Com Anitta, Alok e Xamã, brasileiros levam protesto indígena ao Grammy Latino

MIAMI, EUA (FOLHAPRESS) – Os brasileiros podem ser ainda coadjuvantes na cerimônia do Grammy Latino, com indicações em poucas das categorias principais —aquelas que não são dedicadas apenas à música cantada em português.

No entanto, eles chamaram a atenção ao usarem seu trabalho como plataforma para reivindicações políticas e, ao mesmo tempo, mostrarem os gêneros criados em seu país a partir das fricções sociais, caso do funk de Anitta e do rap de nomes como Xamã.

Ainda que a cerimônia, que aconteceu na noite de quinta-feira (14) em Miami, não tenha tido manifestações explícitas, houve alfinetadas a Donald Trump, a exemplo do discurso de Luis Fonsi, do megahit “Despacito”. O artista lembrou a piada insultuosa que viralizou num comício do republicano, ao dizer que seu prêmio de melhor álbum pop vocal, por “El Viaje”, iria logo para Porto Rico, “o lugar mais belo do mundo” —o que bastou para a plateia irromper em gritos e aplausos incessantes.

Um dos queridinhos do cinema e do teatro musical americano contemporâneos, Lin Manuel-Miranda, também de origem porto-riquenha, afirmou que queria dedicar a homenagem que recebeu do Grammy ao país de onde vieram seus pais e “lembrar a Casa Branca e o Congresso que somos humanos”.

Os artistas dizem ver uma ameaça generalizada à cultura, sobretudo àquela feita por latino-americanos, com a volta de Trump. Foi o caso de Xamã, que cruzou o tapete vermelho com um blazer verde e um cocar. Vencedor da melhor interpretação urbana em língua portuguesa, ao lado de Gabriel O Pensador e Lulu Santos, com “Cachimbo da Paz 2”, ele lembrou sua origem pobre no Rio de Janeiro.

“O Grammy é uma plataforma para dizermos que existem muitas coisas que acontecem com os povos indígenas no Brasil, como violência e descaso”, afirmou o artista, descendente do povo pataxó. “A gente sofreu muito de 2018 a 2022, quando comecei a fazer rimas nas ruas, me politizei. Com o governo Bolsonaro, a cultura ficou quebrada, e nos Estados Unidos não é diferente.”

Quem também atraiu olhares foi Alok, ao chegar à cerimônia acompanhado de sete lideranças indígenas, com seus cocares, que criaram um contraste com os looks do tapete vermelho e podiam ser vistos de longe. O grupo concorria à melhor interpretação de música eletrônica latina com “Pedju Kunumigwe”, parte do último álbum do DJ, “Futuro Ancestral”, que reúne cantos de oito povos originários mesclados com suas batidas eletrônicas.

“Quando lancei este álbum, nunca pensei em jogar o jogo mercadológico, em fazer sucesso. Queria trazer conscientização e amplificar as vozes indígenas. A gente fala das florestas, mas somos desconectados delas, e os cantos podem criar essa ponte”, disse o DJ, que logo passou a palavra para Célia Xakriabá, deputada federal do PSOL que esteve ao seu lado na produção do disco.

“Quando Alok me convidou, estava puxando o movimento da luta territorial e disse que não podia, mas me convenci de que era a oportunidade de trazer para o palco os 1,7 milhões de indígenas que estão por todo o Brasil e são a linha de frente para as questões ambientais no país”, afirmou Célia.

A cerimônia não foi de grandes vitórias para os brasileiros. Xande de Pilares, que concorria ao prêmio máximo com o álbum em que interpreta clássicos de Caetano Veloso, perdeu para o dominicado Juan Luis Guerra, conhecido por seu hit “Burbujas de Amor”. Anitta, que disputava a gravação do ano com “Mil Veces”, de seu álbum de funk feito para exportação, também perdeu para Guerra.

No entanto, assim que Anitta subiu ao palco, a plateia ficou extasiada ao vê-la interpretar “Mas que Nada”, ao lado de Tiago Iorc, em tributo a Sergio Mendes, o músico brasileiro mais famoso nos Estados Unidos, que morreu em setembro. Era a prova de que, embora o Brasil tivesse uma presença tímida na premiação, sua música era uma das mais lembradas da noite.

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O jornalista viajou a convite do Greater Miami Convention & Visitors Bureau

PEDRO MARTINS / Folhapress

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