Conceição Evaristo tem fila digna de popstar na Flip e diz que trabalha em rap

PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – Ninguém atraiu mais as atenções no centro de Paraty na manhã nublada deste sábado (25) do que a escritora mineira Conceição Evaristo. Às 10h10, minutos antes de começar um evento com a presença dela na Casa Estante Virtual, uma fila de cerca de 300 metros se formava pelas ruas de pedra sabão.

Ao se dar conta da quantidade de gente à espera da apresentação da romancista de 76 anos, um leitor desistiu e comentou que a fila estava maior que as dos shows da cantora americana Taylor Swift no Rio de Janeiro e em São Paulo.

O salão onde Conceição estava foi insuficiente para o público. Assim, as pessoas ocuparam os demais cômodos da casa, onde foram instaladas caixas de som -se seria inviável vê-la, era possível ao menos ouvir as histórias da autora.

A rua também ficou tomada por admiradores de Conceição, que esticavam o pescoço para acompanhá-la através das janelas. “Ela deveria falar para o público em um lugar mais amplo”, disse a professora aposentada Maria Antonia Freitas da Silva, de 77 anos, que veio de Salvador para Paraty principalmente para acompanhar Conceição.

A julgar pelos aplausos recorrentes, a espera valeu a pena. O público reagiu com entusiasmo quando Conceição disse que estava preparando um rap. “Alguns rappers demonstraram interesse em gravar, Emicida foi um deles”, disse ela à Folha logo depois da palestra. “Vai se chamar ‘Rap da Experiência”.

Durante a fala, fez pontes entre o passado e o presente da cultura negra no Brasil. “Emicida rompe a tradição ao dizer ‘é nóis’, o que é visto como erro pela norma culta. Ele incomoda os puristas, assim como Carolina de Jesus, que havia criado neologismos em seus livros. Por que Guimarães Rosa podia e Carolina não?”, questionou.

Conceição também comentou o recém-conquistado prêmio Juca Pato de intelectual do ano. “Não posso ser uma exceção. No ano que vem, os intelectuais brancos vão ficar quietinhos no lugar que eles têm e premiarão novamente uma negra ou um negro”, desafiou.

Autora de romances, como “Ponciá Vicêncio” (2003) e “Canção para Ninar Menino Grande” (2022), e volumes de contos, como “Olhos d’Água” (2014), Conceição discorreu sobre a presença da morte na sua literatura. “Tenho fama de ser assassina, muitos personagens meus se encontram na morte. Mas é uma morte que está clamando pela vida. A vida continua”, disse. “Precisamos ter uma outra compreensão da morte.”

No primeiro lugar da fila de autógrafos, que aconteceu logo depois da apresentação, a professora e poeta Benilda Amorim contou que “Insubmissas Lágrimas de Mulheres” é seu livro preferido de Conceição, autora que acompanha atentamente desde 2017. Amorim também tinha vindo de Salvador para acompanhar os debates da Flip.

Também no sábado, a professora pretendia assistir ao debate com Conceição e a também romancista Eliana Alves Cruz na Casa da Utopia, às 17h. Antes, às 14h30, a autora mineira falou com a jornalista Luciana Barreto na Casa Publish News.

No domingo, último dia da Flip, às 10h, Conceição vai ao Sesc Santa Rita para comentar o livro “Macabéa, Flor de Mulungu”, em que reinterpreta a personagem de Clarice Lispector.

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NAIEF HADDAD / Folhapress

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