SANTIAGO, CHILE, E SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A renovação da equipe brasileira de judô, que iniciou no ano passado, colheu bons resultados nos Jogos Pan-Americanos de 2023, em Santiago.
Ao todo, das 15 medalhas nas categorias individuais, dez foram de atletas com menos de 25 anos, que ganharam, aliás, cinco dos sete ouros conquistados.
É verdade que os melhores atletas do mundo não estão nas Américas, e que as principais competições, aquelas que definirão até onde chegará a nova geração dos judocas brasileiros, são os Jogos Olímpicos e os Mundiais.
Porém, a histórica campanha do Pan, a melhor do Brasil na modalidade, dá sinais de que a renovação pode gerar bons frutos.
Baby passa experiência aos mais jovens: ‘Geração boa’
A nova geração de judocas é bem vista entre os nomes mais experientes da modalidade. Medalhista olímpico em 2016, Rafael Silva, o Baby, é o mais velho dos atletas que foram a Santiago. Ele elogia os jovens, que alcançaram bons resultados nas categorias de base e estão buscando seu espaço.
“É uma geração boa, fizeram uma boa transição para o sênior. Estão apostando cada vez mais nos mais jovens, colocando para rodar nas competições. Essa renovação é natural, e acho que estamos construindo um bom time para Paris”, afirma o judoca de 36 anos ao UOL.
Baby diz que entende seu papel – e dos outros mais experientes – na transição desses atletas à equipe e às principais competições. Simultaneamente, se sente energizado pela chegada da garotada.
O judô tem essa relação do mais velho tentar transmitir a experiência. A gente chama de senpai kohai, na terminologia japonesa. Eu tento passar um pouquinho de tranquilidade. Às vezes, não é nem aconselhar. Mas já passei por algumas situações, converso com a molecada. Rafael Silva.
Baby comenta sentir um ânimo especial dos atletas – de todas as idades – para disputar os Jogos Olímpicos, algo que, principalmente com os mais novos, lhe serve de combustível: “O cara que nunca lutou nas Olimpíadas está com vontade, querendo chegar. A Olimpíada é sempre uma última chance, é só aquele momento. Me sinto bastante feliz por eles, de poder sentir essa energia e pegar um pouco pra mim”.
Medalhista de bronze em Santiago, Beatriz Souza destacou a importância do legado que Baby vem construindo na seleção brasileira de judô. Esse foi o último Pan-Americano para o atleta de 36 anos, que ainda pretende competir em Paris.
“A gente tem muito o que se inspirar. A história foi construída por outras gerações. A gente se dedica muito para manter o Brasil no mais alto patamar possível. Essa geração vem querendo muito, isso é o principal. Eu, particularmente, me inspiro muito no Baby, ele é meu companheiro de treino também. Eu fico muito feliz de poder ter essa troca e experiência com ele. Ajuda muito para a gente ter motivação em continuar essa história”, destacou Bia.
Bronze nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, e três vezes medalhista em Pan-Americanos (ouro, prata e bronze), Flávio Canto falou ao Destino: Paris, do UOL Esporte, com empolgação sobre os judocas mais jovens.
Com alguns dos nossos principais atletas acabou que o ouro não veio porque tinham adversários fortes na categoria. Mas a Alexia Nascimento venceu, a Samanta Soares, o Michel Augusto ganhou em uma categoria que não ganhávamos há muito tempo. Tivemos surpresas muito boas de uma geração que tá chegando. Precisamos ter essa renovação. Flávio Canto.
Os nomes da nova geração que medalharam no Pan
Seis dos 15 medalhistas do judô em Santiago têm entre 18 e 23 anos. Desses, três conseguiram classificação ao Pan de 2023 após o ouro nos Jogos Pan-Americanos Júnior de Cali, em 2021.
Michel Natan Augusto – 18 anos: ouro em Santiago-2023.
Kayo Santos – 21 anos: bronze em Santiago-2023; ouro no Pan-Americano Júnior de Cali, em 2021.
Alexia Vitória Nascimento – 21 anos: ouro no Pan-Americano Júnior de Cali, em 2021; ouro em Santiago-2023
Gabriel Falcão – 22 anos: ouro no Pan-Americano Júnior de Cali, em 2021; ouro em Santiago-2023.
Guilherme Schmidt – 22 anos: ouro no Grand Slam da Turquia, em 2022; ouro em Santiago-2023.
Willian Lima – 23 anos: ouro no Mundial Júnior de 2019, em Marrakesh; prata no Grand Slam da Turquia, em 2022; ouro em Santiago-2023
Um pouco mais experientes que os companheiros da lista acima, com participações em Jogos Olímpicos e Pan-Americanos, outros quatro atletas têm potencial e idade para participar de ao menos mais dois ciclos olímpicos.
Larissa Pimenta – 24 anos: ouro em Lima-2019; ouro em Santiago-2023
Amanda Lima – 24 anos: bronze em Santiago-2023
Bia Souza – 25 anos: bronze em Lima-2019; prata no Mundial de Tashkent, em 2022; bronze no Mundial de Doha, em 2023; bronze em Santiago-2023
Daniel Cargnin – 25 anos: prata em Lima-2019; bronze nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020; prata em Santiago-2023
Bom ensaio para Paris-2024
Técnico da equipe masculina de judô, Kiko Pereira viu o Pan de Santiago como um bom ensaio para as Olimpíadas de Paris. Satisfeito com o desempenho da seleção brasileira, o treinador está com boas expectativas para a competição que ocorre em nove meses.
“O saldo geral foi muito positivo, estou feliz. Conseguimos bater o recorde de Guadalajara e isso foi muito importante. Quero deixar um abraço especial a todos os clubes que constroem o judô no Brasil, além da CBJ e do COB, que nos dá todo o suporte. Daqui a nove meses vamos nos encontrar novamente em Paris”, analisou Kiko.
Esse ambiente, inclusive de zona mista aqui, para nós do judô não é tão comum. Esse é um ambiente que vamos encontrar lá em Paris. Há muito mais luzes, o tatame elevado. Por isso, os jogos Pan-Americanos são muito importantes para chegarmos aqui.
Kiko Pereira, técnico da equipe masculina.
BEATRIZ CESARINI E GUILHERME PADIN / Folhapress