Comissão do Senado aprova indicações de três novos diretores ao Banco Central

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado aprovou nesta terça-feira (10) a indicação dos nomes de Nilton David, Gilneu Vivan e Izabela Correa –escolhidos pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT)– para três diretorias do Banco Central.

Indicado para chefiar a área de Política Monetária –cadeira deixada vaga por Gabriel Galípolo para assumir a presidência do BC–, David recebeu 22 votos favoráveis e 5 contrários.

Vivan teve aval preliminar dos senadores para comandar a diretoria de Regulação no lugar de Otavio Damaso, com 23 votos a favor e 4 contra.

Correa, por sua vez, recebeu 24 votos favoráveis e 3 contrários, para suceder Carolina de Assis Barros na diretoria de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta.

As indicações seguem agora para análise e votação no plenário do Senado e, se confirmadas, os novos diretores assumem os postos em 1º de janeiro de 2025.

Na sabatina, David defendeu firme atuação do BC para manter o controle da inflação e falou em “serenidade” e “perseverança” como atributos fundamentais para a autoridade monetária.

“O país possui um dos menores desempregos da sua história, acompanhado da expansão do crédito, da atividade e da renda. Ao mesmo tempo, a inflação e as expectativas têm se mantido acima do centro da meta e requerem a atuação firme do Banco Central para o cumprimento do mandato que lhe foi conferido. Processo que, aliás, já está em curso”, afirmou ele, em seu discurso inicial.

“As defasagens de política monetária são longas e variáveis. Os choques de preços precisam ser avaliados à luz de suas causas e graus de persistência. Além da firmeza, a serenidade e a perseverança são atributos indispensáveis para um adequado cumprimento desse mandato”, acrescentou.

Segundo o último boletim Focus, os analistas projetam que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) fique acima do teto da meta neste ano e também em 2025 –4,84% e 4,59%, respectivamente. Para 2026, a estimativa subiu para 4%.

Desde setembro de 2019, Nilton David chefiava a área de operações de tesouraria do Bradesco. No banco, era responsável pela precificação e gestão de riscos de mercado das operações com clientes e atuava como gestor de equipes em São Paulo, Nova York e Europa, responsáveis por câmbio, commodities, ações e derivativos.

Antes, trabalhou no Morgan Stanley (2016-2019) como chefe da mesa de operações, responsável por juros locais no Brasil e no México, moedas estrangeiras e estruturação. Com grande experiência no mercado financeiro, atuou em instituições no Brasil e no exterior, como Citi, Barclays e Goldman Sachs. Foi sócio da gestora Canvas Capital. É graduado em engenharia de produção pela Poli-USP (Escola de Engenharia Politécnica da Universidade de São Paulo).

Na leitura do relatório, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) destacou a vivência de David no mercado financeiro. “Nada melhor do que quem esteve do outro lado do balcão para operar do lado de cá na regulação, no acompanhamento, no monitoramento, para que nosso país não sofra os ataques especulativos que a gente tem sofrido”, disse.

Questionado pelos senadores sobre a situação fiscal do país, David disse que não é papel do BC comentar sobre a “qualidade” ou dizer o que é certo ou errado nesse tema. No entanto, descartou que o Brasil se encontre em uma situação de dominância fiscal (temor indicado por economistas após a frustração com o pacote de contenção de despesas apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad).

“Eu tenho convicção que nós não estamos próximos de dominância fiscal”, disse. Na visão dele, a política monetária cumpriu o papel de conter um aumento ainda maior da inflação.

Numa situação de dominância, os instrumentos do BC para controlar o avanço dos preços, como a taxa básica de juros (Selic), perdem potência e podem até mesmo impulsionar a inflação, tendo efeito contrário ao desejado.

O dólar rompeu a barreira dos R$ 6 no fim de novembro, em reação ao anúncio das medidas do pacote fiscal. Desde então, a moeda norte-americana vem superando dia após dia o maior valor histórico. Na segunda (9), o dólar renovou seu recorde histórico nominal e terminou o dia cotado a R$ 6,081.

“Eu não tenho a menor dúvida que a intervenção do Banco Central altera temporariamente o preço do câmbio. Mas a minha experiência mostra que ela é apenas efêmera”, afirmou David.

Correa também destacou o objetivo fundamental do BC de assegurar a estabilidade do preços. “O Copom tem sido bastante vocal e claro com relação ao seu compromisso firme de convergência à meta de inflação. Esse é o mandato que vamos perseguir”, afirmou.

Ela destacou ainda que ao BC compete trabalhar para alcançar a meta definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) e que a autoridade monetária se reporta “ao poder democraticamente eleito”. “Essa autonomia não é isolamento”, disse.

Servidora do BC desde 2006, Correa trabalhava como secretária de Integridade Pública para a CGU (Controladoria-Geral da União) desde fevereiro de 2023. No órgão, atuou previamente como assessora na diretoria de Prevenção da Corrupção e como coordenadora-geral de Transparência, Ética e Integridade.

No BC, foi assessora no gabinete da diretoria de Relações Institucionais, Cidadania e Supervisão de Conduta em temas relacionados à prevenção à lavagem de dinheiro e combate ao financiamento do terrorismo. Trabalhou também como analista na Secretaria Executiva e como chefe adjunta da Secretaria do CMN (Conselho Monetário Nacional).

Foi pesquisadora de pós-doutorado na escola de governo da Universidade de Oxford e possui doutorado em governo pela LSE (London School of Economics and Political Science). Ela é mestre em ciência política pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e graduada em administração pública pela escola de governo da Fundação João Pinheiro, em Minas Gerais.

No discurso inicial, Vivan ressaltou que o país enfrenta novamente um ciclo inflacionário, com um ambiente externo desafiador e expectativas distantes do alvo central de 3%.

“O Comitê de Política Monetária em sua comunicação tem enfatizado seu firme compromisso com a convergência da inflação à meta. As decisões que tomarei, se tiver a honra de ser aprovado, serão seguir o bom trabalho daqueles que me antecederam, dentro do mandato legal, sempre alicerçado na excelência do corpo técnico do Banco Central”, disse.

Questionado sobre a estabilidade de preços, o indicado para área de Regulação ressaltou a importância de atuar com os instrumentos disponíveis. “O BC vai agir quando necessário para conter a inflação.”

O IPCA desacelerou a 0,39% em novembro, apontam dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No acumulado de 12 meses, o índice ganhou força, acelerando a 4,87% até novembro.

Vivan é servidor do BC desde 1994 e chefiava atualmente o departamento de Regulação do Sistema Financeiro. Nessa área, tratava de normas que envolvem definição de produtos bancários, tarifas, governança, controles internos, entre outros temas.

Durante 11 anos, foi responsável pelo monitoramento da estabilidade do sistema financeiro nacional. Também representou o Brasil em diversos grupos internacionais, tais como Analytical Group on Vulnerabilities, do FSB (Financial Stability Board).

É mestre em gestão econômica de negócios pela UnB (Universidade de Brasília) e bacharel em economia pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

Os três nomes foram anunciados pela autoridade monetária em 29 de novembro e encaminhados pelo Executivo ao Senado na noite da última terça (3), em edição extra do DOU (Diário Oficial da União). O trio teve menos de uma semana para se reunir com os parlamentares até a data da sabatina na CAE.

NATHALIA GARCIA / Folhapress

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