Como Julia Mestre, com ‘Arrepiada’, se inspira em Rita Lee para atingir o pop

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Julia Mestre vê dois episódios vividos por ela aos 16 anos como o início do caminho de cantora e compositora que ela trilha atualmente, no trabalho solo e com o grupo Bala Desejo. O primeiro aconteceu numa viagem com os amigos, quando um deles levou um violão.

“Era o grande momento da noite a hora em que ele tocava”, lembra a artista. “Já rolava um clima de paquera no grupo, mas em vez de ficar a fim do menino, fiquei a fim do violão. Pensei: ‘quero fazer isso’. Voltei da viagem com o número do telefone do professor dele e comprei o meu primeiro violão”.

O outro episódio marcante foi o primeiro lugar num concurso de poesia na escola. A partir daí, arrumou um caderninho e começou a escrever versos, mas sem pensar em canções.

“Demorou alguns meses para eu entender que poesia mais violão virava música”, diz. Escreveu, então, sua primeira composição, “Desencanto”. “Foi meu primeiro pé na bunda.”

Agora, aos 27 anos, com mais um tanto de experiências amorosas acumuladas, alguns caderninhos repletos de versos e muitas aulas de violão, ela viaja pelo Brasil com a turnê de “Arrepiada”, disco lançado em abril.

É o segundo de sua carreira, mas o primeiro depois do estouro do grupo Bala Desejo, que ela integra ao lado de Dora Morelenbaum, Lucas Nunes e Zé Ibarra. Por isso, o álbum acaba tendo a percepção de uma estreia solo.

“Arrepiada” começou a nascer em 2020, ainda antes da formação do Bala Desejo. O estopim foi o que Mestre descreve como “imersão ritaleenesca”. Durante o período de isolamento social da pandemia, ela começou a postar vídeos interpretando canções de Rita.

Nessa época, descobriu o programa “Versões”, do Canal Bis, no qual artistas reliam o repertório de um ídolo. “Vi Illy cantando Elis e Larissa Luz cantando Elza. Botei na minha cabeça que também ia fazer”, rememora.

No fim de cada episódio, Mestre esperava a ficha técnica subir, pegava os nomes que pareciam importantes ali, os procurava no Instagram e mandava uma mensagem na linha “meu nome é Julia, tenho tudo a ver com o programa”.

“Uma das coordenadoras me respondeu elogiando meus vídeos e um tempo depois me disse que estavam montando a curadoria da temporada seguinte, eu vibrei”, recorda a cantora, que acabou sendo escalada.

O mergulho em Rita deixou marcas. “Entrei no vocabulário dela”, afirma Mestre. “A primeira música que compus depois disso foi exatamente ‘Arrepiada’. Tem muita coisa de Rita ali, um deboche com sedução. ‘Depois que a sopa esfria/ não adianta vir com tudo’. Tem algo daquela coisa dela de pegar umas expressões conhecidas e mexer, tipo ‘Nessa canoa furada/ Remando contra a maré’. E tem um ‘tchu tchu tchu tchutchuca’ que é super Rita”.

O universo de Rita também inspirou sonoridades do disco, como sintetizadores, timbres marcadamente da década de 1980, referentes à fase mais pop da cantora.

Mestre, porém, se inspirou em outros artistas, muitos contemporâneos a ela. É o que indicam as participações no disco de Lux & Tróia –de Lux Ferreira, que assina a produção de “Arrepiada”– e da cantora portuguesa Maro, e as parcerias com Ana Caetano, do duo Anavitória, João Gil, do Gilsons e seus colegas de Bala Desejo.

“São muitas referências dos anos 1970 e 1980, mas é um disco contemporâneo”, diz a cantora, admiradora de colegas de geração como Josyara, Ana Frango Elétrico e Dora Morelenbaum.

“Há muitos estilos ali. “‘Arrepiada’, a canção, tem desejo e ironia. ‘Chuva de caju’ é um xote, doce. ‘Forró da solidão’ é Brasil, Nordeste. ‘Menino bonito’, um ijexá. ‘Meu paraíso’ é dançante, pop”.

O processo de realização de “Arrepiada” foi interrompido pelo furacão Bala Desejo. A banda demandou uma dedicação exclusiva de Mestre, sobretudo por sua agenda de shows e pela atenção que rendeu elogios da crítica, horas de entrevistas e um Grammy Latino.

“Me dediquei 100%”, diz a artista, que entende que o grupo permitiu a ela ganhar experiência de uma maneira leve. “Me protegeu muito poder viver isso com meus amigos. Não veio a pressão de estar sozinha. Viver o Bala me empoderou muito para hoje eu poder falar que estou arrepiada, com força”.

Ao lado da aclamação da crítica e do público, o Bala Desejo também teve que lidar com a cultura “hater” inerente à lógica das redes sociais. São piadas sobre uma certa aura hippie do grupo, atravessada pelo fato de serem jovens criados na bolha de privilégio que é a zona sul do Rio.

A edição de um trecho de uma entrevista deles no programa Cultura livre, que reforçava essa imagem, viralizou. “Isso me afetou, fiquei mexida”, afirma. “Mas é como apelido que você não gosta na escola. Tem que tentar rir junto, levar com leveza, não se deixar ser engolido pelos comentários negativos. E tentar entender também de onde vem isso, aprender algo”.

No show, Mestre tem a companhia de Alana Ananias (bateria), Gabriel Quinto (violões e guitarra), Gabriel Quirino (teclados) e João Moreira (baixo). Cenicamente, a Julia de “Arrepiada” não é a mesma do Bala Desejo. “Agora meus movimentos são mais rock, têm mais punch, mais tônus, menos braços”, afirma a artista.

“Porque os braços, os braceletes que uso no Bala Desejo são uma forma de trazer o público para você. Quando estou cantando sozinha, posso reduzir isso, trazer o chamado mais para o olhar e para a voz”.

JULIA MESTRE APRESENTA ARREPIADA

Quando: 12 de dezembro

Onde: Teatro Imperator – r. Dias da Cruz, 170, Méier, Rio de Janeiro

Classificação: Não informada

LEONARDO LICHOTE / Folhapress

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