PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – O Duran Duran nasceu na Inglaterra e tem quase 50 anos de história, mas foi só recentemente que a banda passou a se interessar por uma festa tipicamente americana: o Halloween, ou Dia das Bruxas.
“Nem eu e nem os outros caras da banda cresceram celebrando o Halloween”, diz o baterista Roger Taylor, em entrevista. “Mas tenho que dizer que, nos últimos anos, percebemos que a celebração tem muito a ver com o Duran Duran. Nós gostamos de nos vestir de modo peculiar e temos explorado cada vez mais o lado sombrio e misterioso de nossa música.”
Em outubro de 2023, o Duran Duran lançou “Danse Macabre”, um disco bastante peculiar que celebrava o Halloween misturando novas versões de hits do próprio grupo e covers de músicas macabras de outros artistas, como “Bury a Friend”, de Billie Eilish, “Psycho Killer”, do Talking Heads com a participação de Victoria De Angelis, da banda Maneskin, “Paint It Black”, dos Rolling Stones, e “Ghost Town”, dos Specials.
“Estávamos sobrevoando a América num pequeno avião durante uma turnê, jogando conversa fora, quando tivemos a ideia de fazer um disco de covers para tocar num show de Halloween. Nick [Rhodes, tecladista] literalmente pegou um papel, pediu uma caneta à aeromoça, e fizemos a lista de covers ali, na hora”, diz Taylor.
A banda fez um show no Halloween de 2023 em Las Vegas e o resultado foi tão bom que a experiência foi ampliada, neste ano, para um grande show no Madison Square Garden, em Nova York, no dia 31 de outubro. “Foi uma noite sensacional”, diz o baterista. “O público todo fantasiado, animado, dançando e adorando as músicas novas. Nossa versão da Billie Eilish recebeu uma ovação!”
Agora, exatamente um ano depois do lançamento de “Danse Macabre”, o Duran Duran lança a versão deluxe do álbum, que traz, além do repertório original, uma nova faixa instrumental chamada “Masque of the Pink Death”, uma versão moderna para um hit da banda de 1984, “New Moon On Monday”, intitulada “New Moon (Dark Phase)”, e um cover de “Evil Woman”, famosa canção de 1975 da Electric Light Orchestra (ELO).
Taylor diz que a conexão com a ELO vem de longe. “Eles são de Birmingham, como nós, e Jeff [Lynne, líder do ELO] era meu vizinho, morava a dez casas da minha.”
O Duran Duran surgiu em 1978, em meio a uma efervescente cena de música local que misturava punk, pós-punk, música eletrônica e até heavy metal. “Dois monstros do heavy metal são de Birmingham, o Black Sabbath e Judas Priest”, diz Taylor. “Nós crescemos ouvindo e admirando todas essas bandas. Havia também uma imensa comunidade jamaicana em Birmingham, e nós fomos expostos a grandes bandas de reggae, dub e ska, como UB40, Steel Pulse e The Beat.”
Em 1980, o Duran Duran ensaiava em uma famosa casa noturna da cidade, a Rum Runner. “Era um local em que tocava de tudo”, diz Roger Taylor. “Às segundas, havia uma noite de discoteca e house music, às terças, música eletrônica tipo Kraftwerk, em outra noite ouvíamos Bowie, Roxy Music, T-Rex e toda aquela turma do glam rock. Foi essa mistura que deu origem ao som do Duran Duran.”
Taylor se diz sortudo por ter vivido o período do fim dos anos 1970 na Inglaterra. “Acho que nunca houve uma fase como aquela para a música. Estava tudo acontecendo ao mesmo tempo, o punk, o pós-punk, David Bowie fazendo discos fantásticos, a música eletrônica em uma fase gloriosa, a gente vivia rodeado de grande música. Para mim, o punk estava morto em 1978, porque eu imediatamente comecei a ouvir Joy Division e coisas mais eletrônicas como Gary Numan e Human League.”
Taylor faz questão de elogiar o público brasileiro que, segundo ele, tem uma conexão especial com o Duran Duran. “Não sei o que acontece no Brasil e Argentina, mas acho que temos algo muito particular com os latinos, e isso não ocorre tanto na Alemanha e França, por exemplo”, diz ele.
“Sempre fizemos música dançante, mas também sempre fomos uma banda, com bateria, baixo, teclados, um grupo que faz tudo de forma orgânica, nunca quisemos ser uma banda puramente eletrônica e fria. Acho que o público latino se identifica com esse lado mais festivo e humano do Duran Duran, e isso nos emociona muito.”
ANDRÉ BARCINSKI / Folhapress