RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Moradores de Copacabana têm relatado um aumento da sensação de insegurança do bairro da zona sul carioca este ano, mas os dados oficiais de violência indicam que os números estão em um patamar abaixo do nível pré-pandemia. E, apesar de altos, também estão distantes dos recordes da série histórica.
Em novembro, por exemplo, o número de roubos foi praticamente igual ao registrado no mesmo mês do ano passado 67 casos em 2022, 60 este ano.
No acumulado dos 11 primeiros meses, foram 592 roubos, um a menos do que o registrado no mesmo período de 2022. Em 2019, antes da pandemia de Covid-19, tinham sido 921.
Em relação aos furtos, há uma leve alta. São 142 casos em 2023, contra 126 em 2022. No acumulado do ano, o crescimento é de 34% 1.504 este ano, contra 1.122 no ano passado. Novamente, fica abaixo de 2019, que teve 1.899 casos em 11 meses.
Os números são do ISP (Instituto de Segurança Pública), órgão estadual responsável por tabular os dados de violência no estado. A Folha de S.Paulo teve acesso aos números de novembro deste ano, que ainda não foram divulgados.
Moradores que conversaram com a reportagem afirmam que os roubos no bairro estão cada vez mais violentos, e os criminosos, mais agressivos. Todos eles apontam que isso também contribui para o aumento da insegurança.
Um dos casos recentes que mais repercutiu no Rio de Janeiro foi o ataque sofrido pelo empresário Marcelo Rubim Benchimol, 67, no domingo (3). Ele foi agredido e roubado no bairro por um grupo de jovens.
A ação foi flagrada por câmeras de segurança. Nas imagens, é possível ver quando ele desmaia após levar um soco. O empresário sofreu os ataques após defender uma mulher de um roubo. Ele passa bem.
Além disso, um fã da cantora Taylor Swift foi morto a facadas na praia de Copacabana em 19 de novembro. A vítima foi identificada como Gabriel Mongenot Santana Milhomem Santos, 25. O caso foi registrado como latrocínio.
“Com certeza, a onda de pânico em Copacabana não tem a ver com os índices, mas com as imagens [dos crimes] e o imaginário de perigo”, disse a cientista social Silvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes.
Esta semana também viralizaram imagens de assaltos ocorridos no último final de semana, que teve praias lotadas e termômetros com máxima de 36,3ºC. Nesta quinta (7), a Polícia Militar afirmou que houve falha no policiamento e que irá aumentar o efetivo e número de abordagens.
Os casos recentes, além de outros relatos que circulam nas redes sociais, levaram grupos de moradores a se organizarem para sair pelas ruas da zona sul à caça de supostos ladrões. Alguns utilizavam soqueiras de metal e tacos de beisebol. A ação é ilegal e está sendo investigada pela Polícia Civil.
Até agora, o mês que mais teve roubos no bairro em 2023 foi o de agosto, quando ocorreu o show do DJ Alok na da praia de Copacabana. Na noite da apresentação, cerca de 500 suspeitos chegaram a ser detidos, dos quais 34 ficaram presos.
Naquele mês foram registrados 109 roubos no bairro. Já janeiro foi o mês com mais furtos, com 208 casos registrados. Entre os roubos, a taxa mais alta foi em 2008, com 1.134 casos.
Na série histórica, que começa em 2003, o recorde de furtos no período de janeiro a novembro foi 2014, com 2.962 casos naquele ano, a cidade recebeu jogos da Copa do Mundo. Naquele ano foram 2.962 casos.
De acordo com Ramos, os índices podem ser mais altos do que os registrados, já que muitas pessoas não dão queixa no caso de furtos e roubos de pequenos objetos ou de valores menores. “A criação de grupos de vigilantes que se sentem no direito de tomar conta das ruas dando lições em jovens pobres e negros que vivem nas ruas ou andam nas ruas de bairros abastados é um acontecimento gravíssimo e precisa ser contido imediatamente pelas autoridades”, disse ela.
BRUNA FANTTI / Folhapress