Com champagne, terreno do parque do Bixiga é entregue à Prefeitura de SP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Prefeitura de São Paulo assinou na manhã desta sexta-feira (6) a desapropriação do terreno do parque do Rio Bixiga. O ato, que garante a transferência da área ao poder público e a implantação de uma área verde, encerra de vez uma disputa judicial que durou 40 anos entre o Grupo Silvio Santos e a sociedade civil, liderada principalmente pelo Teatro Oficina.

A cerimônia contou com uma comemoração animada de artistas e outros defensores da construção do parque. Às 9h07, no momento em que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) assinava o documento, intusiastas do parque estouraram uma garrafa de espumante na plateia do auditório na sede da prefeitura, bateram palmas e gritaram. Pouco depois, trouxeram ao salão um quadro gigante com uma foto do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa enquanto cantavam o samba-enredo “Quatro Séculos de Paixão – História do Teatro Brasileiro”.

Zé Celso foi por décadas o rosto público do movimento pela construção do parque, que faz parte da concepção da arquiteta Lina Bo Bardi para o projeto do teatro. O terreno de 11 mil m² ao lado do Corredor Leste-Oeste era, até esta sexta, de propriedade do Grupo Silvio Santos, que pretendia construir ali três prédios de até 100 metros de altura. O projeto previa mil apartamentos e mil vagas de garagem.

Protestos organizados por Zé Celso foram essenciais para os processos de tombamento do Teatro Oficina, que acabaram emperrando a construção do condomínio. Desde 2010, o local é tombado em grau municipal, estadual e federal por órgãos do patrimônio público e histórico.

Alheio à euforia dos artistas nesta sexta, Nunes parabenizou durante seu discurso o Grupo Silvio Santos, a procuradora-geral do município, Marina Magro Beringhs Martinez, e o promotor Silvio Marques, da Promotoria de Patrimônio Público e Social da Capital, figura central no acordo para garantir o dinheiro da compra do terreno pela prefeitura —o valor de R$ 65 milhões faz parte de um acordo de R$ 1 bilhão pagos pela Uninove (Universidade Nove de Julho), implicada no escândalo da máfia dos fiscais.

“Vocês foram muito receptivos a uma demanda, a uma chamada da sociedade. Eu lido com tantos e tantos grupos econômicos dessa cidade, que é a cidade econômica do país, e foi pouquíssimas vezes que eu vi uma ação como essa do SBT e do Grupo Silvio Santos de abrir mão do recurso, porque já estava com projeto aprovado lá para fazer [o condomínio]”, disse o prefeito.

Nunes reconheceu a importância do dramaturgo para garantir o parque após ser questionado pela imprensa. “Zé Celso evidentemente é uma figura conhecida de todos nós que liderou e trabalhou muito, mobilizou as pessoas para a realização do parque, isso indiscutivelmente”, disse. “Isso eu reconheço, até porque eu era vereador e várias vezes as pessoas iam na Câmara Municipal e iam em audiências públicas.”

Agora, a única disputa que resta é em torno do projeto do parque, e se será possível contemplar os desejos da comunidade, que incluem a abertura do córrego Bixiga. A prefeitura fará um concurso para selecionar o escritório de arquitetura responsável pelo projeto.

Segundo o secretário municipal de Verde e Meio Ambiente, Rodrigo Ravena, o IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil) já concordou em fazer a seleção de projetos. A secretaria também garante que as propostas da comunidade devem ser contempladas nos termos do concurso, e essas ideias devem ser debatidas em audiências públicas.

O promotor Silvio Marques afirmou que agora o papel da promotoria será de mediação dos diálogos sobre o projeto e de fiscalização, mas a maior parte desse trabalho será responsabilidade da própria prefeitura. “Agora isso não é mais problema meu e da Marina, a procuradora-geral. É problema do secretário Ravena. Ele que lute!”, brincou o promotor.

Uma polêmica que os políticos da capital pretendem adiar é a escolha de um eventual nome para o parque. Nesta sexta, Nunes defendeu deixar essa decisão para a próxima legislatura da Câmara Municipal, que será eleita em outubro.

Isso porque enquanto o vereador Xexéu Tripoli (União Brasil) propôs nomear o local em homenagem ao diretor Zé Celso, defensor da criação do parque durante décadas e fundador do Teatro Oficina —que fica ao lado do terreno—, Rubinho Nunes (União Brasil) e João Jorge (MDB) querem que o parque leve o nome Abravanel, sobrenome de Silvio Santos.

“Estou optando não fazer por decreto [a escolha do nome] para continuar nesse contexto de discussão, de democracia”, disse o prefeito.

TULIO KRUSE / Folhapress

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