LONDRES, REINO UNIDO (UOL-FOLHAPRESS) – A história da Fórmula 1 é cheia dos ciclos de domínio intercalados com períodos mais competitivos. Para acabar com esses períodos de domínio, não é incomum que regras sejam alteradas a fim de diminuir a vantagem construída por algum time. Então não é por acaso que a FIA está estudando banir o uso da asa traseira móvel, também conhecida como DRS, na classificação. Afinal, ela é uma das armas da Red Bull, que venceu todas as corridas até aqui.
É bem verdade que a F1 vem trabalhando no sentido de acabar com o uso de DRS, que passou a ser adotado em 2011 como uma medida provisória para ajudar nas ultrapassagens, e depois passou a ser usada também em classificação. Mas banir o dispositivo no sábado não tem nenhuma relação com as ultrapassagens, então é difícil negar que o alvo seria mesmo a Red Bull.
Eles conseguiram uma interação entre a aerodinâmica do resto do carro e a asa que gera um ganho de velocidade muito maior que o dos rivais quando a asa está ativada. Essa ativação consiste na mudança do ângulo da asa traseira, ativada por um botão que o piloto tem no volante. Essa mudança de ângulo diminui a resistência ao ar que o carro gera e, com isso, faz com que a velocidade aumente.
A vantagem do DRS da Red Bull varia de acordo com o tipo de pista e é menor quando se usa mais carga aerodinâmica (ou seja, em circuitos mais travados), mas em uma pista como Spa-Francorchamps, palco da última etapa, na Bélgica, os números impressionam. Enquanto Lewis Hamilton ganhou 13,2km/h com a asa aberta, Max Verstappen e Sergio Perez ganharam 20,3km/h.
É bom lembrar que essa vantagem da Red Bull foi algo conquistado pela engenharia do time. O diretor técnico, Pierre Wache, diz até estranhar que os rivais ainda não tenham conseguido entender o que a Red Bull está fazendo. “O mais louco é que estão falando disso mesmo dois anos depois que introduzimos isso. Passamos por centenas de testes da FIA para ver se estávamos usando algum truque, e as pessoas não entendem ainda por que, em pistas de alta pressão aerodinâmica, a vantagem desaparece. Isso significa que eles não entendem ainda, e isso nos surpreende muito.”
Ou seja, não é nada fora do regulamento e é mérito da Red Bull. Mas nada impede que FIA consiga, por meio de votação entre as equipes, mudar a regra, diminuindo essa vantagem. Mas seria esse o fim do domínio de uma equipe que não perde uma corrida desde o GP de Abu Dhabi, em novembro de 2022?
Tudo leva a crer que não. A vantagem da Red Bull não depende somente do DRS. É claro que ele ajuda, mas a maneira como o carro se adapta a todo tipo de pista, sofrendo só um pouco mais em circuitos muito lentos e ondulados, enquanto os rivais têm muitos altos e baixos, vale mais do que a asa traseira deles.
Então, se a mudança passar, poderá movimentar mais as classificações. Mas, nos GPs, a vantagem do DRS continuará existindo e se somando à velocidade do carro em todos os tipos de curva e principalmente à eficiência aerodinâmica, permitindo essa uniformidade no desempenho durante o campeonato.
Os chefões da F1 vêm dizendo que não dá para punir a Red Bull pelo mérito de ter entendido melhor as regras que estrearam em 2022, algo que foi ficando mais claro ao longo do ano passado à medida que eles foram conseguindo tirar peso do carro, e que hoje é inegável especialmente nas mãos de Verstappen. Realmente, eles iriam precisar de uma mudança maior do que esse banimento do DRS na classificação, que ainda está em fase de negociações, para pará-los.
JULIANNE CERASOLI / Folhapress