vivo. São os Titãs da mistura de rock com new wave e música jamaicana, falando sobre desigualdade social, violência do Estado, sensação de não pertencimento e a disfunção narcotizante gerada pela TV em suma, a inquietude punk desbocada que fez a banda despontar no cenário da música brasileira.
Se essas músicas várias delas com comentários sociais e políticos do Titãs não ficaram esvaziadas de sentido, depois de tantas décadas, no Brasil pós-Bolsonaro, o mesmo não se pode dizer do formato de coletânea. Em 2023, lançar em disco uma seleção de música significa muito pouco, quase nada.
Numa época em que a indústria fonográfica ainda vendia música em suportes físicos, seja CD, fita cassete ou vinil, a coletânea tinha uma função. Era uma maneira de devolver às prateleiras das lojas, e levar ao acesso do público, obras que estavam fora de catálogo, encontrada apenas em sebos ou obtidas de segunda mão.
Era também uma maneira de recombinar canções e repertórios do mesmo artista, ou de nomes diferentes, dando aos fãs uma nova maneira de consumir determinada obra. Além do impulsionamento dado pela TV, as trilhas de novela, um tipo de coletânea, sempre foram um filão comercial importante para a indústria fonográfica no Brasil.
Com a chegada do streaming, a existência da coletânea acaba sendo um mero detalhe para o público. Num catálogo digital onde tudo é acessível a alguns cliques de distância, e com a possibilidade do próprio ouvinte recombinar canções à sua maneira por meio das playlists, esse formato acaba se tornando obsoleto. Em termos práticos, não há diferença entre uma coletânea oficial e uma playlist no streaming.
Nem a escolha de uma foto bonita para a capa muda muito essa situação, afinal o fã pode botar a foto que quiser como capa de suas playlists. Em suma, com exceção daquelas que trazem material inédito, uma coletânea em 2023 não tem nada de novo a oferecer.
No caso de “Arnaldo Antunes nos Titãs”, o que se aproveita são as mesmas canções que o fã da banda já podia ouvir desde que as plataformas de streaming chegaram ao Brasil. São músicas seminais do rock nacional, parte do que há de melhor na produção dos Titãs, mas numa embalagem anacrônica.
Talvez multiplique um pouco os plays dos artistas envolvidos no lançamento. De toda forma, isso é algo que naturalmente já está acontecendo por causa da turnê de reunião.
ARNALDO ANTUNES NOS TITÃS
– Avaliação Regular
– Quando Lançada em 1º de dezembro
– Onde Nas plataformas digitais
– Autoria Titãs
– Gravadora Warner
LUCAS BRÊDA / Folhapress