SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O consumidor que deixou para comprar presentes de Natal na tarde deste sábado (23) não se viu sozinho nos grandes shoppings de São Paulo.
O fluxo de clientes lotou estacionamentos, lojas, praças de alimentação e filas para ver o Papai Noel, embora estabelecimentos de regiões centrais tenham amargado uma tranquilidade pouco bem-vinda para esta época do ano.
A expectativa, de acordo com a CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas), em levantamento feito com o SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), era de que 15,3 milhões de pessoas no país mantivessem a tradição de deixar as compras de Natal para a última hora.
A reportagem da Folha de S.Paulo esteve em cinco shoppings de São Paulo -três da zona oeste, um da sul e um na avenida Paulista-, e a projeção de movimento se concretizou para alguns.
Para outros, especialmente de regiões comerciais, a queda de fluxo em meio ao recesso das empresas amargou as expectativas de vendas.
“Tivemos muitos clientes ao longo da semana, sobretudo na quinta-feira, quando o 13º salário caiu. Mas hoje, mesmo que não falte cliente na loja, está muito mais tranquilo do que esperávamos”, diz Renata Lopes, gerente da loja O Boticário do shopping Metrô Santa Cruz.
A justificativa, para ela, recai no fato de que boa parte dos consumidores aproveita o caminho de volta para casa, no metrô, para fazer compras. Aos fins de semana, o movimento no transporte público reduz, o que afetou o caixa.
Para a supervisora no grupo Havaianas Daniele de Souza esse também foi o caso para a unidade do shopping Cidade São Paulo, na Avenida Paulista. “[O ano de] 2023 tem sido nosso melhor ano desde a pandemia, mas ainda está abaixo do esperado. O movimento foi mais fraco hoje em comparação ao resto da semana, porque estamos em uma região comercial e o pessoal já folgou para o final de ano.”
Nos shoppings da zona oeste, porém, a quantidade de pessoas empunhando um número sem fim de sacolas não esconde a proximidade com o Natal. Pouco depois de o shopping Eldorado abrir, Gilberto Chacur, 56, já batia perna pelos corredores.
“Cheguei assim que abriu, para fugir do caos. Já tinha comprado presentes antes, mas precisei voltar para comprar alguns que faltaram para minha família”, afirma.
Muitos tiveram a mesma ideia. Às 10h da manhã, lojistas da PBKids já lidavam com filas nos caixas.
“Hoje está mais cheio do que ontem, e a expectativa é que amanhã tenha ainda mais gente. Todo ano é assim: o pessoal deixa para comprar de última hora e a gente já vem preparado”, afirma Eduardo Marinho, atendente da loja especializada em brinquedos infantis.
Segundo ele, os itens preferidos da clientela são carrinhos Hot Wheels, brinquedos da Lego, bonecas Barbie e Monster High -alguns já sem estoque na loja.
Os pais também se dividiram para ver o Papai Noel, que chegou pontualmente às 12h para ouvir o que a criançada queria de presente. Às 11h40, a fila para ver o bom velhinho já dobrava o corredor da praça natalina, decorada com árvores altas, muitas luzes e pontos de selfie.
Além do movimento, outra expectativa se confirmou: a do tíquete médio.
Uma pesquisa realizada pela Abecs, associação que representa empresas do setor dos meios eletrônicos de pagamento, apontou que o brasileiro deve desembolsar, em média, R$ 418 em compras de Natal neste ano, movimentando mais de R$ 43 bilhões ao todo.
Os shoppings visitados apostaram em sorteios de carros zero e brindes a cada R$ 600 consumidos -e, em todos, os brindes estavam esgotados há mais de uma semana.
No shopping Morumbi, consumidores lotavam lojas de grife e amontoavam sacolas nos dois braços, comprovando que, ao menos para a classe média-alta, os dias de crise econômica parecem ter ficado no passado.
No entanto, para o casal Priscila Pantaleão, 39, e Ricardo Lopes, 58, o dia de compras foi de frustração. “Chegamos de viagem dos Estados Unidos há uma semana. Coisas que estavam por US$ 10 lá estão por R$ 599 aqui”, disse Priscila, ao que o marido complementou: “É muito imposto, muito abuso”.
O destaque ficou com o setor de cosméticos, que tem vivido um bom momento.
“Cheguei chorando de felicidade na loja hoje”, conta Stefani Mendes, gerente da Natura Morumbi, primeira loja física inaugurada da marca. “Esse foi o melhor dezembro da loja em sete anos de existência. Todas as semanas deste mês tiveram muito movimento.”
Na L’Occitane do shopping VillaLobos, lojistas não tiveram tempo nem de repor estoque.
“As pessoas estão comprando o que tem agora. Tem tido tanto movimento que aumentamos a nossa meta para 110%, e a expectativa é que bata até 120% amanhã”, diz a gerente Sami Nascimento.
TAMARA NASSIF / Folhapress