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Como remake de ‘Vale Tudo’ atualizou figurinos para a nova versão de personagens

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Laços, mangas bufantes, ombreiras, estampas maximalistas e maquiagem exagerada —tudo isso marcou a moda dos anos 1980, década que, hoje, é considerada como uma das mais bregas. Apesar disso, “Vale Tudo”, de 1988, definiu tendências e marcou o estilo de uma geração.

São 37 anos que separam a estreia da novela de seu remake e, se a condição social e política do Brasil continua igualmente tensa, a moda foi uma das coisas que mais mudou.

Para a versão de Manuela Dias, a estilista Marie Salles —que assinou o figurino de novelas como “Avenida Brasil” e o remake de “Pantanal”— empreendeu o desafio de transpor a moda da trama original de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères para os dias de hoje.

“Tínhamos que pegar o estilo dos anos 1980 e criar o figurino de como nos vestimos no contemporâneo, mas com cheiro de anos 80 e com referências, sem ficar datado e ainda preservando os personagens”, diz Salles, em entrevista à reportagem.

Para ela, o mais crucial era deixar claro que, assim como o original de 1988, a novela é um produto de seu tempo. “Precisávamos mostrar as diferenças entre as gerações, os abismos entre as classes sociais”, afirma.

É o caso da Solange de Alice Wegmann, que manteve os laços e corte de cabelo de Lídia Brondi. Mas, apesar de ser autêntica, está em dia com as tendências. Roupas oversized —e tradicionalmente masculinas— como blusas sociais, blazers, peças com ombros estruturados e bermudas longas são algumas das marcas do guarda-roupa. Acessórios como laços e tiaras da marca Oi Matilda, trazem um ar romântico aos looks.

Vale lembrar que a novela foi uma das mais vistas da Globo pela forma crítica que abordava a sociedade brasileira, com dilemas éticos e desigualdades sociais. E uma das formas de evidenciar essa assimetria é justamente pela moda.

Enquanto Raquel usa vestidos simples com estampas florais, peças leves, cores vibrantes e bermudas, Odete Roitman, o epítome da elite, opta por peças de alfaiataria, com vinco, cortes sofisticados e cores neutras como branco, bege, azul-marinho, marrom e preto.

O visual de Debora Bloch foi inspirado em Carolina Herrera e Miranda Priestly, personagem de Meryl Streep em “O Diabo Veste Prada”. Seu guarda-roupa foi composto por peças de brechós de luxo, e estilistas como Alexandre Herchcovitch e Sandro Barros, assim como a joalheria Prasi, desenharam peças exclusivas para a personagem.

Agora, graças ao fast fashion, a moda é mais acessível. Mas isso não quer dizer que é fácil recriar o visual da elite —Maria de Fátima, por exemplo, é identificada instantaneamente por Odete como uma pessoa “de origem humilde”, apesar de seus esforços.

A personagem, vivida por Bella Campos, não cria tendências como Solange, e aposta em roupas curtas, reveladoras, e brilhosas, com peças em tons vibrantes de roxo e verde. César, seu parceiro romântico, também tem as cores em sua paleta. Ele opta por um visual grunge, com t-shirts de bandas e artistas no estilo dos anos 1990.

“Ela usa uma moda fácil, rápida de comprar e consumir. O que contrasta com a Solange, que usa quase exclusivamente peças de brechó e que tem a sustentabilidade como uma de suas pautas”, pontua a estilista.

Para fazer essa distinção, Salles entrou em contato com o jornalista Bruno Astuto, que prestou consultoria para o folhetim. “Nas novelas, tem uma visão estereotipada do rico, que tem corrimões dourados, pias de ouro, aquela coisa da fantasia. No caso dos Roitman, queríamos mostrar um outro lado, o da elite que não quer ser vista. O tal de ‘quiet luxury'”, afirma.

Para Astuto, o termo se refere ao luxo sem ostentação que, mesmo sem logos espalhafatosos, quem conhece sabe de cara do valor da peça. São marcas como a francesa Hermès, que tem bolsas que superam R$ 1 milhão, e Brunello Cucinelli, cujos suéteres de cashmere chegam à marca de R$ 21 mil.

Como no caso de Heleninha, que transmite “quiet luxury” com sobretudos e tecidos sofisticados apesar do estilo mais despojado, que preza pelo conforto. “Ela usa roupas largas, sem estrutura, o que reflete seu próprio estado emocional. E sempre uma terceira peça, porque ela é uma pessoa insegura, está sempre se escondendo”, explica Salles.

Já Celina se contrapõe visualmente à sua irmã, Odete. A personagem de Malu Galli, usa peças com motivos étnicos, que teria acumulado em suas inúmeras viagens pelo mundo. Mesmo assim, sua classe é evidente, como no caso de uma pulseira da Tiffany, assinada por Elsa Peretti.

Afonso Roitman foi um dos personagens cujo guarda-roupa mais mudou. Se na trama original o playboy chegava de madrugada da balada e bebia um whisky na sala de terno, hoje quem dita a tendência é o “wellness”. O Afonso de Manuela Dias é triatleta e opta por roupas esportivas, como moletons, e despojadas, como sandálias birken.

De forma contrária, Marco Aurélio opta por um visual mais rígido. Em grande parte das cenas, Alexandre Nero usa terno e roupas formais, com suspensórios, que remetem a seu ponto de vista antiquado. Por outro lado, seu primo, Renato, que é diretor da agência de conteúdo Tomorrow, porta tecidos leves, como linho, calças de alfaiataria e outras peças mais despojadas.

A tensão construída a partir dos contrastes nos figurinos —como no caso de Odete e Celina, Maria de Fátima com Solange e Marco Aurélio com Renato— é uma das marcas do trabalho de Salles. O mesmo ocorre de forma mais escrachada com as amigas Aldeíde e Consuelo.

Aldeíde, mulher romântica que sonha em encontrar um príncipe encantado, usa looks monocromáticos em tons quentes, como rosa e vermelho. Ela tem um estilo mais infantil, evidenciado por seu pijama de unicórnio. Já Consuelo, mulher trabalhadora e íntegra é marcada por um guarda-roupa tão pragmático quanto ela, formal, com peças majoritariamente pretas ou azul escuro.

LARA PAIVA / Folhapress

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