Comoção e velórios em série zeram estoque de flores em serviço funerário de Cascavel (PR)

CASCAVEL, PR (FOLHAPRESS) – Em frente à floricultura que funciona há 35 anos no setor de serviços funerários em Cascavel (PR), Adelino Braz perguntava a uma assistente da loja ao lado se seus dedos estavam doídos de tanto cortar flor. “É a primeira vez nesses anos todos que temos esse volume de pedidos de uma só vez”, disse nesta quarta-feira (14).

Entre as 62 vítimas do acidente com o avião da Voepass, que caiu na última sexta (9) em Vinhedo (SP) pouco antes de pousar no aeroporto de Guarulhos, 28 viviam em Cascavel e arredores. Os velórios em série das vítimas aliados à comoção local fizeram esgotar o estoque das floriculturas especializadas em serviços funerários.

“Tivemos que ir até Ubiratã [PR], fazer uma hora e meia de viagem, para ir até nosso fornecedor que só chegaria aqui no dia seguinte”, conta Adelino Júnior Braz, um dos filhos que administra o negócio de família fundado pelo pai. “Senão, não conseguiríamos fazer todas as entregas.”

Apesar de manter flores em estoque por lidar com uma demanda imprevisível, Hudson Campos Braz, outro filho que trabalha na floricultura, afirmou que, em virtude do acidente aéreo, pela primeira vez o planejamento não foi suficiente.

Em uma rua próxima, um caminhão refrigerado trazia as encomendas direto de Holambra (SP). O abastecimento de flores, que costuma ser feito três vezes por semana na cidade, precisou ser intensificado.

A floricultura da família Braz calcula ter feito 60 coroas só nesta terça-feira (13), quando o casal Antonio e Kharine Zini foram velados. No salão do Clube Comercial de Cascavel, o espaço não foi suficiente para acomodar as centenas de coroas enviadas por familiares, amigos e empresários da região, e parte dos arranjos foi enfileirado no corredor.

Dois caminhões foram destacados para transportar os arranjos do velório para o cemitério central da cidade, onde o casal foi sepultado.

A acelerada produção de coroas também atendeu os velórios de outras quatro vítimas, cujos corpos que chegaram à cidade em voos da FAB (Força Aérea Brasileira) entre a terça e a quarta -a influenciadora digital Ana Caroline Redivo; o casal Maria Valdete e Renato Bartini; e a escrevente Adriana Maria Dalfovo Santos.

“Fizemos de tudo para não faltar flores, porque imaginamos a vontade dos clientes de homenagear as vítimas. Os arranjos são uma maneira de externar o sentimento”, dizia Júnior Braz enquanto montava mais uma coroa a ser enviada para um dos velórios.

Entre as espécies mais pedidas estão rosas, lírios, gérberas e antúrios, consideradas mais nobres e usadas em modelos de coroas mais caras, que chegam a custar R$ 1.200. O preço das versões intermediárias variam de R$ 400 a R$ 600.

Com a câmara fria vazia, a gerente de outra floricultura teve que fazer novos pedidos às pressas aos fornecedores. “Nem sei quantas coroas fizemos de ontem para hoje. Não tivemos tempo nem de colocar tudo no sistema ainda”, afirmou Nira Figueiredo.

Com a alta demanda, Campos Braz disse que preferiu anotar todos os pedidos à mão em um caderno. “Até colocar tudo no computador, ia perder tempo. Assim vai mais rápido.”

As faixas com frases e nomes encomendadas pelos clientes são impressas na própria loja, em uma impressora. “Agilizou bastante, antes tínhamos que colar letra por letra”, disse Campos Braz.

Em Cascavel, o serviço funerário é administrado pela prefeitura, que dispõe de apenas quatro capelas espalhadas pela cidade. Como forma de dar vazão aos velórios simultâneos, o prefeito Leonaldo Paranhos (Podemos) disponibilizou às famílias o centro de eventos municipal para a organização de um velório coletivo, mas a proposta foi recusada pelos parentes. Das 22 vítimas de Cascavel, 18 optaram por fazer as homenagens fúnebres em locais particulares.

MARIANA ZYLBERKAN / Folhapress

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