RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – O piloto brasileiro Rodrigo Varela teve que mudar seu planejamento às vésperas da primeira participação no Rally Dakar por causa de piratas.
O navio cargueiro que levava o carro para a disputa do Dakar 2024, além de peças e equipamentos, teve de alterar a rota para fugir de piratas houthis, que abordavam as embarcações no Mar Vermelho.
A alteração consistia em contornar todo o continente africano, o que alterou a previsão de chegada em mais de 20 dias o que inviabilizaria a participação no Dakar, que será realizado entre os dias 5 e 19 de janeiro.
A notícia foi recebida por Rodrigo e equipe na noite do dia 25 de dezembro. Rodrigo contou com o apoio os irmãos, Bruno e Gabriel, que também são pilotos, e com o pai, Reinaldo Varela, tricampeão mundial de rally na categoria UTV.
“Estávamos em família aqui em casa, no dia 25, quando chegou a notícia. Nunca tínhamos passado por isso antes, principalmente porque, geralmente, enviamos as coisas por vias terrestres, quando o rally é nacional, e, quando era internacional, o carro saia de Portugal. Nunca tínhamos ido com o carro daqui do Brasil”, afirma Gabriel Varela, ao UOL.
Rodrigo e parte da equipe já tinham viagem programada para a Europa para 26 de dezembro, de onde partiriam para a Arábia Saudita, país-sede do Rally Dakar. No Velho Continente, buscaram soluções para participarem da corrida.
Em Portugal, foi localizado um modelo UTV da mesma fabricante, a Can-Am, com similaridades ao que Rodrigo iria usar na corrida.
“Foi difícil entender o que íamos fazer, em um primeiro momento. Mas conhecemos muita gente no meio do rally e chegamos ao Daniel, com quem já tínhamos conversado para comprar esse carro no passado. O carro que ele correria era zero e esse já participou de algumas provas, mas está muito bom “, completou Gabriel.
“Precisamos fazer modificações e adaptações às pressas. Felizmente, deu certo e ele passou na vistoria do Dakar. Era o principal: vamos correr”, diz Rodrigo Varela.
A aventura da equipe, porém, não chegou ao fim. Eles já estão em Dakar, mas ainda em busca de peças para que possa haver a manutenção necessária ao longo de todo o circuito.
“Ainda não temos todas as peças que vamos precisar durante o Dakar, que é uma corrida longa e exige muita manutenção. Para isso, estamos contando com a ajuda das outras equipes. O Dakar é um misto de corrida e aventura. E isso faz da solidariedade uma de suas marcas mais notáveis. As pessoas se ajudam quando podem”, comentou Varela, que será parceiro do navegador Ênio Bozzano
ATAQUES PIRATAS
Nos últimos dias do ano passado, ao menos quatro importantes empresas de transporte naval suspenderam suas rotas pelo Mar Vermelho, temendo ataques da milícia houthi, que governa parte do Iêmen. Recentemente, várias embarcações, de diferentes bandeiras, foram atacadas na região, sobretudo por drones.
Importante rota para o comércio mundial, é pelo Mar Vermelho que navegam cargueiros a caminho do Golfo de Aden e do Canal de Suez, que liga os mercados da Ásia e da Europa sem a necessidade de contornar a África.
O aumento na intensidade dos ataques da milícia houthi é um gesto de apoio ao grupo radical islâmico Hamas no atual conflito contra Israel. República Islâmica do Irã e Israel são inimigos.
EQUIPE BRASILEIRA
Rodrigo vai estrear no Rally Dakar com um time formado por técnicos brasileiros. Três mecânicos especializados serão chefiados por Reinaldo, com auxílio do filho mais novo, Bruno. O outro piloto da família, Gabriel, ficou no Brasil, de onde coordenou a preparação do carro e ajudou na logística da equipe.
O Team Brazil, como foi batizado, se instalou na última terça-feira no primeiro dos 13 acampamentos da prova, em Al-Ula.
“Com o planejamento correto, que nós tínhamos até esse incidente, já é bem difícil disputar essa corrida. Mas o Dakar é isso: você tem que se superar todos os dias. Estamos aqui pra isso”, ressaltou Rodrigo Varela.
ALEXANDRE ARAÚJO / Folhapress