SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Heartstopper”, a série LGBTQIA+ mais fofa da Netflix, vai deixar de lado os tons pastel que embalam a narrativa para dar lugar a rabiscos mais sombrios que ilustrarão o transtorno alimentar do protagonista Charlie. Baseada nas histórias em quadrinhos de Alice Oseman, a trama utiliza desenhos para expressar as emoções dos personagens.
Se nas temporadas anteriores temas como transtorno alimentar e saúde mental foram retratados com sutileza, agora as consequências se tornam mais evidentes para o público e para o próprio Charlie.
Oseman afirma que é um grande desafio abordar esses assuntos em uma trama tão fofinha como “Heartstopper” sem soar bobo e, ao mesmo tempo, dar a devida seriedade.
“Você quer mostrar os problemas de saúde mental de uma maneira muito realista para parecer verdadeiro e autêntico, mas você não quer torná-los chocantes ou assustadores, ou muito desencadeantes para as pessoas assistirem. Você tem que encontrar um meio-termo entre essas duas coisas”, diz ela, que em 2021 lançou o primeiro volume da série de HQs que serve de fonte para a produção da Netflix.
Oseman, que também é roteirista do seriado, precisou encontrar esse equilíbrio, já que a trama aborda os estágios pelos quais uma pessoa que sofre de algum transtorno mental pode passar, desde a aceitação até a importância de uma rede de apoio e a busca por terapia. Tudo isso fundamentado na esperança, pois “Heartstopper” é uma história otimista, diz Oseman.
“Mesmo que Charlie esteja passando por esses problemas bastante sombrios, também queremos expressar que as coisas podem e vão melhorar”, afirma.
Assim como na temporada passada, que contou com psicólogos e historiadores queer para apoiar o elenco, nesta nova temporada eles contaram com o apoio da Beat, uma instituição de caridade do Reino Unido especializada em transtornos alimentares.
“Eles leram todos os nossos roteiros antes de começarmos a filmar e nos deram alguns feedbacks sobre qualquer coisa que pudesse ser muito desencadeante para as pessoas ou prejudicial de alguma forma”, afirma.
Para Oseman, evidenciar o transtorno alimentar de Charlie na série também é uma forma de desmistificar a ideia de que apenas garotas sofrem com isso e ajudar outros adolescentes, que são o grupo mais afetado por essa questão.
Transtornos como bulimia e anorexia afetam um em cada cinco crianças e adolescentes de seis a 18 anos, conforme publicado em 2023 na revista científica Jama Pediatrics e reportado nesta Folha.
Em paralelo, a trama não deixará totalmente o tom apaixonante, já que Nick e Charlie avançam na relação e têm a primeira experiência sexual do casal, que é permeada por dúvidas sobre essa primeira vez.
“Exploramos os personagens se preocupando com questões como: como eu sei se estou pronto? Como eu sei se meu parceiro está pronto? E se for estranho e terrível, e tudo der errado? São preocupações muito adolescentes, mas que esperamos que pareçam realistas e relacionáveis para nosso público jovem”, diz.
A cena era muito aguardada pelos fãs, especialmente porque hoje em dia muitas produções adolescentes são cheias de cenas de sexo, caso de “Elite”, “Young Royals” e “Através da Minha Janela”.
Mas Oseman não escreveu sobre sexo por causa da pressão dos fãs. “Está lá porque senti que agora era a hora certa que para Nick e Charlie.”
HEARTSTOPPER (3ª TEMPORADA)
– Quando Estreia nesta quinta (3), na Netflix
– Classificação 12 anos
– Elenco Kit Connor, Joe Locke e Yasmin Finney
– Produção Reino Unido, 2024
– Criação Alice Oseman
VITORIA PEREIRA / Folhapress