Como testemunho do ex-Menudo Roy Rosseló pode impactar o caso Menendez

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Roy Rosselló, de 54 anos, ex-integrante da formação clássica do grupo porto-riquenho Menudo, trouxe, pela primeira vez em 34 anos, um fato novo para a defesa dos irmãos os irmãos Menendez, Erik e Lyle, condenados à prisão perpétua por parricídio em 1996.

José Menendez, um empresário cubano que ganhou muito dinheiro nos Estados Unidos, foi o escolhido para trazer o Menudo até a gravadora norte-americana RCA, em 1983. Ele não era ligado ao mundo do entretenimento, dirigia a empresa de aluguel de carros Hertz, mas, como falava espanhol perfeito e era considerado um bom fechador de negócios, acabou escolhido para a função.

Para celebrar o contrato multimilionário, segundo conta Rosselló na série documental “Menendez + Menudo: Boys Betrayed”, exibida no ano passado pelo canal de streaming Peacock, ligado à TV NBC, e não disponível no Brasil, o empresário da banda o teria levado à casa da família Menendez, que morava em Nova Jersey, para que Roy fizesse um “grande favor para o Menudo e para ele pessoalmente”.

Roy tinha 14 anos. Ele conta que tomou uma taça de vinho branco pela primeira vez na vida no jantar na casa dos Menendez. José teria insistido que ele bebesse tudo, alegando que o vinho era muito especial e muito caro. Depois disso, ainda segundo o documentário, Roy perdeu o controle de seu corpo e não enxergava mais nada.

Percebeu que foi carregado para o andar de cima e empurrado para cima da cama. Então, perdeu a consciência. Quando acordou, estava de volta ao hotel, em Nova York, sem lembrança de como a noite teria acabado. Sentia dores fortes no ânus e tinha muito sangramento. Contou ao empresário, que não deu importância e insistiu que ele mantivesse segredo, sob pena de ser expulso da banda.

De acordo com o ex-Menudo, ele teria sido oferecido a José como um presente pelo acordo milionário feito com a gravadora americana. Com duração de seis anos, o contrato com a RCA deu ao criador e empresário da banda, o panamenho Edgardo Díaz, US$ 30 milhões.

O dinheiro mudou a vida de todos os envolvidos. Edgardo, hoje com 77 anos, passou a ter uma relação muito próxima com José. Erik e Lyle, filhos de José, disseram ao jornalista americano Robert Rand que se lembram do fascínio do pai pela banda de garotos. Foram os irmãos que mataram o pai e a mãe, Kitty Menendez, uma dona de casa, enquanto o casal assistia TV na sala de uma casa luxuosa em Beverly Hills.

O parricídio aconteceu na noite de 20 de agosto de 1989, um domingo. Lyle, na época com 21 anos, e Erik, com 18, entraram em casa com duas espingardas compradas dias antes, usando a identidade de um amigo de Lyle, e deram 12 tiros no casal, a sangue frio.

O pai morreu imediatamente, com o primeiro tiro, na parte de trás da cabeça. A mãe sobreviveu aos primeiros disparos e ainda respirava quando acabou a munição de Lyle. O jovem voltou ao seu carro, estacionado na porta da casa, recarregou a espingarda e voltou para terminar o que havia começado.

O assassinato brutal em uma área nobre da cidade virou manchete imediatamente. Os irmãos não foram considerados suspeitos de imediato, mas acabaram presos seis meses depois e confessaram o crime. O julgamento tomou conta do noticiário e foi o primeiro da história a ser televisionado ao vivo.

A defesa dos meninos se baseava nos abusos sexuais, físicos e psicológicos que alegavam ter sofrido do pai desde que tinham seis anos de idade, com o conhecimento da mãe, mas eles foram condenados à prisão perpétua, sem possibilidade de liberdade condicional, em 1996.

Os irmãos foram mantidos em prisões separadas pelos primeiros 22 anos da sentença. Hoje, estão no mesmo presídio, no sul da Califórnia, perto de San Diego. Lyle e Erik têm 56 e 53 anos, respectivamente, e já passaram 34 presos.

O depoimento de Roy dá mais força à defesa original dos irmãos Menendez, que sempre alegaram terem agido em legítima defesa, pois acreditavam que seriam mortos pelos pais quando ameaçaram levar o abuso ao público.

Por outro lado, a associação a um caso tão midiático quanto o dos Menendez pode ser proveitosa para Roy por outro motivo. O ex-Menudo procura levar à Justiça o empresário Edgardo Diáz, que teria tratado do garoto como seu namorado, obrigando-o a dormir com ele no mesmo quarto sempre que a banda viajava em turnê e abusando sexualmente dele.

José se envolvia pessoalmente no processo de seleção dos novos membros do Menudo, que eram obrigados a deixar o grupo quando completavam 16 anos. Também costumava convidar os meninos para festas, churrascos e passeios de barco. Levava os dois filhos para os shows nos Estados Unidos e depois para cumprimentar os meninos nos bastidores.

Segundo conta Erik Menendez, seu pai era obcecado pelo Menudo, apesar de, depois de passar a trabalhar exclusivamente com showbusiness, ter artistas do calibre da dupla inglesa Eurythmics e o cantor americano Barry Manilow no seu catálogo.

A banda existiu de 1977 a 1996, mas teve seu auge nos anos 1980, quando Robby Rosa, Ray Reyes, Charlie Massó e Ricky Martin compunham o quinteto,

No segundo episódio da série documental sobre o ex-Menudo, aparece uma foto de José Menendez no estádio do Morumbi, em São Paulo, em um show da banda em 1985. Roy estava no grupo nessa época, quando os maiores hits pareciam tocar em todas as rádios ao mesmo tempo. Eram músicas como “Não Se Reprima”.

Erik diz se lembrar de um dos meninos ter sido levado ao andar de cima da casa de sua família por seu pai, que alegou querer tratar de um assunto pessoalmente. Levar ao segundo andar da casa era quase um código de José Menendez, já que era na parte de cima da casa da família que ele levava os filhos para toda sorte de abusos, de sessões de massagem íntima a sexo anal violento.

Roy tem um apreço especial pelo Brasil, onde morou por muitos anos depois de sair da banda porto-riquenha. Foi no país que teve seus cinco filhos, cada um com uma mulher diferente. Foi aqui também que abriu uma loja de bijuterias em um shopping na cidade de Campinas e, anos depois, uma lanchonete em Porto Alegre. Fez parte do elenco do reality show “A Fazenda”, da TV Record, em 2014, e foi preso por dois dias durante a exibição do programa, por falta de pagamento de pensão a um dos filhos.

Há dois anos, ele se mudou para Miami, onde mora a maior parte de sua família, para acompanhar de perto do processo que move, na Justiça americana, contra o seu ex-empresário.

TETÉ RIBEIRO / Folhapress

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