SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – “Meu Nome é Gal” mostra a transformação de Gracinha, uma menina baiana tímida, em Gal Costa (1945 – 2022), uma das maiores cantoras do país. A cinebiografia tem um curto recorte de tempo, mostrando o início da carreira da artista que ocorre em meio a ditadura militar.
Gal, interpretada por Sophie Charlotte, começa o filme retraída, cantando quase curvada, e termina como uma voz potente contra o regime opressor, bradando “Divino Maravilhoso”.
“Talvez o nosso filme também conte um pouco através dos olhos da Gal, como ela viveu aquele momento, como ela transitou e absorveu tudo o que estava acontecendo e transformou na sua obra, na sua arte”, disse Sophie Charlotte em entrevista coletiva.
No filme, as vozes de Sophie e Gal se misturam. Em alguns momentos, a atriz canta, em outros, dubla e em alguns momentos as transições são suaves, difíceis de perceber. Além disso, Sophie conseguiu encarnar bem as entonações e fonogramas de Gal, com uma interpretação à altura da cantora.
“Eu sempre amei cantar. Fiz aulas pontuais com a Agnes Moço, com o meu avô. Quando eu fui chamada para o projeto, mas a gente ainda não tinha o recorte, eu fiz aulas com a Mirna Rubim, no Rio, que é uma super cantora e professora. Mas para o processo do filme, eu contei muito com a ajuda da Tatiana Parra e do Otávio de Moraes, que é o nosso produtor musical do longa”, contou Sophie em entrevista exclusiva ao UOL.
“Eu mergulhei pessoalmente, intimamente, nos fonogramas, na música, na obra, tentando entender a respiração dela, a história que ela conta através das músicas. Claro que às vezes eu precisava muito de uma ajuda de soteropolitana, no caso da Dandara [Ferreira, diretora e intérprete de Maria Bethânia no filme], que é baiana, porque tem alguns Ss [a letra “S” no plural], algumas coisas que para mim eram mais difíceis”.
A cinebiografia mostra uma Gal que estava se descobrindo, tanto como artista, quanto como mulher. O filme trata a sexualidade de Gal com naturalidade, no entanto, não exibe nenhum beijo com as pessoas com quem ela se relaciona naquele período.
“Eu acho que a gente aborda de uma maneira muito natural, eu acho que isso era uma não-questão para essa turma naquele momento. A gente está falando do final dos anos 60, de uma coisa no mundo, de um período de descoberta, de um período de testes, de um período de experimentações, que assim, para eles não era questão, então para a gente também não foi”, disse a diretora Lô Politti em coletiva.
A presença e influência de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Dedé Gadelha (ex mulher de Caetano) e Maria Bethânia na vida de Gal é ponto-chave da produção. Caetano é vivido por Rodrigo Lelis, Gilberto Gil por Dan Ferrera, Dedé por Camila Márdila e há, ainda, o empresário Guilherme Araújo, vivido por Luis Lobianco.
As diretoras Lô Politti e Dandara Ferreira tentaram fugir do óbvio ao retratar uma relação saudável com um empresário, que não é, nem de longe, vilão. A produção também não foca na dicotomia de fracasso e sucesso.
“A gente sabia que a gente queria um filme que fosse levado pelo movimento interno dessa personagem. Imaginar uma menina tímida, que tinha essa dificuldade de se colocar naquele lugar, o que ela precisou ser corajosa, intuitiva, o que ela precisou se jogar, incorporar aquele lugar, transformar aquilo pelo corpo dela, era um ouro para a gente como cinema, como narrativa cinematográfica”, disse Dandara.
Gal morreu no ano passado, sem poder ver o resultado do filme ela queria ter a surpresa. A artista participou ativamente da produção do longa, e tinha “escolhido” Sophie Charlotte para o papel.
“Saber que ela tava sabendo, que ela aprovou, que ela me autorizou a fazer isso e a forma delicada com que ela nos deixou livres para realizar esse filme, porque essa liberdade de criação, pela confiança que ela tinha estabelecido, isso tudo foi muito lindo, porque é uma grande responsabilidade, mas uma grande honra também”, diz Sophie Charlotte.
“O que eu fiz foi realmente um processo de reverência, através do meu trabalho, mostrar o quanto eu amo Gal Costa e tentar contar essa história também com muita verdade, com muito sentimento, com o entendimento dessa transformação que eu acredito que a Gal Costa tenha vivido quando ela chegou como Maria da Graça”, diz Sophie Charlotte.
ANE CRISTINA / Folhapress