PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), disse neste domingo (5) que 70% da população da capital gaúcha enfrenta desabastecimento de água após o rio Guaíba transbordar e atingir 5,3 metros, o maior nível em sua história.
Para tentar reduzir o consumo de água, Melo pediu aos moradores da capital gaúcha que tenham casas no litoral que deixem a cidade por alguns dias. O trajeto de Porto Alegre até as praias, no entanto, só pode ser feito pela RS-040, por Viamão, já que há interdições nas saídas da zona norte da cidade.
O prefeito também suspendeu as aulas em Porto Alegre por três dias. Segundo ele, essas medidas são importantes para que ambulâncias e veículos envolvidos em operações de resgate e apoio possam “ter mais liberdade para trabalhar na cidade”.
“O caminhão da prefeitura não pode ter o mesmo tratamento que tem um carro particular”, disse. “Agora eu preciso ter uma cidade mais limpa”, afirmou, referindo-se à liberação das vias.
Quatro das seis estações de tratamento de água em Porto Alegre estão com o funcionamento interrompido em razão das cheias. “A estação de captação de água das ilhas [o bairro Arquipélago] foi arrastada. Não sei em quantos dias o DMAE [Departamento Municipal de Água e Esgotos] vai construí-la. Todas as casas de bomba foram afetadas”, disse.
“Só tem uma solução para tratar água nesses quatro lugares e manter o tratamento nas outras duas: tem que baixar o rio”, disse o Melo. “Não é que elas não estão funcionando, elas não podem ser ligadas. Se eu ligar elas, estouro todo o sistema. E aí eu não sei se eu vou levar dez dias, quatro dias, cinco dias para recuperar.”
O prefeito se reuniu com o presidente Lula (PT), o governador Eduardo Leite (PSDB), ministros e outras autoridades em Porto Alegre neste domingo para debater as ações de resgate e reconstrução das cidades atingidas por enchentes e chuvas no Rio Grande do Sul desde segunda-feira (29).
Lula afirmou que vai destravar obstáculos da burocracia para garantir o socorro ao estado e prometeu ações de longo prazo, com a criação de um “plano de prevenção de acidente climático”.
Caminhões-pipa sem combustível
Com as estações de tratamento paradas, caminhões-pipa têm sido utilizados para abastecer algumas regiões da cidade, mas a dificuldade de acesso a combustível pode travar esse serviço também. “O caminhão do DMAE não funciona sem diesel, e está faltando. Tem que abastecer, e o aeroporto está fechado”, diz Melo.
Também está sob análise a contratação de um serviço emergencial para tratar água, mas o prefeito afirma esse sistema não é “singelo”. “A engenharia do DMAE está tratando disso comigo para ver se tem disponibilidade, porque daqui a pouco para instalar demora mais do que recuperar. Tudo isso tem que ser com muita responsabilidade”, diz.
Além das ilhas, há dois pontos da cidade, segundo Melo, que precisam de cuidados extras: os arredores da Arena do Grêmio e o entorno da região da Fiergs, onde o dique foi extravasado para não arrebentar.
CARLOS VILLELA / Folhapress