Como Palmeiras de Abel construiu noite mágica ao virar sobre o Botafogo

RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – Foi uma das maiores viradas do Brasileirão de pontos corridos. O que o Palmeiras conseguiu diante do Botafogo no Nilton Santos, na quarta-feira (1°), é daqueles jogos inesquecíveis. Independentemente do desfecho do campeonato.

Se o time de Abel Ferreira for campeão, será o jogo símbolo da reação. Se ainda assim der Botafogo, vai ser um título que terá a marca da superação após o que aconteceu nesse jogo. Do ponto de vista do Palmeiras, como definiu o treinador Abel Ferreira, foi “mágico”. Mas como essa noite de altos e baixos de emoções e que terminou com a euforia palmeirense se construiu?

O caos do primeiro tempo

A realidade é que 3 a 0 foi pouco. O que o Palmeiras deixou de jogar no primeiro tempo foi algo estrondoso. Negativamente. Foram dois chutes a gol, enquanto o Botafogo deu 15. E ainda perdeu pelo menos duas chances claras. Não seria exagero se a etapa inicial terminasse 5 a 0 para o time da casa.

O enredo da festa parecia perfeito para o Alvinegro. Seria uma vitória retumbante diante de um temido perseguidor. À beira do campo, Abel Ferreira pensava. E sofria.

Na análise mais fria, o técnico enxergou que houve uma falha na marcação que desarrumou todo o time. Qual? O encaixe dos laterais.

Com uma linha final de cinco homens (com três zagueiros), o Palmeiras se confundiu diante do dinamismo e dos movimentos dos pontas do Botafogo (Victor Sá e Júnior Santos), combinados com o recuo de Tiquinho Soares e Eduardo pelo meio.

“Faltava só um dos nossos laterais se desfazer da linha de cinco e bater no lateral deles. Só isso que faltava. Na primeira parte, ficaram os nossos dois laterais agarrados aos pontas deles”, resumiu Abel Ferreira, a respeito do papel de Mayke e Piquerez.

Com a bola, o Botafogo massacrou. Eduardo, 1 a 0. Tchê Tchê, um chutaço de fora da área, golaço, 2 a 0. E Júnior Santos, com espaço, aproveitando o rebote na área para fazer 3 a 0.

O que aconteceu no intervalo

Abel notou um problema de comunicação entre ele e o time para explicar o problema defensivo.

“Voltei a falar o português brasileiro”, brincou ele sobre o intervalo.

Na prática, correções táticas e recados diretos. Abel queria transformar o segundo tempo em um jogo isolado do primeiro para que o Palmeiras vencesse os 45 minutos restantes.

“Falei duas coisas: é impossível fazermos pior do que esta primeira parte, portanto, na segunda parte vamos fazer melhor, seguramente. E que era fundamental fazermos um gol para entrarmos no jogo”, diz Abel.

O segundo tempo mágico

O Palmeiras voltou com o mesmo time. Mas Abel corrigiu o posicionamento. E o ímpeto da equipe foi outro. A partir dali, Endrick chamou a responsabilidade. Fez um golaço, passando voando pelos marcadores alvinegros. O relógio não tinha nem batido cinco minutos do segundo tempo.

O gol era justamente o que Abel pediu. Um gatilho de confiança se ativou no Palmeiras. E, por outro lado, passou a pairar a incerteza entre os alvinegros.

A lógica da pressão se inverteu. Um gol anulado aos 14 minutos da etapa final deu o sinal do apetite do Palmeiras. Até que veio um lance crucial, aos 28 minutos do segundo tempo.

Adryelson perdeu o tempo de bola numa disputa com Breno Lopes na ponta esquerda. Em um primeiro momento, o árbitro Braulio da Silva Machado marcou a falta, mas não deu cartão.

Abel Ferreira enlouqueceu à beira do campo. Esbravejou, protestou, gesticulou até que a voz do VAR chegou aos ouvidos de Braulio. Adryelson foi expulso. A irritação pulou para o lado do Botafogo, enquanto a torcida gritava “vergonha”.

“São contingências do jogo. Ajudou-nos e muito”, resumiu Abel.

Mas a pegadinha psicológica, com 3 a 1 no placar àquela altura, foi o pênalti marcado logo em seguida para o Botafogo. Abel, sentado no banco, reconheceu o que passou pela cabeça dele: “Se pegarmos, vamos voltar ao jogo. Se levarmos, estamos fora”.

Weverton defendeu

O técnico do Palmeiras já tinha colocado Rony no lugar de Richard Ríos, aumentando a presença ofensiva. Com um a mais e o balde de água fria que o Botafogo levou, o Palmeiras viu que haveria ainda mais espaço. Aos 38 minutos do segundo tempo, Endrick apareceu de novo e diminuiu para 3 a 2.

A virada começou a ficar mais palpável. O Botafogo marcava mal, apesar de ter recuado. Tentava lançamentos afobados e não conseguia manter a posse na frente. O Palmeiras circulava a bola e o empate veio cinco minutos depois, com Flaco López, livre na pequena área.

O silêncio tomou conta da arquibancada. A minoria palmeirense se inflamou de vez, enquanto o ar de suspense e incredulidade dominava o restante do Nilton Santos.

O empate ainda seria vantajoso para o Botafogo. O time era quem tinha a vantagem de seis pontos na classificação. Mas o 3 a 3 já era uma configuração de tragédia. O time sentiu muito, enquanto o Palmeiras acreditava. Até que a virada se materializou em mais uma bola cruzada, com falha defensiva do Botafogo, e o toque de Murilo para o fundo da rede. No nono minuto de acréscimo.

Abel disse aos jogadores que eles fizeram algo mágico ali. Depois do jogo, o treinador português recebeu ligação das filhas e contou o que elas lhe disseram. “Pai, assim não dá. O Palmeiras acaba com meu coração”.

IGOR SIQUEIRA / Folhapress

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