SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Foi com pesar que os fãs receberam a notícia de que “Sex Education” chegaria ao fim com sua quarta temporada, que estreia na Netflix nesta quinta, dia 21. O sentimento era de que havia, além de mais histórias a contar, mais fetiches, frustrações sexuais e prazeres antes de um clímax definitivo.
Mas então a coprotagonista Emma Mackey anunciou sua saída após o iminente quarto ano. Ncuti Gatwa a seguiu. E, da noite para o dia, os dois estavam reunidos a Connor Swindells em cenas de “Barbie”, denunciando seu anseio em deixar a pequenina cidade britânica onde a série se passa rumo a Hollywood.
Laurie Nunn, criadora de “Sex Education”, diz, no entanto, que a saída de parte do elenco não teve influência na despedida. Ela entrou na sala de roteiro da quarta temporada sem saber que aquele seria o início do fim, mas ele se apresentou naturalmente conforme os episódios avançavam.
“Enquanto escrevia, eu comecei a perceber que o arco dos personagens estava se fechando. Foi algo instintivo, então me pareceu adequado dar adeus a eles, por mais triste que eu tenha me sentido. E eu também acho que ninguém pode ficar na escola para sempre”, diz.
Essa última incursão dos personagens no universo escolar, porém, será longe de Moordale, o colégio de arquitetura clássica e imponente no qual as três temporadas anteriores se passam.
A nova safra de episódios começa com Otis, protagonista de Asa Butterfield, e seu melhor amigo, Eric, vivido por Ncuti Gatwa, se matriculando no colégio Cavendish junto com Aimee, Ruby, Viv, Cal e Jackson. Outros personagens do passado, ficamos sabendo, decidiram ir para outras instituições, abrindo espaço para novos rostos.
Há, por exemplo, uma garota misteriosa que comanda uma bem-sucedida clínica de terapia sexual e que entra em guerra com Otis, que fazia o mesmo na antiga escola, e um trio de garotas populares que convida Eric, um gay extrovertido e até então pouco respeitado, para se juntar ao grupo.
Enquanto isso, Jean Milburn, mãe de Otis interpretada por Gillian Anderson, sofre para voltar ao trabalho depois de dar à luz, e Maeve Wiley, papel de Emma Mackey, tenta manter o namoro à distância com o protagonista e enfrentar os desafios da faculdade americana em que foi admitida.
Mas enquanto a diversidade, por mais fartamente que tenha sido explorada nos roteiros, era motivo de chacota em Moordale, Cavendish recebe de braços abertos o pluralismo e qualquer ideal progressista imaginável, o que cria um contraste um tanto absurdo que abastece os episódios de humor.
O trio popular que comanda os corredores é formado por uma jovem trans, um adolescente transmasculino e uma garota surda, por exemplo.
Há práticas de ioga no jardim, copos de água reutilizáveis e um jarro que ganha uma nova moeda sempre que alguém puxa uma fofoca, o que deve ser desencorajado. No saguão da escola, um pequeno palco convida alunos a expor suas opiniões, ao som de aplausos sempre que uma insegurança é compartilhada. E quem não recicla leva bronca.
É um mundo de faz de conta do politicamente correto, que chama a atenção justamente porque parece tirar sarro de um dos chamarizes de “Sex Education”, que contemplou praticamente todas as letras do LGBTQIA+ e suas variações em seus personagens, numa busca desenfreada por representatividade que, por vezes, foi vista como forçada pelo público.
Questionada se a nova temporada não soaria como uma paródia da própria série, Nunn diz que não. “Os roteiristas todos nos víamos como pessoas progressistas e liberais, então achamos que seria bom tirar sarro de nós mesmos. Está claro que estamos sendo engraçadinhos. Tudo foi escrito com amor, e nós sempre tiramos sarro de todos os nossos personagens.”
Essas discussões não tiraram espaço, no entanto, daquilo que batiza a série. “Sex Education” se despede apostando no alto teor sexual, embora com uma abordagem diferente daquela de várias séries adolescentes picantes disponíveis no streaming, que são gráficas para escandalizar e seduzir.
No quarto ano de “Sex Education”, não demora muito para um aluno projetar acidentalmente o seu pênis flácido num telão do colégio, ou para outro descobrir, boquiaberto, que gosta de um dedinho no traseiro na hora H. Apresentados de forma quase didática, esses dilemas fizeram o sucesso da série.
“Sempre foi importante que as cenas de sexo ajudassem a história a progredir e apresentassem coisas novas para o público. Mas o fato é que quando eu era estudante, eu não tinha aulas de educação sexual. Então queria criar uma série que fosse um antídoto para esse abismo, que falasse desses temas tão sensíveis de um jeito divertido e, tomara, um pouco educativo também.”
LEONARDO SANCHEZ / Folhapress