SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Complexo Cultural da Funarte em São Paulo foi inundado durante um temporal que atingiu a cidade na tarde desta quarta-feira (27).
Um vídeo feito em uma das salas de ensaio da instituição mostra uma grande quantidade de água caindo em vários pontos do teto e escorrendo também pela parede.
É possível ver um balde no chão para tentar conter o aguaceiro, enquanto poças se formam no carpete.
Em nota, a instituição diz que tem como prioridade a segurança em todos os seus equipamentos e que as obras de reparo do local devem começar na segunda quinzena de dezembro.
Em julho, a Folha de S. Paulo mostrou que problemas estruturais castigam o complexo, considerado o berço da vanguarda paulista.
À época, servidores ouvidos pela reportagem sob condição de anonimato disseram que a deterioração do local se arrasta há anos, mas que o processo piorou a partir de abril deste ano.
Foi quando a sala multiúso Carlos Miranda e o auditório Guiomar Novaes precisaram ser interditados depois que outro temporal agravou as infiltrações, que são um problema crônico do imóvel.
Com a chuva, o forro que reveste a cabine de som e luz cedeu, abrindo um buraco pelo qual a água entrou no local. Aconteceu um problema semelhante na sala multiúso. A água começou a escorrer por paredes com tomadas, gerando nos funcionários o medo de acidentes. Por precaução, eles decidiram interditar ambos os ambientes, que seguem fechados até agora.
Isso, porém, prejudicou a programação do complexo, que reduziu atividades como peças de teatro e apresentações musicais em razão da escassez de espaço. Servidores disseram que as interdições devem reduzir o número de visitantes, que varia entre 11 mil e 12 mil por ano.
Segundo eles, as infiltrações acontecem porque as calhas não comportam o volume de água que o imóvel recebe. O problema teria tido origem em um erro de cálculo ocorrido em uma reforma feita entre 2004 e 2007. Por esse motivo, é preciso trocar as calhas, além de sete telhados.
O espaço é considerado fundamental para compreender a vanguarda paulista, movimento musical que ganhou fôlego nos anos 1980. Artistas como Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção começaram suas carreiras na sala Guiomar Novaes, que está interditada atualmente.
Jorge Mautner lançou no centro cultural o disco “O Ser da Tempestade”, que marcou a comemoração de seus 40 anos de carreira.
Esta não é a primeira vez que a Funarte se vê às voltas com a degradação estrutural. Em 2021, um prédio da autarquia no centro do Rio de Janeiro precisou ser interditado por causa das más condições físicas.
O local abrigava o Centro de Documentação e Pesquisa, o Cedoc, que guarda um acervo com mais de 2 milhões de itens, entre livros, periódicos e fotografias.
Em janeiro deste ano, a instituição começou a transferir os itens para a Casa da Moeda, onde o Cedoc funcionará. A mudança deve ser concluída em setembro.
A Funarte, ligada ao Ministério da Cultura, é uma autarquia criada em 1975 para formular e executar políticas públicas nas áreas de circo, dança, teatro, música e artes visuais. Em 1977, a entidade abriu uma representação em São Paulo e ocupou o imóvel no bairro dos Campos Elíseos no qual está instalada até hoje.
MATHEUS ROCHA / Folhapress