Com avanço tímido, prefeitos negros são 3 de cada 10 dos eleitos no 1º turno

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – De cada 10 prefeitos eleitos no primeiro turno neste domingo (6), 3 se autodeclararam negros, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ao todo, são 1.841 chefes do Executivo negros, sendo 127 pretos e 1.714 pardos.

A vitória desses candidatos foi um fato inédito em mais de 480 cidades, que terão chefes do Executivos negros pela primeira vez desde 2016, quando a informação passou a ser coletada pelo TSE.

Prefeitos brancos continuam como a maioria dos eleitos, representando 65,7% do total. Amarelos e indígenas respondem por 0,2%, cada um, das vagas no principal cargo dos Executivos municipais.

A proporção de prefeitos negros eleitos no primeiro turno oscilou de forma positiva, com um aumento de dois pontos percentuais em relação à eleição anterior. Em 2020, dos eleitos no primeiro turno, 32% eram negros; em 2016, representavam 29%.

Os resultados municipais dessa primeira etapa de votação não se aproximam da realidade racial brasileira. A população do Brasil é composta por 55,5% de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas e 43,4%, brancas, de acordo com dados do Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Indígenas e amarelos representam, respectivamente, 0,6% e 0,4%.

Análise da Folha de S.Paulo mostra que 482 cidades elegeram prefeitos negros pela primeira vez neste primeiro turno.

A maior parcela desses municípios está no Nordeste, com 184 cidades. Em seguida, vêm o Sudeste (149), Centro-Oeste (57), Sul (50) e Norte (42). Com isso, ainda restam 339 prefeituras que nunca tiveram prefeitos negros.

Para identificar essas cidades, a reportagem buscou a declaração racial dos candidatos desde 2016, primeira eleição municipal que essa informação passou a ser coletada pelo TSE

O número de prefeitos negros, entretanto, pode aumentar no segundo turno, marcado para 27 de outubro, e alcançar o patamar de 1.845 nomes. Isso porque, segundo análise da reportagem, quatro cidades cidades terão a disputa entre negros competindo por uma vaga nos Executivos municipais.

É o caso de Olinda (PE), em que a segunda rodada de votação terá a disputa entre Vinicius Castello (PT), que se autodeclara preto, e Mirella (PSD), que se autodeclara parda. No primeiro turno, Castello saiu em vantagem com 38,7% dos votos, enquanto Mirella teve 30%.

Outro cenário que pode aumentar a quantidade de prefeitos negros acontece em outros 17 municípios, que terão o segundo turno entre brancos e negros.

As cidades Rio Branco, Boa Vista e Maceió são as únicas capitais com prefeitos negros até o momento. O quadro pode mudar no segundo turno, quando haverá disputa em 8 capitais entre candidatos brancos e negros.

Os dados do TSE mostram ainda que, de todos os eleitos, os homens negros representam 29,3% dos que conquistaram uma vaga, enquanto as mulheres são 4,4%. Em números absolutos, são 240 mulheres negras no Executivo municipal e 1.601 homens.

Em 2020, essa proporção era de 28,2% de homens negros e 3,9% de mulheres negras.

A maioria dos prefeitos negros são de centro, representando 49,1% dos eleitos no primeiro turno. Direita e esquerda são, respectivamente, 34% e 16,9%. Para a definição sobre ideologia, foi usado o GPS partidário, modelo estatístico criado pela Folha de S.Paulo para medir a proximidade entre as legendas a partir de quatro variáveis.

Esta é a segunda eleição municipal consecutiva em que as candidaturas autodeclaradas negras são proporcionalmente maiores do que as brancas. Segundo dados do TSE, 188 mil pardos e 51,7 mil pretos pleiteiam uma vaga na disputa eleitoral deste ano. Juntos, eles somam 239,7 mil e representam 52,7% de todas as inscrições.

A representatividade diminui quando se analisa a situação racial por cargo a ser disputado. De todos os candidatos a prefeito, 61,9% são brancos, enquanto 37,2% são negros; o mesmo cenário se repete entre os concorrentes às vice-prefeituras.

Os números fazem referência aos dados atualizados às 0h09 do dia 7 de outubro de 2024, com 99,99% das urnas apuradas.

NATÁLIA SANTOS E NICHOLAS PRETTO / Folhapress

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