Com caixa em alta, empresas elevam recompra de ações

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Boa parte dos analistas espera que o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro vá terminar o ano em cerca de 3%, mais uma vez superando as estimativas iniciais do mercado. A atividade econômica mais forte pode ser aferida na posição de caixa das companhias.

Segundo a diretora de análise de empresas do Santander, Aline Cardoso, apesar das preocupações com as contas públicas, que podem trazer problemas para o futuro, neste momento as empresas estão conseguindo elevar a lucratividade e diminuir suas dívidas graças ao crescimento da economia do país e ao mercado de trabalho aquecido.

“As empresas estão saudáveis. A principal causa para isso é que o PIB está crescendo 3%, o desemprego está muito baixo, as vendas das empresas estão bem e as margens estão saudáveis. Elas passaram por um período de aumento de dívida durante a pandemia, mas vieram, de lá para cá, desalavancando [diminuindo o endividamento de] seus balanços”, diz a analista.

Um indicativo de que a geração de caixa das companhias do país está forte é o aumento da recompra de suas ações. “A empresa gera caixa, com aquele capital ela pode investir mais, ela pode distribuir para os acionistas ou ela pode recomprar suas ações”, afirma Cardoso.

Em todo o ano passado, do total das companhias com registro ativo na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), 36 haviam realizado recompra de ações. Neste ano, 66 companhias já recompraram seus próprios papéis até 1º de outubro, uma elevação de 83%. Segundo Cardoso, o patamar atual de recompra de ações é o maior dos últimos cinco anos.

Entre as companhias que fazem parte do Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, também foi observado aumento de recompra de ações nos últimos trimestres. Segundo levantamento da Elos Ayta Consultoria, das 83 companhias que faziam parte do Ibovespa até junho deste ano, 30 empresas aumentaram, no período de nove meses (de setembro de 2023 a junho de 2024), a quantidade de ações em tesouraria em relação ao total emitido no mercado.

Outras 29 empresas não mudaram a situação de ações em tesouraria nesse período, enquanto 24 companhias diminuíram a quantidade de ações em tesouraria em relação ao que tinham antes.

Mas mesmo dentro das que diminuíram a quantidade de ações em tesouraria, algumas fizeram recompra de ações, como é o caso da Vibra Energia.

Segundo Einar Rivero, CEO da Elos Ayta, o que explica a diminuição das ações em tesouraria nos casos como o da Vibra é que, após a recompra, a empresa decidiu cancelar esses papéis. Ele diz que essa manobra ajuda a valorizar os acionistas da companhia, já que concentra o montante de ações nas mãos dos detentores dessas ações, aumentando o preço do papel.

Em fato relevante divulgado ao mercado em julho deste ano, a Vibra disse que a “decisão da administração pela abertura de novo programa [de recompra de ações] baseia-se na percepção acerca do potencial de criação de valor da companhia”.

Segundo Aline Cardoso, do Santander, além da atividade econômica mais forte, o que tem levado as empresas a recomprarem suas ações é a sensação de que esses papéis estão baratos.

“Geralmente a empresa recompra as ações quando acha que o valuation [avaliação do ativo] não está refletindo o valor justo da empresa”, diz. “As ações estão realmente muito baratas quando a gente olha para o índice de preço-lucro do Ibovespa hoje. O valor está em oito vezes contra uma média histórica de 11 vezes nos últimos dez anos. Então, de fato, as empresas estão com um valuation muito atraente”, completa.

No fim do mês passado, a JBS também anunciou um programa de recompra de ações. Em fato relevante anexado na CVM, a companhia do setor de carnes disse que o plano de recompra tinha “por objetivo maximizar a geração de valor para o acionista por meio de uma administração eficiente da sua estrutura de capital”.

O programa de recompra das ações aconteceu após a companhia anunciar, no fim de abril, a emissão de R$ 1,8 bilhão de CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio).

Segundo Cardoso, outro fator que tem levado a um aumento da recompra de ações é justamente a taxa de retorno interno das empresas. Enquanto essas companhias estão captando recursos no mercado via emissão de dívidas de forma barata, muitas vezes abaixo de títulos do Tesouro indexados à inflação, a 6% ou 6,5%, elas recompram suas ações gerando um valor muito superior, a cerca de 13%.

“Eu acho que isso explica muito dessa aceleração de recompra de ações neste ano. As empresas estão captando dívida para recomprar suas ações”, diz.

A analista alerta, porém, que com o novo ciclo de alta da taxa básica de juros, a Selic, esse movimento de caixa das empresas pode arrefecer, dependendo do setor onde elas estão. Ainda que muitos analistas esperem um ciclo curto de elevação dos juros, isso pode ter um certo reflexo nas companhias do país.

“Para algumas empresas que têm uma alavancagem maior, elas vão gerar menos caixa daqui para frente. A despesa financeira vai subir, vai ter menos fluxo de caixa livre, ou seja, vai sobrar menos dinheiro. Então, pode ser que a gente veja, na margem, uma redução desse apetite, porque o caixa pode ser usado agora daqui para frente para pagar uma maior despesa financeira”, afirma.

STÉFANIE RIGAMONTI / Folhapress

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