SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A companheira do motociclista Pedro Kaique Ventura Figueiredo, 21, que morreu após ser atropelado por um motorista de um Porsche amarelo, lamentou a perda do companheiro em declarações nas redes sociais.
“Estou sem chão”, escreveu Kailany Costa. Em uma das fotos compartilhadas ao lado de Pedro, ela afirmou que guardará eternamente os momentos que eles viveram juntos e agradeceu pelo companheiro ensiná-la sobre o que era amor “de verdade”. “Você me ensinou tudo, amor, menos a viver sem você.”
Ela destacou história “linda” que estava construindo com Pedro. “Fui em casa e estava vazio sem você. Não consigo. Tudo me lembra você, me lembra nós dois e tudo que ainda íamos construir juntos”, escreveu a jovem. Ela também postou uma foto que tirou com o companheiro no domingo (28).
Pai de Pedro também lamentou a morte do filho e afirmou que nada justifica ele ter sido atropelado. “Por mais que ele tenha quebrado o retrovisor, não justifica ele ter tirado a vida do menino. A vida vale um retrovisor? Agora ele vai poder voltar atrás e trazer meu filho para dentro de casa, para dentro da família? Meu filho está lá deitado no necrotério e eu não posso fazer nada”, disse Alex Lúcio Figueiredo, que conversou com a imprensa em frente ao 48° DP (Cidade Dutra).
A vítima deixa a companheira e um filho de três anos, de outro relacionamento. Segundo o pai, Pedro voltava da residência da irmã quando foi atingido pelo motorista na avenida Interlagos, na zona sul de São Paulo.
“Você não me prometeu que íamos construir uma vida juntos? E agora tiraram você de mim. Essa dor não passa, uma dor insuportável que nunca senti antes. A ficha não cai. Minha eterna gratidão por tudo que você já fez por mim. Que bom que eu te falava todos os dias o quanto eu te amava. E você também. É o que me conforta. Eu não mudei a sua vida. Foi você que mudou a minha”, disse Kailany Costa, companheira de Pedro.
A reportagem apurou que o velório e enterro de Pedro Kaique estão previstos para ocorrer a partir da manhã de terça-feira (30) em um cemitério de Parelheiros, na zona sul de São Paulo.
DEFESA DE MOTORISTA FALA EM ‘FATALIDADE’
Advogado de Igor afirmou que o motorista voltava do trabalho quando aconteceu a colisão. Ao deixar a delegacia na tarde desta segunda-feira (29), Carlos Bobadilla disse à imprensa que Igor é “um cara trabalhador, honesto, do bem, que jamais teve qualquer antecedente criminal em toda a sua vida”. Defensor também reforçou que o suspeito não estava bêbado.
“O que aconteceu foi uma fatalidade e ele, infelizmente, veio a colidir com a motocicleta da vítima. Infelizmente aconteceu essa fatalidade. Não teve nenhum dia de fúria. E o que importa é que ele não estava alcoolizado. O exame do bafômetro saiu zerado. Toda a narrativa que eu já cheguei a ouvir, inclusive aqui na delegacia, de que ele estava bêbado e provocou esse acidente, é inverídica porque ele estava sóbrio, voltando do trabalho”, disse Carlos Bobadilla, advogado de Igor, à imprensa.
Familiares de Pedro demonstraram revolta durante a saída do defensor do motorista do distrito policial.
CÂMERAS DE SEGURANÇA REGISTRARAM A COLISÃO
Um vídeo de câmera de segurança mostrou o suspeito perseguindo a moto. A motocicleta ficou completamente destruída após a colisão. O Porsche, do ano 2018, aparece atravessado na avenida.
Pedro Kaique Ventura Figueiredo não resistiu aos ferimentos. O jovem foi socorrido ao Hospital do Grajaú, mas veio a óbito. A namorada do motorista, que estava no banco do passageiro, foi socorrida para um pronto-socorro. Ele teve ferimentos leves.
O acidente teria ocorrido após uma briga de trânsito. Em alta velocidade, as imagens flagraram o momento da batida entre o carro e a moto, jogada contra o muro de um canteiro.
Ao ser contestado por testemunhas, suspeito disse que ”foi fechado” pelo motociclista. Logo após a batida, pessoas que presenciaram a cena foram confrontar o condutor da Porsche e registraram um vídeo, que circula nas redes sociais.
Motorista saiu normalmente do carro. ”Você matou o cara da moto por causa do retrovisor do seu carro”, disseram populares ao suspeito. O condutor nega a eles que esse tenha sido o motivo.
Suspeito fez teste do bafômetro e teve resultado negativo. Perícia esteve no local, informou a SSP (Secretaria de Segurança Pública).
Igor foi preso em flagrante após alteração da polícia. O caso, registrado inicialmente como homicídio culposo (quando não há intenção de matar), foi encaminhado para outra delegacia e alterado para homicídio com dolo eventual, por motivo fútil, (quando o agente não tem a intenção direta de provocar a morte, mas assume o risco desse resultado ao realizar uma conduta perigosa). Com a mudança, o motorista, que seria posto em liberdade, permaneceu preso em flagrante e passará por audiência de custódia na terça-feira (30).
Além disso, a ocorrência também foi registrada como lesão corporal culposa. A reportagem entrou em contato com a SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo para saber se a tipificação de lesão corporal segue como culposa, mas foi informada que detalhes do caso serão repassados em entrevista coletiva na tarde desta segunda-feira (29).
Motorista de Porsche citou ‘conduta suspeita’ de motociclista em depoimento. Em oitiva, obtida pelo UOL, Igor afirmou que perseguiu a moto e, em determinado momento, Pedro estava na sua frente, mas mudou de faixa “abruptamente”. Ele explicou que tentou evitar a colisão torcendo o volante para a direita, mas que não conseguiu e atingiu a parte traseira da moto.
Delegado fala em ‘momento de fúria’
O delegado afirmou que o condutor teve um “momento de fúria” e acelerou o carro. A defesa nega. O delegado responsável pela investigação, Edilzo Correia, disse que a velocidade do Porsche era “excessiva”. “Teve um momento de fúria. Razão pela qual perseguiu o motoqueiro após ter sentido que o seu veículo teve o retrovisor machucado por aquele motociclista. Então, ele acelerou, a gente vê pelas imagens, que a velocidade do Porsche era excessiva”, declarou em entrevista ao Brasil Urgente, da TV Bandeirantes.
O motorista da Porsche também apresentou versões contraditórias. “Ele foi confrontado novamente e disse que a colisão só ocorreu porque a moto se aproximou muito do veículo dele, na segunda versão apresentada por ele. Analisamos diversas imagens, fizemos oitivas de testemunhas e chegamos à conclusão de que a versão que ele apresentou inicialmente era contraditória, não se sustentava, porque ele acelerou o veículo e foi para cima da moto”, afirmou o delegado.
BEATRIZ GOMES, EDUARDA ESTEVES E LUANA TAKAHASHI / Folhapress