Compare o poderio militar de Israel e do Irã

JERUSALÉM, ISRAEL (FOLHAPRESS) – Com o Oriente Médio envolvido em uma guerra regional de fato, os olhos se voltam para as capacidades militares e cenários de engajamento dos dois atores centrais da disputa: Israel e o Irã.

Ambos agregam respeitáveis instrumentos para conduzir guerras, mas eles são bastante diferentes entre si e, principalmente, no tipo de conflito que pretendem travar.

Começando por Israel: o mais forte componente bélico é sua capacidade combinada de defesa e ataques aéreos, já vista em ação ao longo deste ano de conflito disparado pelo 7 de Outubro do Hamas palestino.

Quando o assunto é se defender, as dezenas, quando não centenas de foguetes diários lançados pelo Hezbollah desde que a guerra com o Líbano escalou, há duas semanas, são testemunha da eficácia do sistema de curto alcance israelense, o Domo de Ferro.

Já os dois ataques diretos de Teerã a Israel, em 13 de abril e 2 de outubro, foram defendidos com sucesso com o emprego de baterias Funda de Davi, de médio alcance, e Flecha, que pode abater alvos a 1.500 km de distância -inclusive, fora da atmosfera, como os mísseis balísticos empregados de forma maciça na terça passada. Além deles há quatro baterias do Patriot americano, bastante precisas.

Por óbvio, quando ocorrem ataques de saturação, com muitos mísseis jogados sobre um alvo ao mesmo tempo, isso nunca será 100% eficaz. Sugerem isso as imagens da base aérea de Nevatim, no deserto do Negev, sendo atingida várias vezes, ainda que Israel negue ter havidos danos significativos.

Lá ficam os mais valiosos ativos aeroespaciais de Israel: a frota de 39 caças de quinta geração americanos F-35I, chamados localmente de Adir (águia, em hebraico). São os mais sofisticados aviões do país, vistos em ação contra alvos como o porto iemenita de Hodeidah.

Nenhum dos dois países usaria forças terrestres num embate. Israel tem um dos melhores tanques do mundo, o Merkava-4, ora empregado em Gaza e no Líbano. O Irã tem modelos mais antigos de origem soviética, um arsenal obsoleto e cheio de improvisações –ainda que grande, com 1.513 tanques pesados, ante 400 israelenses.

Numericamente, o Irã tem o maior efetivo da região, 610 mil soldados, ante 169,5 mil de Israel. Na sua avaliação anual das Forças Armadas do mundo, o IISS (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, na sigla inglesa) apontou que o estado geral aparente das capacidades iranianas é de obsolescência.

O país ainda voa com caças comprados dos EUA quando Washington era uma aliada, antes da Revolução Islâmica de 1979.

A presença dos F-14 Tomcat, talvez dez em condições de uso, é tão inusitada que foi parar de forma disfarçada no filme “Top Gun: Maverick”, no ano retrasado. Isso deve mudar com a chegada de modernos Su-35 russos, mas o negócio é obscuro e lento.

As defesas aéreas iranianas são mais antigas, mas não desprezíveis. As camadas de longa distância são cobertas pelo sistema soviético S-200 e suas variações, com 42 baterias. Há depois modelos de médio e curto alcances.

O IISS, de Londres, aponta um calcanhar de Aquiles de Tel Aviv: a dependência do fornecimento de equipamento americano. É fato que Israel tem uma sofisticada indústria de defesa, que somou US$ 13 bilhões em encomendas externas no ano passado.

Mas muito é feito no campo de integração de sistemas e software. Sua indústria aeronáutica é avançada, mas trabalha adaptando sistemas israelenses a aviões estrangeiros, mostrando força contudo no campo dos drones e inteligência cibernética.

Os iranianos são igualmente inovadores, sob suas condições específicas: manter operacionais aviões de mais de 40 anos de idade, por exemplo. Mas, como todo país de olho no futuro do campo de batalha, o Irã investiu pesado também em aviões não tripulados.

Seu trunfo, de todo modo, são os mísseis balísticos. Relatório do Congresso americano estimou em 3.000 os modelos mais modernos nas mãos de Teerã. Eles vão de versões de curto alcance até os Khorramshahr, que alvejam objetivos a mais de 2.000 km.

Nos dois ataques deste ano contra Israel, é quase certo que foram empregados Shahab-3, que levam ogivas de uma tonelada de explosivos a cerca de 1.000 km de distância -o limite para o Irã alvejar Tel Aviv a partir de sua fronteira oeste.

Em ambos os casos dos rivais, a política de alianças é vital. Aqui a vantagem de Israel é, no papel, insuperável, com os EUA a seu lado. A maior potência militar da história reforçou sua presença na região e, na semana que vem, terá dois grupos de porta-aviões no Oriente Médio. A dissuasão, que vinha funcionando ao longo da guerra, parece estar no seu limite operacional.

Se Washington entraria no conflito, esta é outra história, mas sua participação no abate de mísseis nos dois ataques iranianos sugere um caminho -liderar uma coalizão com parceiros árabes como Jordânia e Arábia Saudita, que deseja ver Teerã pelas costas.

Já do lado iraniano, a guerra já tem sido está sendo lutada por prepostos alinhados no dito Eixo da Resistência, nome fantasia aos aliados regionais da teocracia: Hamas, Hezbollah, houthis do Iêmen, Síria, grupos no Iraque e na Cisjordânia. Até agora não se viu uma ação realmente coordenada entre eles. Se ocorrer, a saturação de defesa aérea fará ser ainda mais importante uma operação conjunta de Israel e aliados.

IGOR GIELOW / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS