RECIFE, PE (FOLHAPRESS) – Uma disputa por protagonismo e trocas de farpas podem afetar os rumos do Festival de Inverno de Garanhuns, no agreste de Pernambuco, a 230 quilômetros do Recife. O FIG, considerado um dos principais do Nordeste, será feito pela prefeitura da cidade em parceria com o governo estadual pela primeira vez em mais de 30 anos.
Criado em 1991 após parceria entre município e governo do estado, o festival tem apresentações culturais de música, literatura, teatro, circo, dança, arte e outras modalidades artísticas ao longo de mais de uma semana.
O embate começou no ano passado, quando o evento sofreu críticas de várias frentes. Na época, o prefeito da cidade, Sivaldo Albino (PSB), reagiu à redução de 16 dias de evento, em 2022, para nove.
“Propusemos um festival compartilhado entre a prefeitura e o governo. Fizemos a proposta de um FIG de R$ 22 milhões, com a prefeitura ficando com metade e o Estado com a metade. Isso não foi aceito”, diz o prefeito, que vê uma politização por parte do governo de Raquel Lyra (PSDB), rival política de Albino.
A gestão da governadora justificou que o orçamento de 2023, elaborado sob o governo de Paulo Câmara (PSB), reduziu as verbas previstas para o FIG, de R$ 22 milhões em 2022 para R$ 6 milhões no ano seguinte. “Ao longo do processo, [o valor] foi suplementado para conseguir realizar o evento”, diz a secretária de Cultura, Cacau de Paula.
A programação do espaço principal do evento, a Praça Mestre Dominguinhos, por sua vez, foi criticada pelo segmento artístico e pelo setor de turismo. Na ocasião, hotéis relataram prejuízos, bem como comerciantes locais.
O tombo também afetou o público –de 1,5 milhão para 1 milhão de pessoas. A estimativa é que, em 2022, R$ 150 milhões tenham sido movimentados na economia local, enquanto na edição seguinte o valor foi de apenas R$ 24 milhões.
Em meio aos resultados ruins, o prefeito divulgou que o município cuidaria da próxima edição, contradizendo o governo -na época, ambos divulgaram datas diferentes para a realização do FIG. No início de março deste ano, o prefeito e a governadora debateram, mas não houve acordo.
A prefeitura alega que o governo acenou para a promoção do evento, mas queria autonomia sobre o palco principal. Já a gestão estadual mantém a versão de que o prefeito tomou decisões unilaterais que inviabilizaram o Estado como órgão promotor.
Vários artistas conversaram com a reportagem, mas preferiram não se identificar por temerem retaliações. Todos criticam o que chamam de politização do evento e temem que o FIG não consiga manter o mesmo porte de antes. Outro temor é o de que a curadoria do evento não seja feita de forma técnica e haja interferências políticas nas escolhas de quem irá se apresentar.
“Estamos apreensivos para ver como vai funcionar. Não sei até que ponto a prefeitura de Garanhuns vai ter capacidade orçamentária para lidar com um festival daquele tamanho”, diz o produtor cultural Rafael Moura, que teme atrasos nos pagamentos de cachês.
Albino diz que a gestão municipal vai manter as apresentações culturais em vários níveis, para além da música. Segundo ele, haverá mais de 20 polos espalhados pela cidade.
A prefeitura promete investir R$ 18 milhões no evento, incluindo valores de emendas parlamentares e patrocínios de empresas privadas. O governo de Pernambuco vai patrocinar o evento, mas a secretária de Cultura, De Paula, diz que não há definição do valor da verba até o momento.
O Festival de Inverno acontecerá entre 11 e 27 de julho, com 13 dias de apresentações na Praça Mestre Dominguinhos. Estão confirmadas atrações como Anna Carolina, Pitty, Paralamas do Sucesso, Jota Quest, Margareth Menezes, entre outros.
Parte dos hotéis de Garanhuns já não tem mais vagas para o evento em 2024. O setor comemorou o fato de a divulgação da grade de programação do palco principal ter acontecido com três meses de antecedência.
De Paula ainda diz que, após o FIG deste ano, o governo vai conversar com a prefeitura para avaliar quem de fato organizará o evento. O prefeito defende que o município siga cuidando do evento. “Se quiserem fazer juntos, estamos à disposição, mas dar de volta para o estado, não vai acontecer.”
JOSÉ MATHEUS SANTOS / Folhapress