SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A nova redução da Selic para 10,75% nesta quarta-feira (20) reduz a rentabilidade de ativos de renda fixa, em especial, os pós-fixados, que acompanham a variação da taxa de juros. Isso deixa os produtos prefixados mais vantajosos, apontam analistas.
Para eles, os títulos com a remuneração híbrida, que combinam juros prefixados e a inflação ou o DI (semelhante à Selic) acumulados no período são a melhor opção na renda fixa neste momento.
Nesta quarta, era possível adquirir títulos prefixados do Tesouro Direto com juro anual acima de 10% e vencimento a partir de 2027. No caso dos títulos IPCA+, os juros prefixados que os acompanhavam eram 5,66% e 5,77% nos vencimentos de 2029 e 2035, respectivamente.
Considerando que o mercado espera uma inflação abaixo de 4% ao ano até 2027 e uma Selic de 8,50%, esses títulos se mostram vantajosos no longo prazo, com rentabilidade real anual (descontando o IPCA) perto de 6%.
“Títulos pós-fixados passam a rentabilizar menos [com cortes na Selic] e perdem a atratividade. Por outro lado, os prefixados, para quem já tem esse ativo na carteira, continuam rendendo a mesma coisa, e passam a ser mais atrativos”, diz Rafael Haddad, planejador financeiro do C6 Bank.
Levando em conta a incidência de Imposto de Renda, há instrumentos ainda mais rentáveis, aponta o especialista. Segundo seus cálculos, CDBs a 112% de CDI (que acompanha a Selic) têm uma rentabilidade líquida real no mesmo patamar, a 5,44%, considerando os próximos 12 meses. Debêntures incentivadas (isentas de IR) a 96% do CDI rendem ainda mais: 5,79%.
Para capturar a maior rentabilidade possível ofertada pela renda fixa, reduzindo riscos, a chave é diversificar, diz ele.
“Cada tipo de ativo, cada indexador, se beneficia em um cenário diferente. E é um cenário que está sempre mudando, é difícil de prever. Daí a importância de sempre diversificar”, afirma Haddad.
“Ainda há prêmio nos prefixados, e os que também trazem a variação do DI e do IPCA trazem uma boa diversificação para o portfólio”, afirma Guilherme Sharovsky, chefe de crédito privado da Bloxs Capital Partners.
Nesta classe de produtos híbridos, ele recomenda as novas emissões de debêntures incentivadas após mudanças promovidas pelo governo federal neste mercado, restringindo as emissões de CRI e CRAs (certificados de recebíveis imobiliários e do agronegócio) e ampliando a possibilidade de ofertas incentivadas.
“Há boas emissões acontecendo, o que gera uma oportunidade de curto prazo bem interessante”, diz Sharovsky.
Segundo Luis Garcia, diretor da SulAmérica Investimentos, as mudanças na emissão de títulos mexe mais com a renda fixa do que a mudança na Selic, favorecendo as debêntures.
Ele também recomenda o investimento em fundos de crédito, de renda fixa ativos (em que há um gestor ajustando o portfólio com frequência) e imobiliários, “desde que com boa qualidade de risco”.
Outro efeito da queda da Selic é a redução da diferença de juros entre Brasil e Estados Unidos, o que tende a desvalorizar o real ante o dólar, fortalecendo a inflação.
Considerando a expectativa do mercado de os EUA cortarem sua taxa de juros apenas em junho, é possível que o IPCA seja impactado.
Caio Schettino, chefe de alocações da Criteria trabalha com esse cenário e recomenda que o investidor se proteja da inflação e de uma eventual alta do dólar.
“Hoje, vemos títulos de dívida nos EUA com uma rentabilidade em dólar de mais de 8%, que é um nível muito interessante, especialmente com a expectativa de corte de juros por lá este ano”, diz Schettino.
Segundo o especialista, outra oportunidade de investimento nos mercados americano e brasileiro são as empresas listadas em Bolsa, mas com baixa capitalização, chamadas de small caps.
“O Russell 2000, que seria o nosso índice SmallCap, está com uma queda do seu pico em torno de 20%, enquanto o S&P registra máxima histórica”, afirma Schettino.
Outras oportunidades na Bolsa de Valores brasileira, segundo ele, são ações ligadas ao consumo doméstico, dada a queda de juros e o aumento da massa salarial, e as de empresas mais alavancadas, como as de construção civil, já que uma Selic menor reduz o peso financeiro da dívida.
Garcia, da SulAmérica, também recomenda small caps e pequenas petroleiras, como 3R Petroleum e PetroRio.
POUPANÇA AINDA VALE A PENA?
Diferentemente de outros produtos de renda fixa, a poupança não tem a sua rentabilidade alterada com a redução da Selic.
Por lei, ela continua rendendo 6,17% + TR (Taxa Referencial) ao ano, o que deve totalizar 7,73% nos próximos 12 meses, projeta Haddad, com uma TR de 1,56%.
Considerando a inflação, ele estima um ganho líquido real de 4,08% no mesmo período -o investimento é isento de IR. Dessa forma, o dinheiro da poupança não deve se desvalorizar, mas há outros produtos de renda fixa mais rentáveis e com liquidez semelhante, como o Tesouro Selic.
JÚLIA MOURA / Folhapress