CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – Cólicas, menstruação prolongada, eliminação de coágulos, fluxo intenso e dor na lombar são sintomas estão associados à adenomiose. A maior parte das mulheres com a doença, porém, são assintomáticas, o que dificulta o diagnóstico precoce.
Em casos mais leves, é possível tratar com anticoncepcionais ou raspagem das partes uterinas afetadas. Quando descoberto em fase avançada, o tratamento pode exigir a retirada do útero.
“Cerca de 30% das mulheres com adenomiose terão indicação de histerectomia, que pode ser minimamente invasiva, por laparoscopia, realizada pelo umbigo, ou ainda por robótica, com a paciente tendo alta em 24 horas”, diz a ginecologista Daniela Quental, especialista em laparoscopia, da Sogesp (Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo).
A adenomiose tem ação inflamatória, caracterizada pela presença de células do endométrio camada interna de revestimento do útero na musculatura (parede externa) do útero. Ela é diferente da endometriose, que chega à camada externa e pode atingir outros órgãos, como ovários, bexiga e intestino.
“As doenças podem ser confundidas e coexistem, pois podem estar presentes na mesma paciente, e o tratamento é o mesmo”, diz a médica.
“É como uma torneira sob alta pressão que tem um vazamento e infiltra pela parede”, exemplifica. O processo gera incômodo durante o ato sexual e aumento no volume uterino, o que pressiona a bexiga e o intestino, provocando constipação ou vontade frequente de ir ao banheiro.
A causa pode ser genética, resultante de traumas uterinos ou cesáreas, ou ainda pelo fluxo menstrual muito intenso. “O sangue rompe a camada interna que o separa da parede e acaba infiltrando na musculatura”, afirma a ginecologista.
De acordo com a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), a adenomiose atinge entre 30% e 60% das mulheres em idade fértil e nem sempre apresenta sintomas, especialmente em estágio inicial.
Quando eles aparecem, podem ser confundidos com outros problemas, como aconteceu com a corretora de imóveis Aline Corsi, 48. Após duas cesáreas, ela começou a sentir fortes dores nas costas em 2020.
O incômodo na região lombar, que pode estar associado a dores nas pernas, é resultado da ligação do útero com a coluna por um ligamento chamado útero-sacro.
“Tinha uma queimação na coluna e na pelve. Eu travava, dava choque. Pra levantar da poltrona tinha que virar de lado e contrair o abdômen. Só conseguia dormir de lado. Mas nós mulheres acabamos por nos acostumar com a dor, achar que é normal”, relata.
Um ano depois, a corretora foi diagnosticada com adenomiose leve, mas não associou à dor lombar, que tentava amenizar com exercícios e infiltrações locais. Nada resolvia. Foi só no início de 2023, num exame ginecológico, que ela descobriu a doença avançada.
O tratamento envolveu o uso de anticoncepcionais, mas precisou de cirurgia. Apesar da tentativa, as dores continuavam e Aline optou pela retirada do útero.
“Eu nunca tinha ouvido falar, só conhecia a endometriose. Muitas mulheres sofrem por desinformação. Para mim, a cirurgia de retirada do útero foi vida. No dia seguinte eu já não sentia mais nenhuma dor”, conta ela.
Situação semelhante passou a educadora física Milena Alberti, 38. “Eu considerava minhas cólicas suportáveis, mas sempre precisava de um remedinho. Quando me queixava de dor, a médica trocava meu anticoncepcional”, recorda. “Mas a dor lombar era mais intensa.”
Na tentativa de engravidar, parou com o remédio e as cólicas aumentaram. Foi um atraso menstrual que a levou ao exame de ultrassom específico, o qual apontou adenomiose associada à endometriose severa.
“Mais da metade das pacientes com adenomiose terão também a endometriose peritonial”, afirma a ginecologista Daniela Quental. Os exames mais indicados para o diagnóstico precoce da adenomiose são a ressonância magnética da pelve e o ultrassom transvaginal, ambos com preparo para a pesquisa da doença.
MAUREN LUC / Folhapress