CAMPINAS, SP, E JOANESBURGO, ÁFRICA DO SUL (FOLHAPRESS) – Chegando aos 60%, a apuração parcial da eleição sul-africana mantém o CNA (Congresso Nacional Africano), que governa desde o fim do apartheid, em 1994, em um revés histórico.
Caso o resultado se mantenha e o partido não consiga os 51% para uma vitória autônoma, a sigla do líder Nelson Mandela (1918-2013) terá que se aliar a algum outro partido para conseguir eleger o presidente.
Às 6h40 desta sexta-feira (31), o CNA se mantinha na liderança com 41,88% dos votos, seguido por AD (Aliança Democrática), partido de Centro Direita, que aparece com 23,22%. Na terceira colocação figura o MK, do ex-presidente Jacob Zuma (2009-2018), com 11,52%. 59,09% das urnas haviam, precisamente, sido apuradas.
É provável que CNA tenha que escolher um caminho para se manter no poder: uma aliança com a AD, segunda colocada na eleição, o que daria uma feição moderada e pró-mercado ao governo, ou fazer o movimento oposto, coligando-se com um dos partidos populistas de esquerda, o que deve descredibilizar o país, visto que o partido defende estatização de boa parte dos serviços.
Fato é que CNA caminha para sua primeira eleição sem computar a maioria dos votos, o que evidencia um desgaste depois de 30 anos no poder.
Na última eleição, em 2019, a legenda obteve 57,5%, mas AD já aparecia no retrovisor, e registrou 20,77%.
O cenário, se confirmado, terá o efeito de um terremoto político no país, com repercussões em toda a África. Não é comum, afinal, um partido de libertação nacional, como é o CNA, ser rechaçado dessa forma pelos eleitores no continente.
CNA lida com um histórico de acusações por corrupção e incompetência na gestão do país. A África do Sul tem níveis recordes de desemprego e criminalidade, além de sérios problemas de infraestrutura, com sucessivos apagões, por exemplo.
A depender do impacto da derrota, o próprio presidente do país, Cyril Ramaphosa, pode ser sacrificado, bastando para isso uma decisão do partido. Nesse caso, o mais cotado para assumir o comando da legenda, e do país, seria seu vice, Paul Mashatile.
Os resultados finais devem ser divulgados pela comissão eleitoral no próximo domingo (2).
A eleição realizada na quarta-feira (29) teve filas longas e diversos problemas de organização, o que fez a votação ser estendida para além do prazo previsto, de 21h.
O comparecimento deve ficar em torno de 58%, um pouco abaixo das projeções iniciais, de que poderia passar de 60%. Isso pode ser atribuído em parte ao fato de que muitos desistiram de votar em razão do caos nas zonas eleitorais.
A África do Sul tem hoje uma das mais altas taxas de desemprego do mundo (32%) e uma crise energética que por vezes deixa a população sem eletricidade por mais de dez horas por dia.
O país, um dos maiores produtores mundiais de ouro e platina, recebe turistas do mundo inteiro em seus modernos aeroportos, mas, segundo o Banco Mundial, é um dos mais desiguais do planeta, com milhões de pessoas ainda vivendo abaixo da linha da pobreza.
LUIS EDUARDO DE SOUSA E FÁBIO ZANINI / Folhapress