Com ciclovia na Imigrantes, ciclistas inauguram rota que liga SP ao litoral neste domingo (28)

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ciclistas da Grande São Paulo que reivindicam há duas décadas uma rota de bicicleta para o litoral podem celebrar. Uma ciclovia de cerca de cinco quilômetros na rodovia dos Imigrantes, protegida por barreiras de concreto, enfim viabiliza a ciclorrota turística Márcia Prado, entre as cidades de São Paulo e Santos.

O novo trecho, construído fora da área de acostamento, conta também com uma passarela para uso dos ciclistas na altura da Interligação Planalto, onde a rodovia se cruza com a Anchieta.

A obra vai do km 38 da pista norte (sentido capital) da Imigrantes até o km 42,9, onde há um acesso por trecho de terra para a estrada de manutenção, dentro do Parque Estadual da Serra do Mar. É por esta estrada secundária, dentro do parque, que é feita a descida até Cubatão, na Baixada Santista.

A ciclovia é necessária para que os ciclistas não tenham que passar pela área de rodagem de veículos da Anchieta ou da Imigrantes para fazer a viagem. A ciclorrota turística Márcia Prado foi criada oficialmente em maio de 2018, pela lei estadual 16.748, mas poucos esforços foram feitos pelo governo estadual para sua implantação.

A obra, que custou R$ 17,2 milhões, foi paga pela concessionária Ecovias, que administra o sistema Anchieta-Imigrantes. De acordo com a Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo), como a ciclovia não estava prevista no contrato de concessão, foi celebrado um termo aditivo modificativo (TAM) para garantir a execução da obra, e a compensação será feita com a extensão da vigência do contrato.

O ciclista André Pasqualini afirma que a região era um gargalo para a descida da serra e que a conclusão do trecho de ciclovia é um passo importante para que o caminho seja feito pelos ciclistas. Ele também vê uma oportunidade para que prefeituras dos municípios envolvidos participem da demarcação completa do itinerário.

Em São Paulo, por exemplo, os trechos urbanos da ciclorrota não foram nem sequer sinalizados pela prefeitura, apesar de a lei municipal 15.094 ter oficializado em 2010 o percurso que sai do Grajaú e passa pela Área de Proteção Ambiental (APA) Bororé-Colônia.

Para divulgar a rota Márcia Prado e pressionar as autoridades municipais a demarcarem seus trechos, Pasqualini organizou a inauguração da ciclorrota neste domingo (28). “A Ecovias não anunciou oficialmente a inauguração da obra, mas foi o dia para o qual prometeram a conclusão de sua construção e sua liberação para uso”, diz ele, que espera reunir pelo menos 10 mil ciclistas para a descida.

O grupo deve se reunir no acesso da ciclovia do rio Pinheiros na avenida Miguel Yunes e seguir pelo Grajaú até as balsas da ilha do Bororé. De lá, cruzam São Bernardo do Campo por estradas de terra.

O acesso à rodovia dos Imigrantes é feito por uma escadaria com rampa lateral para bicicletas na estrada do Capivari. “É um ponto do projeto que precisa ser aperfeiçoado, porque impede, por exemplo, o acesso de handbikes [bicicletas projetadas para pessoas sem mobilidade nas pernas] à rota”, afirma Pasqualini.

A Ecovias diz que “a escada já era prevista no projeto original, aprovado pelos órgãos competentes, e a concessionária fez adequações para que a inclinação fosse a mais suave possível, dentro das limitações permitidas pelo licenciamento ambiental aprovado”.

O novo trecho termina no acesso ao parque pelo trecho de planalto. Após a descida, na saída do parque na região litorânea, a rota passa por debaixo da Anchieta em Cubatão e costeia a serra rumo ao bairro do Casqueiro. De lá, segue em outra ciclovia construída pela concessionária até Santos, e na sequência por ciclovias urbanas até o canal 1. A ciclorrota Márcia Prado tem pouco mais de 80 quilômetros no total.

Integrante do Instituto BR Ciclos e do coletivo Desafio Bicicletas ao Mar (DBM), Pasqualini providenciou a sinalização da ciclorrota para incentivar os ciclistas a fazerem a descida neste domingo. Também preparou uma série de treinamentos para iniciantes.

Em anos anteriores, o ciclista chegou a organizar outras descidas pela rota Márcia Prado e pela estrada velha de Santos. E foi um defensor do Pedal Anchieta, passeio anual que fazia a descida pela Imigrantes, que teve também o governo estadual na organização.

Pasqualini é um dos pioneiros da viagem e participou, em janeiro de 2009, de um grupo que tentou alcançar o litoral por um roteiro alternativo. Na época eram comuns as apreensões das bicicletas de quem tentava fazer a descida da serra pelo sistema Anchieta-Imigrantes.

A cicloativista Márcia Prado também fez parte desse grupo desbravador. Dias depois da viagem, em 14 de janeiro de 2009, Márcia morreu atropelada por um ônibus quando pedalava na avenida Paulista, onde ainda não havia ciclovia. Para homenageá-la, os colegas puseram seu nome na ciclorrota para o litoral.

Além da inauguração da ciclovia na Imigrantes, outras medidas devem ajudar a popularizar a ciclorrota Márcia Prado.

A Prefeitura de Cubatão, por exemplo, afirma que fará novas sinalizações turísticas e que prevê fazer um trecho reduzido da rota, utilizando parte do Caminho do Mar. Diz, ainda, que tem interesse no fortalecimento no cicloturismo e lembra que foi aprovada recentemente pela Assembleia Legislativa a criação rota cicloturística da Mata Atlântica, que também passa pela cidade. “No perímetro urbano, o município de Cubatão possui ciclovias em diversos trechos somando 14 km em sua totalidade e já trabalha em projetos de ampliação da malha”, disse, em nota.

A Prefeitura de São Bernardo afirmou que já fez uma reunião sobre a rota com a Ecovias e aguarda uma proposta da concessionária para estudar qual a melhor maneira de fazer a ligação do município com o trecho de estrada.

O apoio à ciclorrota, porém, não é unânime.

A Prefeitura de Santos afirma que, embora seja o destino final do roteiro, a cidade não faz parte da rota e, por isso, não fará nenhuma sinalização específica para atender os ciclistas. “Os usuários que que quiserem acessar Santos podem acessar a malha cicloviária da cidade”, afirmou, em nota.

A Prefeitura de São Paulo, também em nota, disse que a ciclorrota não é de responsabilidade do município e que um trecho de cerca de três quilômetros da rota Márcia Prado coincide com a trilha Interparques, que faz a ligação entre parques naturais, municipais, estaduais, APAs e Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) localizados na região.

A administração da capital destaca ainda que a “trilha Interparques tem uma extensão total de 185 km e conta com sinalização e demarcação”. A trilha, no entanto, ainda não tem ligação com as ciclovias urbanas do município ou com outros modais de transporte.

LEONARDO FUHRMANN / Folhapress

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