BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, defende a oferta de uma linha de crédito subsidiada para que emissoras de televisão consigam se adaptar à chamada TV 3.0, a próxima etapa de evolução após a migração do sistema analógico para o digital.
Nesta quarta-feira (3), o ministério irá apresentar em um evento o que a nova tecnologia promete oferecer, como incremento de imagem (de 4k a 8k, contra o atual full HD dos canais abertos digitais) e som, além de interatividade, com a possibilidade, por exemplo, de realização de compras na TV aberta usando o controle remoto.
A expectativa do ministério é a de que até o final do ano seja anunciada a tecnologia escolhida para o novo modelo, a japonesa Advanced ISDB-T ou a norte-americana ATSC 3.0.
Em 2006, no primeiro mandato de Lula (PT), os japoneses foram os escolhidos na implantação da TV digital no país, processo que ainda não está concluído.
Em dezembro, o governo prorrogou até junho de 2025 o prazo de encerramento das transmissões analógicas de TV aberta em mais de mil cidades.
“A TV 3.0 é uma evolução da TV digital. É uma televisão ainda mais tecnológica, com mais ferramentas, inovações, é a TV aberta com uma qualidade de imagem muito melhor, com qualidades 4K, 8k, com som imersivo, que é o som que você vê numa sala de cinema, por exemplo”, diz Juscelino Filho.
“Uma das grandes novidades é justamente a questão da interatividade. Você vai ter uma televisão conectada. Por exemplo, passou uma propaganda e você se interessou naquele produto. Você vai poder buscar na própria tela e comprar, como numa tela de um computador.”
O modelo promete ainda a possibilidade de as emissoras de TV aberta segmentarem de forma mais sofisticada a sua programação e a veiculação de anúncios.
Assim como ocorre atualmente nas Smart TVs em relação às plataformas de streaming de vídeo, como Netflix e Amazon Prime, o modelo levará a TV aberta a deixar de usar números de canais e ser acessada por meio de aplicativos instalados nas TVs.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico publicada no início de março, o diretor-presidente da Globo, Paulo Marinho, afirmou que o novo formato “derruba as barreiras entre a TV e o universo digital” e que a empresa irá aderir e investir na TV 3.0.
Ressaltando as duas décadas de migração do sistema analógico para o digital, o ministério não estabelece um prazo de implantação da TV 3.0 nem quando as primeiras localidades passarão a ter acesso ao novo modelo.
Além da definição do novo padrão tecnológico, há uma discussão ainda sobre as fontes de financiamento que emissoras de TV precisarão para a implantação da nova tecnologia, como a compra de novos equipamentos e de linhas de transmissão.
“A gente sabe da importância dessa inovação, mas ao mesmo tempo precisa de muito investimento para isso tornar-se uma realidade. Não há previsão hoje em linhas de crédito para os sistemas de comunicação investirem nisso, então essa é uma discussão que a gente pretende abrir internamente com bancos de fomento do governo, como o BNDES, e bancos regionais”, diz o ministro.
O secretário de Comunicação Social Eletrônica do Ministério, Wilson Diniz Wellisch, afirmou que há conversas também com BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) nesse sentido.
De acordo com o Ministério das Comunicações, há atualmente no país outorgas a 677 geradoras (emissoras que produzem a programação) de TV digital e 16.072 a retransmissoras desses canais, além de 117 emissoras e 4.800 retransmissoras que ainda usam o padrão analógico.
A decisão final para a escolha da tecnologia, a japonesa ou a norte-americana, caberá ao presidente Lula.
Atualmente, o Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD) –formado por representantes do governo e das empresas de radiodifusão e transmissão, das que fabricam TVs e receptores– é quem coordena tecnicamente o processo que irá indicar a tecnologia a ser usada.
As discussões para a implantação da TV 3.0 começaram em 2021, no governo Jair Bolsonaro (PL).
Além das tecnologias japonesa e norte-americana, o ministério afirma que há ainda uma possibilidade de que a europeia 5G Broadcast, desclassificada na fase 3 de testes, possa retornar ao páreo caso a sua tecnologia seja atualizada a tempo.
RANIER BRAGON E ADRIANA FERNANDES / Folhapress