LONDRES, REINO UNIDO (UOL/FOLHAPRESS) – A julgar pelo vídeo publicado pela Williams mostrando o trabalho de reconstrução dos carros de Alex Albon e de Franco Colapinto após o GP de São Paulo, é difícil de imaginar que eles conseguiriam estar no grid com ambos os pilotos no GP de Las Vegas se o campeonato não tivesse uma folga maior que o normal nessa fase final.
A Williams é, de longe, a equipe que mais sofreu com estragos por acidentes. E a maior parte deles foi gerada pelo piloto mais experiente da equipe, Alex Albon, que teve um acidente muito forte na Austrália, depois bateu novamente no Japão, duas vezes na corrida do México e teve outra pancada forte em São Paulo.
É difícil saber com exatidão, mas as estimativas são de que Albon tenha custado quase 5 milhões de dólares para a Williams. Para completar, seu companheiro na primeira parte da temporada, Logan Sargeant, também teve suas pancadas – a pior delas, ironicamente, quando tinha um carro cheio de partes novas na Hungria. E o substituto do americano, Franco Colapinto, bateu duas vezes em São Paulo.
Foram essas batidas das duas últimas provas que deixaram a Williams em uma situação difícil. As primeiras partes dos carros destruídos foram recebidas pela equipe na madrugada de sexta-feira e os mecânicos já estavam a postos para começar o trabalho de reconstrução. Mas muitos elementos tiveram que ser refeitos e os carros só foram montados na quinta-feira seguinte, ainda na fábrica do time.
Ou seja, se o intervalo entre os GPs de São Paulo e Las Vegas seguisse o padrão de 12 dias entre a corrida e a primeira atividade de pista da etapa seguinte, o carro teria que ser enviado, no máximo, na segunda. E não estava pronto.
Mas a Williams usou bem a folga maior no calendário e confirmou que estará neste fim de semana em Vegas com os dois carros “na melhor configuração possível”, como salientou o chefe James Vowles.
Isso porque o grande problema quando há uma sequência de acidentes como esta é efetuar o conserto ficando dentro do teto de gastos que todas as equipes precisam respeitar. O teto atualmente está em cerca de 146 milhões de dólares (o cálculo base é de 135 milhões, mas sprints e outros detalhes inflacionam o valor real) e as equipes têm dedicado 5 a 10% para danos de acidentes. O total gasto pela Williams com reparos está perto dos 10 milhões de dólares.
Por um lado, você não quer comprometer muito com os consertos e deixar de investir no desenvolvimento do carro, então os times buscam chegar a um equilíbrio. Mas, quando a temporada já está no final, você fica sem ter muito de onde tirar.
O teto também vai influenciar no tipo de conserto que você pode fazer. A peça mais cara é o chassi, que pode passar dos 700 mil dólares. É normal que uma equipe tenha quatro chassis em uma temporada, mas o ideal é não passar disso.
Mas só batidas mais fortes vão danificar o chassi. O mais normal é que haja danos nas superfícies aerodinâmicas e, dentre elas, há uma peça que vai sofrer mais: o assoalho, a parte mais importante para o desempenho aerodinâmico de um carro.
Por ser uma peça grande e toda feita de fibra de carbono, as equipes tentam fazer remendos ao invés de trocar o assoalho de uma vez só. E isso vai gerando queda no rendimento e afeta até mesmo as equipes grandes.
A Mercedes já declarou que teve que cancelar o desenvolvimento da parte final do campeonato depois das duas batidas fortes de George Russell nos EUA e no México. E Sergio Perez, por sua vez, já reclamou algumas vezes que está com um assoalho já muito remendado. E a justificativa da Red Bull é de que foi ele quem sofreu a grande maioria dos acidentes, e eles não podem arriscar não ter como dar o melhor equipamento possível a Max Verstappen, pensando em ficar dentro do teto de gastos até o final do campeonato.
JULIANNE CERASOLI / Folhapress